sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Testemunho de Randal Os A nos C ríticos 1975 – 1997 Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados

O Testemunho de Randal sobre:

Os A nos C ríticos 1975 – 1997
Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados
por Randall Watters
Várias descobertas independentes acerca da cronologia incorreta de 607 AC–1914 DC, que é a própria base de grande parte da doutrina da Sociedade Torre de Vigia referente à sua própria autoridade, foram abafadas pelo Corpo Governante no fim da década de 70. Quando toda a informação chegou ao conhecimento de muitos membros da família de Betel em 1979–1980, e alguns falaram a outros sobre o assunto, começou uma monumental caça às bruxas com o objectivo de calar os que falavam do encobrimento.
Charles Taze Russell teria um choque bem grande se pudesse ver como é hoje a organização que fundou em 1879. Tendo tido um começo modesto, a Watchtower Bible & Tract Society [Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados] tem crescido rapidamente, especialmente desde o início da década de 1970. Tendo antes de 1900 uma circulação de 6000 cópias, a revista The Watchtower [A Sentinela] tem atualmente uma circulação superior a 20 milhões por edição e a revista Awake! [Despertai!] tem 19 milhões. Qual tem sido a razão para este rápido aumento?
Por um lado, as Testemunhas de Jeová têm um conjunto de ofertas atrativas. Elas oferecem ao morador vida eterna numa terra paradísica e talvez citem as Escrituras para o provar. Elas oferecem-se para estudar a Bíblia com pessoas interessadas e usam uma das publicações da Watchtower Society [Sociedade Torre de Vigia], como por exemplo Knowledge That Leads To Everlasting Life [O Conhecimento Que Conduz à Vida Eterna]. Como a Bíblia é apresentada de forma simples, o morador é levado a encontrar respostas a perguntas a que as igrejas parecem não conseguir responder. A nova pessoa interessada está agora pronta para desafiar os seus amigos e parentes a respeito das crenças religiosas tradicionais deles, e mal pode conter o que está aprendendo. Os seus amigos e parentes tornam-se defensivos, pois os seus sistemas de crença estão sendo ameaçados. O novo convertido é avisado que mesmo a sua família pode persegui-lo e falar mal dele, segundo 1 Pedro 4:4. Subitamente, o Natal e a Páscoa tornam-se feriados pagãos cuja celebração é proibida. Saudar a bandeira é idolatria e as transfusões de sangue são contra as regras, mesmo em situações de vida-ou-morte. Em apenas seis meses, a vida da pessoa pode ser radicalmente transformada de tal forma que fica irreconhecível para aqueles que antes eram seus amigos.
Não era assim no início. C. T. Russell era contra organizar a sua própria religião, ou pelo menos ele disse isso (veja The Watchtower [A Sentinela], 1895, p. 216; veja também 1894, p. 384 e 1893, p. 266). Ele também observou:
“A tentativa de obrigar todos os homens a pensar da mesma maneira em todos os assuntos culminou na grande apostasia e no desenvolvimento do grande sistema papal, e assim o evangelho, a própria fé que Paulo e os outros apóstolos estabeleceram, foi perdida — enterrada sob o monte de decretos não inspirados de papas e de concílios. A unidade da igreja primitiva, baseada simplesmente no evangelho e mantida unida apenas pelo amor, deu lugar à servidão à igreja de Roma... Cada novo movimento reformista (como o Protestantismo) falhou ao tentar tornar um credo suficientemente amplo para que lá coubessem os seus fundadores.” — Watchtower (A Sentinela), Setembro 1893, p. 1572.
A respeito da razão porque as organizações não funcionam:
“...nós sublinhámos repetidamente a tendência das pessoas Cristãs para a união, mostrando também que tal união está predita nas escrituras; mas que os seus resultados, embora se pretendam bons, serão realmente maus; e isto porque será uma união mecânica em vez de uma união de coração.” — Watchtower (A Sentinela), Março de 1893, p. 1504.
Os “Estudantes da Bíblia,” como eram chamados no princípio, podiam ir a outras igrejas e celebrar o Natal. No entanto, cinco presidentes e noventa anos depois, a Watchtower Bible & Tract Society [Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados] está virtualmente irreconhecível em relação às suas origens. Jactando-se de ter mais de cinco milhões de membros ativos e numerosas empresas, a Watchtower é uma grande indústria que mantém um controle apertado sobre os seus registos financeiros bem como sobre as suas políticas internas.
