sexta-feira, 26 de julho de 2013

A BESTA E O ANTICRISTO SÃO IGUAIS?



A BESTA EO ANTICRISTO SÃO PESSOAS DIFERENTES?

Falam-se muitas coisas que não condiz com os textos bíblicos, sobre esses dois personagens acima citado. Veremos abaixo um bom argumento, que fora escrito no século XIX.
Para você entender melhor (mesmo porque Apocalipse fala de duas bestas diferentes)

As dúvidas sobre quem são a Besta e o Falso Profeta podem exigir uma visão mais ampla do escopo da profecia, a fim de tornar a resposta compreensível dentro dos limites deste texto.

Repare que há duas bestas em Apocalipse 13. A primeira, identificada por suas sete cabeças relacionadas às formas passadas do Império Romano, deve sua última forma ao poder satânico (Ap 13:2). Uma das cabeças, sem dúvida a cabeça imperial, foi ferida de morte, mas ao sobreviver como forma de governo no final faz com que todo o mundo se maravilhe com a besta. Ela é, em outras palavras, o Império Romano satanicamente revivido, o qual ainda verá. Trata-se da continuidade da última metade da septuagésima semana de Daniel, descrita como "um tempo, tempo e metade de um tempo", ou quarenta meses como aparecem aqui, ou 1260 dias (Ap 11:3; Ap 12:6), ou seja, os últimos três anos e meio antes da vinda do Senhor para estabelecer o Seu reino. O caráter desse poder é blasfemo, e especialmente maligno em relação a Deus e aos santos celestiais. Tudo isso ocorre na terra - com uma classe de pessoas característica do relato de Apocalipse que, tendo um dia sido apresentada ao chamado celestial, preferiu a terra e adorar a Besta. A saber, todos aqueles cujos nomes não estavam escritos desde a fundação do mundo no livro da vida do Cordeiro que foi morto (que é como a expressão deve ser lida).

Em Ap 13:11 temos a segunda besta com chifres como de cordeiro, uma imitação de Cristo (como Ele aparece em Ap 5:6), mas esta tem dois chifres ao invés de sete, e sua boca revela sua origem satânica. Ele engana os habitantes da terra fazendo grandes maravilhas e tem poder para fazê-las na presença da primeira besta. Este é o Homem de Pecado, o ímpio de 2 Tessalonicenses 2, que atua sob os auspícios do poder Romano no Ocidente, levando todos a adorarem sua imagem em meio à dor e morte; enquanto no Oriente ele revela o seu verdadeiro caráter como o Anticristo, se exaltando e se opondo contra tudo o que está relacionado a Deus, se colocando como objeto de adoração no Templo de Deus que terá sido reconstruído em Jerusalém.

Temos esta trindade satânica do mal em Apocalipse 16:13, onde os espíritos imundos saem da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta. Apocalipse 19:20 nos mostra o fim destes dois últimos, que lideram a última grande confederação de nações contra Cristo e contra os santos que descem com Ele dos céus. A besta e o falso profeta são lançados no lago de fogo.

Se a identificação da segunda besta com o homem de pecado for correta (e eu tenho certeza disso), 2 Tessalonicenses 2 demonstra que antes de sua manifestação deve ocorrer a vinda do Senhor Jesus e nossa reunião com Ele. Por enquanto, os poderes que existem foram ordenados por Deus e colocam limites contra a total disseminação da iniqüidade a ser encabeçada pelo iníquo. Isso será então removido. "Agora, vós sabeis o que o detém", no versículo 6, e, além disso, "há UM que, agora, resiste até que do meio seja tirado", a saber, o Espírito Santo na Igreja, antes que seja manifestado o homem de pecado.