Em meados dos anos 70, alguns membros da Sociedade começaram a questionar o seu sistema de datação, nomeadamente os seus cálculos dos “Tempos dos Gentios.” Os problemas começaram quando alguns homens foram encarregados de escrever o livro Ajuda ao Entendimento da Bíblia (Aid To Bible Understanding), um dicionário de termos bíblicos para as Testemunhas. Ao cronológico de datas para os “últimos dias,” as investigações históricas pesquisaram o seu sistema e se provaram sem margem para a data de 1914, (supostamente o regresso invisível de Cristo) acrescentando mais dúvidas que a sua data era esta e que eles tinham chegado a esta data através de uma série de cálculos sem relação entre si, da Guerra Mundial. Tinha-se contando 2520 anos Jerusalém em 607 AC até ao ano 1914 DC. Mas o que estragou os cálculos foi desde a destruição foi a seguinte: Segundo históricos, Jerusalém foi destruída em 587–586 AC, uns bons 20 anos depois da data de todos os registos das Testemunhas. Também não se encontrou nenhuma base na Bíblia para “Tempos dos Gentios” com a duração de 2520 anos. Tinha-se conceitos de Russell que eram baseados em história inexata. Era inevitável uma onda desconfiança nas datas e choque dentro da organização por mais apertada que fosse a segurança, mais cedo ou mais tarde a onda iria rebentar. Começou por ‘gotejar’ nos anos 70 e a “barragem” rebentou em 1980.
A maioria das Testemunhas de Jeová não se apercebe da importância fundamental que a data 1914 tem para toda a sua estrutura organizacional e para a sua doutrina. Embora originalmente se tenha dito que o retorno de Cristo foi em 1874 e que 1914 seria o fim do mundo, as Testemunhas atuais passaram a aceitar 1914 como o retorno de Cristo (embora uma declaração oficial neste sentido não tenha sido feita até 1929). O Corpo Governante tem explicado às Testemunhas que quando Cristo voltou em 1914, houve uma “purificação da organização” durante 3 anos e meio, culminando no julgamento da organização por Cristo e finalmente na escolha dela em 1918 como o seu “escravo fiel e discreto” para instruir a humanidade a respeito das verdades de Deus nestes últimos dias. Este também foi o ano do “arrebatamento” invisível, em que Testemunhas falecidas (supostamente incluindo os primitivos Cristãos) foram ressuscitados e ascenderam ao céu. Todo o conceito da “única organização verdadeira de Deus” está cronologicamente dependente da exatidão da data 1914.
Mas isto não é tudo. A escolha de outra “classe” de Cristãos, aqueles que viveriam na terra mas não nasceriam de novo nem seriam ungidos pelo Espírito Santo, também era baseada nesta data chave de 1914. Desde então até 1935, o Presidente Joseph Rutherford procurava uma explicação para o fato de tantos estarem entrano na organização, apesar de a Bíblia (acreditava ele) falar de apenas 144.000 que vão para o céu e reinariam com Cristo. Ele começou a procurar uma resposta no livro de Revelação, e viu claramente que podia usar Rev. 7:13–17. Isto foi providencial, já que parecia resolver também outro dos seus grandes problemas — como obter mais controle sobre as congregações locais. Até aquele tempo, os superintendentes das congregações (chamados anciãos) tinham sido elegidos para o cargo, e muitos tinham controle total sobre as congregações, para grande desgosto de Rutherford. Agora, uma interpretação dupla desta passagem iria “matar dois coelhos de uma só cajadada.” Primeiro, os “anciãos” do versículo 13 foram identificados como sendo estes 144.000 especiais (representados pelo Corpo de Diretores [da Watch Tower Society]), e não os superintendentes congregacionais. Assim, o termo “ancião” foi abandonado, e todos os superintendentes congregacionais perderam as suas posições de responsabilidade. Aqueles que foram reconduzidos no cargo seriam agora chamados por um novo nome, “servos de companhia.” É claro que simultaneamente foi instituído um novo método de escolha destes homens chave — eram escolhidos pelo Corpo de Diretores! Isto teve como consequência muitos dos anteriores “anciãos” não serem reconduzidos no cargo e Rutherford assumiu controle completo sobre quem seriam os líderes. Muitos dos anteriores “anciãos” ficaram repugnados com este procedimento e deixaram a organização, levando alguns com eles.