No estudo de Apocalipse é importante atentar para a divisão do livro em três partes que nos é dada em Apocalipse 1:19: "as coisas que tens visto", a saber, a forma como o Senhor Se apresenta a João no capítulo 1; depois "as que são", a saber, a presente época enquanto a Igreja permanecer na terra como vemos nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse e, finalmente, "as que depois destas hão de acontecer", que vai de Apocalipse 4 em diante, quando não haverá mais a Igreja aqui. Como costuma acontecer na profecia, pode haver um cumprimento parcial do que é revelado antes de tudo se cumpra no final. Tudo o que vem depois de Apocalipse 3 aguarda para ser totalmente cumprido depois que a história da Igreja e sua existência na terra tenham terminado.

Texto escrito por J. A. Trench (1843 - 1925):
Adaptação: Edivaldo Pereira

quinta-feira, 25 de julho de 2013

OS PAPAS - SÃO REPRESENTANTES DE PEDRO?



Quem foi o primeiro Papa?

Por Paulo Cristiano

Todos sabem que o título “papa” é empregado para o supremo chefe da igreja católica apostólica romana. Este termo vem do grego e significa “pai”. Já em latim, é formado pela junção da primeira sílaba de duas palavras: pater patrum, que quer dizer “pai dos pais”. Mas o significado que os católicos mais gostam de conferir é: Petri apostoli potestatem accipiens, isto é, “aquele que recebe autoridade do apóstolo Pedro”.

Segundo a doutrina católica, o papa é o sucessor de São Pedro no governo da Igreja Universal e o vigário de Cristo na terra. Tem autoridade sobre todos os fiéis e sobre toda a hierarquia da igreja. Além da autoridade espiritual, exerce uma territorial (interrompida de 1870 a 1929), que, a partir de 1929, foi limitada ao Estado da cidade do Vaticano. É infalível quando fala em assuntos de fé e moral (ex-cathedra). Alguns títulos que o papa ostenta dão uma amostra deste exagero, a saber: Bispo de Roma, Primaz da Itália, Patriarca do Ocidente, Vigário de Jesus Cristo, Servo dos Servos de Deus, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano, Arcebispo e Metropolita da Província Romana e Santo Padre.

Durante a história de sua existência, o papado teve seus altos e baixos. Recentemente, o atual papa teve de pedir desculpas aos judeus por seu antecessor, o papa Pio XII, e se vê em dificuldades com a questão do celibato. Apesar de toda esta imponência de chefe de Estado, líder espiritual da maior parcela de cristãos do mundo (1 bilhão) e administrador de um império financeiro que a cada ano acumula bilhões de dólares, algumas perguntas precisam ser feitas. Existem provas bíblicas e históricas que indiquem que o papa é o sucessor do apóstolo Pedro? Pedro foi o primeiro papa e gozou de supremacia sobre os demais apóstolos? Teria Pedro fundado a igreja de Roma e transformado essa igreja na sede de seu trono episcopal?

O alvo de nossa matéria é apresentar respostas adequadas a perguntas cruciais como essas, visto que a Internet está repleta de sites de cunho apologético católico com o intuito de refutar as verdades das Escrituras Sagradas apresentadas pelos evangélicos.

Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja

Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam

Esse trecho de Mateus 16.18 é tão especial para os fundamentos papais que foi escrito em enormes letras douradas na cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma. Destarte, ele é a fonte mais importante de toda a dogmática1 católica. A expressão Tu es Petrus, carrega atrás de si uma procissão de outras heresias erigidas em cima das interpretações de textos deslocados de seus respectivos contextos, interpretados de modo arbitrário pelos teólogos e doutores católicos romanos. É ele o genitor da infalibilidade papal, do poder temporal e dos demais desvios teológicos, contradições e distorções dessa igreja. Portanto, esclarecer à luz da Bíblia todo esse equívoco teológico é desestruturar a base em que se firma a eclesiologia 2 católica.


Os pilares do papado

A tese católica se firma em três questionáveis pressupostos principais, a saber:

Cristo edificou a Igreja sobre Pedro, numa interpretação totalmente tendenciosa e arbitrária de Mateus 16.18,19.

Pedro fundou e dirigiu a Igreja de Roma, sendo martirizado nessa cidade.

A sucessão apostólica numa cadeia ininterrupta até nossos dias: de Pedro a Karol Wojtyla (João Paulo II).

Outrossim, há ainda outros argumentos apresentados pelos católicos romanos que se firmam nessa trilogia, mas, neste momento, analisaremos apenas os já mencionados.

Em que pedra a igreja está edificada?

O endereço eletrônico católico www.lepanto.org.br, da Frente Universitária Lepanto, é um site antiprotestante e, na página sobre a Igreja Católica, que interpreta Mateus 16.18, traz a seguinte declaração: “Esse ponto é muito importante, pois a interpretação truncada dos protestantes quer admitir o absurdo de que Nosso Senhor não sabia se exprimir corretamente. Eles dizem que Cristo queria dizer: Simão, tu és pedra, mas não edificarei sobre ti a minha Igreja, por que não és pedra, senão sobre mim. Ora, é uma contradição, pois Nosso Senhor alterou o nome de Simão para Kephas, deixando claro quem seria a pedra visível de sua Igreja”.

Entendemos que essa declaração nada mais representa do que o ecoar das suposições romanas na tentativa de harmonizar o que não pode ser harmonizado. A princípio pode até impressionar, mas carece totalmente de fundamentos. Leiamos o versículo: “Pois também eu te digo que tu és Pedro (Petrus), e sobre esta pedra (petra) edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16.18,19).

Jesus, ao proferir essa declaração, estava realmente afirmando que Ele próprio era a “pedra” sobre a qual sua Igreja seria edificada. Temos diversos motivos para esta interpretação. Vejamos:

Petra versus Petros

Ao referir-se a Pedro, Jesus emprega o termo grego Petros, que significa um seixo, pedregulho. Ao referir-se à edificação da Igreja, diz que ela seria edificada não sobre o Petros (Pedro), mas sobre a petra, um rochedo inabalável. Ora, Jesus fez nítida diferença semasiológica3 entre petra e Petros. Um é substantivo feminino singular e está na terceira pessoa; o outro, masculino plural, e se encontra na segunda pessoa. Além disso, o termo petra nunca é usado na Bíblia em relação a homem algum, somente em relação a Deus. Logo, tal verso nem de longe insinua alguma coisa sobre Roma, sucessão apostólica ou algo similar. Os católicos conseguem ver o que não existe no texto.

Edificação sobre quem?

A declaração “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” é a chave para entendermos toda a problemática. Jesus perguntou a “todos”, e não somente a Pedro, “quem Ele era”. “Disse-lhes ele [Jesus]: E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15). A ele — Pedro — foi revelado, em sua confissão, que Cristo era o Messias, o Filho de Deus, daí a frase: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja...”, ou seja, a igreja está edificada sobre a confissão de que Ele (Jesus) era o Filho de Deus.

A bem da verdade, a Igreja jamais poderia ser solidamente edificada sobre homem algum, nem mesmo Pedro, que, embora tenha sido um grande apóstolo, foi, no entanto, falível e passível de erros, como demonstra, de maneira sobeja, o contexto imediato: “Ele [Jesus], porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mt 16.23), além de outros escritos do Novo Testamento em que podemos perceber a inconstância de Pedro (Mt 26.69-75).

Quem é a pedra?

O significado de Petros e petra está em perfeita concordância com o contexto doutrinário e teológico neotestamentário. Sendo Petros um fragmento tirado da grande rocha, há de se ver uma conotação de todos os cristãos como Petros, e isto é descrito posteriormente pelo próprio Pedro: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe 2.5).

Por sua vez, todas as “pedras vivas” estão edificadas sobre a grande Petra, que é Jesus: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2.19-21).

Agora, comparemos o texto de Mateus 16.18 com o texto seguinte:

 “Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E, quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó” (Mt 21.42-44).

Indubitavelmente, tanto em Mateus 16.18 quanto em 21.44, Jesus é a pedra. Desde a época dos salmistas, passando pelo profeta Isaías, a palavra profética já anunciava o Messias como à pedra da esquina (Cf. Sl 118.22, Is 28.16).