Segundo Rutherford, as distinções de classe entre os “144.000” (os ungidos) e a “Grande Multidão” estavam agora claramente identificadas por esta reinterpretação de Rev. 7:13, 14. Rutherford raciocinou assim sobre esta passagem: como os anciãos fazem a pergunta, “Quem são estes da grande multidão?” e o anjo responde, “Vós sois quem sabe,” os anciãos (144.000 representados por Rutherford e os seus diretores) podem aparentemente decidir quem são os da “grande multidão”! Então Rutherford declara que eles são uma classe terrestre de crentes que embora não “nascem de novo,” viverão eternemente sob a direção dos 144.000 “ungidos,” apenas ganhando pleno direito à vida depois de serem testados e de o seu pensamento ser purificado durante 1.000 anos. A necessidade de um Corpo Governante representativo foi enfatizada pelo raciocínio adicional segundo o qual: visto que (1) a Bíblia foi escrita para Cristãos “ungidos” que irão para o céu para estar com Cristo e que estão cheios do espírito santo (1 João 2:20, 27), e (2) os desta recentemente designada “grande multidão” não poderiam estar no novo pacto nem ter Cristo como mediador (compare com A Sentinela, 1 de Abril, 1979, p. 31), somos levados a concluir que a Bíblia não foi escrita para eles, e eles estarão para sempre sujeitos a acreditar nas interpretações do Corpo Governante como “nova luz” e “alimento no tempo próprio” (compare com A Sentinela, 1 de Outubro, 1967, p. 587). Não se poderia aplicar a eles a passagem em 1 João 2:27, que diz, “A unção que recebesteis d’ Ele permanece convosco, e não tendes necessidade que nenhum homem vos ensine, pois a unção da parte d’ Ele (o Espírito Santo) vos está ensinando todas as coisas.” A possibilidade de um relacionamento com Deus e a operação íntima do Espírito Santo sobre as suas vidas (João 14:15–27) foi-lhes negada. O Corpo Governante era claramente a classe ‘clerical’ e eles eram o ‘laicado.’ Portanto a verdade vem de Brooklyn, não vem do Espírito Santo.
Estamos agora em condições de ver a verdadeira importância da data 1914. Se está errada, Cristo não voltou invisivelmente. Se a data 1918 está errada, Cristo não designou a Sociedade como seu profeta especial. Se a data 1935 está errada, não existem distinções de classe — todos os Cristãos são iguais, todos têm de nascer de novo (1 João 3:3, 5, 7), todos têm de tomar o pão e o vinho (João 6:53, 54) e todos têm de ter Cristo, e não uma organização feita pelo homem, como seu mediador (1 Tim. 2:5).
“Acaso estou liderando uma rebelião, para virdes com espadas e paus? Estive convosco dia a dia nos pátios do templo, e não me tocaram. Mas esta é a vossa hora — quando a escuridão reina.” — Lucas 22:52, 53.
A gota que fez transbordar o balde começou-se a formar em 1965. Já há algum tempo, o terceiro Presidente da Watchtower, N. H. Knorr, queria editar um dicionário Bíblico, mais tarde conhecido e publicado com o nome Ajuda ao Entendimento da Bíblia [Aid To Bible Understanding]. Originalmente Raymond Franz, o sobrinho de Fred Franz (quarto presidente da WT), foi incumbido de reunir material para este trabalho. Mais tarde, foi necessário acrescentar mais quatro homens a este projecto, fazendo uma comissão de cinco. Dois destes, Ray Franz e Lyman Swingle, tornaram-se mais tarde membros do Corpo Governante. Edward Dunlap, secretário da Escola de Gileade, também pesquisou material para este projeto.
No seu livro Crisis of Conscience (Crise de Consciência, p. 20–27) Raymond Franz conta a investigação que fez a respeito do sistema de datação, que é baseado na data fundamental de 1914 como sendo o fim dos “Tempos dos Gentios,” um período que supostamente se prolonga durante 2.520 anos a começar em 607 AC. Franz conta como enviou o seu secretário pessoal (Charles Ploeger) visitar as bibliotecas da cidade de Nova Iorque para tentar fundamentar esta data como sendo a da destruição de Jerusalém. Não se encontrou a informação pretendida. Em vez disso, foi reforçada a data 587–586 AC. Mais tarde, em 1977, uma Testemunha Sueca, um ancião, enviou uma grande quantidade de documentação baseada nas tábuas cuneiformes (mais de 10.000) encontradas na área da Mesopotânia, que remontavam ao tempo da antiga Babilónia, e que indicavam para data da destruição de Jerusalém, não 607 AC, mas 20 anos mais tarde. Como Franz declara no seu livro, “A maior parte do tempo e espaço (sob o cabeçalho ‘Cronologia’ no livro Aid [Ajuda] foi gasto a tentar enfraquecer a credibilidade da evidência arqueológica e histórica que tornaria errada a nossa data 607 AC e daria um ponto de partida diferente para os nossos cálculos e consequentemente uma data para o fim dos “Tempos dos Gentios” diferente de 1914.” Franz e o seu secretário até fizeram uma viagem à Brown University em Rhode Island para entrevistar o Prof. Abraham Sachs, um especialista em antigos textos cuneiformes, numa tentativa de encontrar um ponto fraco ou falha na evidência histórica. Não havia nenhuma possibilidade de essa evidência estar errada. Apesar disso, Franz sentiu-se obrigado a escrever um artigo no livro Aid [Ajuda] sem revelar todos os fatos, pois os outros membros do Corpo Governante recusaram-se a reconsiderar o assunto.
Um ancião que era Testemunha, na Suécia, foi desassociado por falar a outros das suas descobertas a respeito da cronologia incorreta da Sociedade e da sua ênfase na data 1914. Mais tarde, ele escreveu um livro baseado nas suas cartas para a Sociedade e nas suas descobertas desconcertantes.
Conforme foi mencionado anteriormente, muitas das doutrinas chave das Testemunhas de Jeová são baseadas em 1914, como por exemplo a escolha da organização em 1918 como o “escravo fiel e discreto” e a separação da organização em duas classes em 1935. Destruir a credibilidade do regresso invisível de Cristo teria efeitos verdadeiramente devastadores sobre toda a estrutura de autoridade do Corpo Governante. Não se poderia dizer que eles são o “canal designado” de comunicação (de fato, o mediador) entre Deus e o homem não regenerado. Os leitores da Bíblia dentro da organização seriam então obrigados a concluir que todos os verdadeiros Cristãos estarão com Cristo e têm de nascer de novo, como Jesus disse (João 3:3, 7). Eles não teriam necessidade de nenhum homem nem organização para os ensinar pois, como diz 1 João 2:27, o Espírito Santo ensiná-los-ía, como Jesus prometeu em João 14:16–26. A “gota de água” da evidência histórica fatual tinha começado a fazer transbordar o balde.
Embora por uns anos parecesse que nada acontecia, estavam para vir muitos problemas. Mudanças na estrutura organizacional colocaram mais poder nas mãos de alguns homens chave do Corpo Governante, que não estavam dispostos a permitir que a sua estrutura de poder fosse minada por tal evidência destrutiva. Foi oficialmente colocado um ponto final sobre qualquer discussão destas matérias, no entanto indivíduos dentro da organização fizeram perguntas, especialmente em Betel, o nome que as Testemunhas dão à sua sede. Eram poucos os que tinham conhecimento destes assuntos naquele tempo, no entanto estes tornavam-no conhecido a outros que perguntavam.
Por volta de 1979, a evidência chegou ao conhecimento de várias pessoas da comunidade Espanhola das Testemunhas de Jeová na cidade de Nova Iorque e o Corpo Governante soube-o na altura do Memorial de 1980. Os que “falavam” eram arrastados à presença de comissões especiais estabelecidas fora de horas em partes isoladas da fábrica em Adams Street 117. Cris e Norma Sanchez, que ajudaram a traduzir a New World Translation [Tradução do Novo Mundo] de Inglês para Espanhol, e que tinham vivido em Betel por muitos anos como sevos fiéis, foram acusados de “conspirar contra a organização” e foram-lhes chamados nomes diante dos outros presentes, até mesmo por um membro do Corpo Governante, Dan Sydlik. Condenados como sanguessugas, um cancro e vermes, foram-lhes dadas poucas horas para reunirem os seus pertences sob silêncio absoluto e para deixarem a sede — eles estavam agora desassociados. Eles apelaram da decisão da sua desassociação mas o apelo foi imediatamente recusado.
A presença deles em Brooklyn era demasiado perigosa — outros podiam descobrir os segredos que eles sabiam e expor a organização inteira à vista de todos. Outros companheiros foram também implicados no caso e desassociados, como os tradutores Nestor Kuilan e a sua esposa, bem como Rene Vasquez. Os anciãos locais que a princípio acreditaram no testemunho destes foram mais tarde exonerados por os terem mencionado ao Departamento de Serviço, o “braço direito” do Corpo Governante. Os membros da família de Betel estavam de uma forma geral no desconhecimento de todo o caso, e a maioria continua assim até hoje, simplesmente acreditando nas explicações que o Corpo Governante dá, segundo as quais se tratou de uma conspiração planejada contra a organização de Jeová, e que estes homens e mulheres eram apóstatas e “fornicadores espirituais,” sendo “doentes mentais” e “corruptos.” Mal eles sabiam que os verdadeiros problemas mal tinham começado.
A reacção do Corpo Governante contra os estudos da Bíblia privados e a descoberta do significado de Romanos e Gálatas foi: (1) perseguir todos os que questionavam a interpretação da Sociedade, (2) impedir que outras Testemunhas os escutassem, e (3) reforçar as suas crenças peculiares segundo as quais existem duas classes de Cristãos, sendo que o “novo nascimento” se aplica a alguns (os “ungidos”) e os restantes têm de confiar nas interpretações erroneas da Sociedade. (Imagem de Karl Klein, da Watchtower [A Sentinela], 1 de Março, 1980, p. 9.)

“Se tiver começado a persistir no seu coração um pingo de dúvida sobre Jeová, sua Palavra ou sua organização, adote rapidamente medidas para eliminá-la, antes que se desenvolva algo que possa destruir a sua fé... não hesite em pedir ajuda de amorosos superintendentes na congregação. Eles o ajudarão a achar a origem das suas dúvidas, que talvez se devam a orgulho ou a pensamentos errados.”
“... aja depressa para eliminar da mente qualquer tendência de queixa, de dessatisfação com o modo em que as coisas são feitas na congregação cristã. Corte fora tudo o que promova tais dúvidas.” — A Sentinela (Watchtower), 1 de Fevereiro, 1996, p. 23, 24.
Naturalmente, muitos da família de Betel estavam preocupados e choraram quando ouviram ao pequeno almoço o que tinha acontecido aos irmãos Espanhóis. Entretanto, o Departamento de Serviço estava ocupado reunindo toda a evidência que podia para desassociar Raymond Franz, já que eles suspeitavam que ele e Edward Dunlap estavam a conspirar contra a organização. Lee Waters do Departamento de Serviço até afirmou que “Eles (os ‘apóstatas’) tinham estado a construir há muitos anos uma plataforma (a partir da qual atacar).” Quando Lyman Swingle defendeu Ray Franz e impediu que ele fosse desassociado naquela altura (Lyman estava ao corrente de todos os factos a respeito de 1914), Franz foi espiado e mais tarde desassociado por tomar uma refeição com o seu patrão, uma ex-Testemunha (veja a Time Magazine de 22 de Fevereiro de 1982, p. 66). Edward Dunlap foi desassociado depois de membros do Corpo Governante lhe terem pedido que ignorasse os fatos e mantivesse o entendimento corrente por uma questão de unidade. Dezenas de outros deixaram a família de Betel ou foram desassociados nos meses seguintes, já que aparentemente “sabiam demais.” Embora os membros da família de Betel ouvissem regularmente denúncias dos “apóstatas,” poucos sabiam o que tinha acontecido.
Entretanto, dezenas de membros da família de Betel continuavam regularmente a fazer estudos da Bíblia todas as Segundas-feiras à noite depois do estudo da A Sentinela (Watchtower) feito pela família. Eram usadas várias traduções da Bíblia diferentes, bem como vários comentários Bíblicos. As cartas de Paulo aos Romanos e aos Gálatas eram particularmente fascinantes, pois apontavam para um entendimento da vida e um relacionamento com Cristo muito melhor e superior do aquele que era permitido às Testemunhas. Mas o receio de serem descobertos e desassociados impediu muitos de falarem a outros das suas descobertas. Nas Segundas-feiras à noite eles levavam exemplares da Sentinela para os estudos, para o caso de um “espião” tocar à porta.
Albert Schroeder (um porta-voz proeminente do Corpo Governante), durante um reunião dos anciãos da família de Betel em 29 de Maio de 1980 (referindo-se àqueles que tinham questionado a autoridade absoluta do Corpo Governante), disse: “Todas as coisas que eles estão ensinando ignoram toda a estrutura que estamos desenvolvendo há tantos anos.”
Muitas Testemunhas na sede também estavam começando a compreender que o Cristianismo não é uma religião baseada em decretos e regulamentos (como a Lei Mosaica), mas que o Cristianismo é um relacionamento com Jesus Cristo e que os Cristãos andam pelo Espírito Santo. O Apóstolo Paulo disse em Gálatas 2:20, 21:
“Estou pregado na estaca junto com Cristo. Quem vive não sou mais eu, mas é Cristo quem está vivendo em união comigo... se a justiça é por intermédio da lei, Cristo realmente morreu em vão.”
“Ademais, se estais sendo conduzidos por espírito, não estais debaixo de lei.” (Gálatas 5:18)
É conveniente notar que sempre que a palavra “lei” não está em letra maiúscula na New World Translation [Tradução do Novo Mundo] (ou em qualquer outra Bíblia), não se refere necessariamente à Lei Mosaica mas sim a Sistemas de Leis Ou Regras Impostos Aos Cristãos. Esta é a mensagem chave do evangelho que faz desmoronar a Sociedade: Somos nós salvos pela fé em Jesus Cristo, ou tal como os “Judaízantes” no primeiro século, temos de seguir as regras e normas de uma organização? (Gálatas 5:1–4)
O surgir desta questão era mais do que o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová podia suportar. Foram dadas respostas exaltadas à família de Betel como esta, de Albert Schroeder, falando a anciãos da família de Betel em 29 de Maio de 1980:
“Nós não servimos apenas Jeová Deus mas estamos sob a nossa ‘mãe.’ A nossa ‘mãe’ tem o direito de fazer regras e regulamentos para nós... Este livro, intitulado Branch Organization Procedure [Procedimentos Organizacionais da Filial], contém 28 assuntos, e as suas sub-secções envolvem regulamentos e administração. Contém 1.177 políticas e regulamentos... esta é uma organização melhorada, bem sintonizada, e espera-se que sigamos as suas políticas. Se há alguém que sente que não se consegue sujeitar às regras e regulamentos agora em vigor, essas pessoas têm a obrigação de sair e de não estarem aqui envolvidas no trabalho progressivo adicional.”
“Alguns abandonaram a organização, MAS NÃO A BÍBLIA, dizendo que não há necessidade de ESTAR DEBAIXO DE LEI... Este grande programa de procedimentos organizacionais está ajuntando as coisas do céu e da terra.”
Que tratamento iria esta “bem sintonizada” organização infligir àqueles que acreditam que não são salvos por seguirem as leis organizacionais, mas pela fé em Jesus Cristo?

O Arranjo de Jeová para as Suas “Ovelhas”
Durante o auge da paranóia do Corpo Governante por causa das dissidências, eles publicaram um artigo reforçando a sua idéia de duas classes de Cristãos, e até colocaram os “três rebeldes” (aparentemente Ray Franz, Ed Dunlap e Reinhard Lengtat, co-autores do livro Ajuda ao Entendimento da Bíblia, conforme se pode ver no número 6 da figura acima, identificando-os como “o estranho,” “ladrão,” “o homem contratado”: Apóstatas e falsos profetas. (Imagem da A Sentinela de 15 de Julho de 1980, p. 26)
Enquanto Ray Franz estava fora, em licença, foi formada uma comissão especial para extrair confissões dos seus amigos próximos e conhecidos, para saber tudo o que ele tinha dito em privado que pudesse ser usado contra ele no que diz respeito aos assuntos acima mencionados. Durante duas semanas estas comissões intimidaram muitos membros da família de Betel e gravaram as suas confissões. Em seguida, Ray foi chamado de volta a Betel e foram-lhe dadas a ouvir estas gravações na presença do Corpo Governante. Raymond Franz foi expulso e foram-lhe retirados os seus privilégios. Ele tinha servido em todas as posições responsáveis durante décadas e tinha viajado por todo o mundo visitando as filiais, mas isto pouca diferença fez.
Outros foram sujeitos a longas horas de intenso interrogatório, tendo as “comissões da Watchtower” redigido um conjunto de dez “perguntas especiais” para fazer a qualquer pessoa suspeita de falar sobre o que se estava se passando no Corpo Governante. Muitos foram desassociados da organização simplesmente porque não podiam acreditar e ensinar conscienciosamente certas doutrinas das Testemunhas. Tais pessoas passaram a ser vistas desde então como “espiritualmente mortos” pelos outros e estes nem sequer são autorizados a falar com eles. Muitos outros sairam sob pretextos inventados só para escaparem sem serem desassociados.
Nas semanas e meses seguintes notei que os membros do Corpo Governante não pouparam palavras ao caluniar e chamar nomes a tais indivíduos. Chamaram-lhes “fornicadores espirituais,” “doentes mentais” e “loucos.” Disse-se que eles estavam a seguir “ensinos de demónios.” Numa reunião com uma comissão em que um casal (marido e mulher) que tinha servido fielmente durante décadas foi desassociado, um membro do Corpo Governante chamou-lhes “chupistas” e “mentirosos.” Um Betelita, Randy Mangles, teve as suas chamadas telefónicas sob escuta pelo Departamento de Serviço para espiarem os seus contatos com o exterior. Membros da família entregaram até mesmo os seus próprios amigos por suspeita de apostasia. É importante que se diga que poucos membros da família sabiam o que realmente estava se passando; o Corpo Governante encobriu tudo muito bem e respondeu difamando as pessoas envolvidas.
Conforme mencionado anteriormente, alguns membros da família estavam fazendo os seus próprios estudos da Bíblia para os ajudar a compreender as escrituras independentemente do dogma da Watchtower. Passado pouco tempo estes grupos foram descobertos e foi-lhes ordenado que parassem, ou então que usassem as publicações da Sociedade [Torre de Vigia] por referência. Em 30 de Abril de 1980, Karl Klein, do Corpo Governante, disse a toda a família:
“Se tem uma tendência para ‘apostasia,’ arranje um passatempo e mantenha-se ocupado para manter a sua mente fora dela. Afaste-se de estudos Bíblicos profundos com o objetivo de determinar os significados das escrituras.”
Outro membro do Corpo Governante, Lloyd Barry, disse em 29 de Maio de 1980 dirigindo-se aos anciãos da família de Betel:
“Quando falamos de lei, falamos de organização. De todo o nosso coração precisamos de buscar essa lei. Jeová não dá interpretação a indivíduos. Precisamos de um guia, e este guia é o ‘escravo fiel e discreto.’ Nós não nos deviamos reunir em grupinhos para discutir pontos de vista contrários aos do ‘escravo fiel e discreto.’ Temos de reconhecer a fonte da nossa instrução. Temos de ser como um burro, humildes, e ficar na manjedoura, e não apanharemos nenhum veneno.”
Estas são algumas das muitas coisas chocantes que podiam ser vistas e ouvidas na sede. Imagine-se a si mesmo como um destes anciãos de Betel que tinham acabado de descobrir há pouco tempo o que é afinal o verdadeiro Cristianismo, e imagine-se ouvindo estas declarações blasfemas que contradizem claramente toda a mensagem das cartas aos Romanos e aos Gálatas, bem como as palavras do nosso Senhor Jesus Cristo que disse: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

Extraido do site: www.vigiandoatorre.com

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