Igualmente, é bom lembrar que na narrativa apresentada pelo evangelista Marcos é omitida a frase de Cristo: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mc 8.27-30). Isto não é de pouca relevância, pois Marcos, por muito tempo, foi companheiro de Pedro (1Pe 5.13) e, segundo Eusébio, foi de Pedro que Marcos coletou informações para redigir seu evangelho. Pedro, em nenhum momento, disse de si mesmo que era a rocha ou pedra da igreja, caso contrário, Marcos teria confirmado o fato de modo enfático. Se porventura o dogma da superioridade de Pedro é verdadeiro e de tamanha importância, como ensina a Igreja Católica, não parece praticamente inconcebível que os registros de Marcos e de Lucas silenciem a respeito?

O que significa Kephas?

Kephas significa pedra ou Pedro? João nos dá a resposta: “... Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)” (Jo 1.42). Fica claro que Cefas ou Kephas significa Pedro e não pedra. Para fazer jus à coerência e à lógica católica, Jesus deveria ter dito mais ou menos assim: “Tu és Kephas e sobre esta kephas edificarei...”, ou: “Tu és Pedro e sobre este Pedro edificarei...”, caso não houvesse nenhuma diferença.

Um acréscimo ao nome de Pedro

Teria Jesus mudado o nome de Simão Barjonas para Pedro ou apenas feito um acréscimo?

Ora, quando se muda um nome faz-se necessariamente uma substituição. O nome anterior não é mais mencionado, como nos casos de Abrão para Abraão (Gn 17.5) e de Sarai para Sara (Gn 17.15). Já no caso de Pedro, houve apenas um acréscimo, como bem atesta Lucas: “Agora, pois, envia homens a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro” (At 10.5,18, 32; 11.13). Podemos ver que se trata de um acréscimo no nome e não a mudança do mesmo, como querem os teólogos do Vaticano. Além disso, Pedro continuou sendo chamado de Simão (At 15.14) ou Simão Pedro (Jo 21.2-3,7), algo que, no mínimo, seria estranho se o antigo nome tivesse sido trocado. Querer ver nisto uma ligação da suposta supremacia de Pedro com relação ao papado, certamente, é ir além dos limites admissíveis.

A quem pertencem as chaves?

Os católicos insistem em alardear que a simbologia das chaves (v. 19) significa supremacia jurisdicional sobre todo o cristianismo. Conquanto, sabemos que a chave foi realmente outorgada a Pedro para “abrir e fechar”. Todavia, devemos salientar que foram as chaves do “reino dos céus” e não da Igreja que lhe foram concedidas. O reino dos céus não é a Igreja.

Antes, as “chaves” estavam nas mãos dos fariseus, como lemos: “Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam” (Lc 11.52).

Essas chaves representam a propagação do evangelho de arrependimento de pecados, pelo qual todos os cristãos, e não Pedro apenas pode abrir as portas dos céus para os pecadores que desejam ser salvos. Tanto é que, em Mateus 18.18, Jesus confia às chaves também aos demais apóstolos: “Em verdade vos digo [digo a vocês e não somente a Pedro] que tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu”.

Pedro, portanto, foi o primeiro a usá-la por ocasião da festa de Pentecostes, quando quase três mil almas foram salvas (At 2.14-41). Depois, a usou para pregar ao primeiro gentio, Cornélio (At 10.1-48). É esta a chave que abre a porta, e ela não é prerrogativa exclusiva do hierarca católico romano. Ninguém tem o poder (ou direito) de monopolizá-la, como querem os católicos romanos.

Certo site ortodoxo, comentando sobre o assunto em questão, disse com muita propriedade: “Para a Igreja una e indivisa, a interpretação desta passagem do evangelho é toda outra. Como disse Orígenes (fonte comum da Tradição patrística da exegese), Jesus responde com estas palavras à confissão de Pedro: este se torna a pedra sobre a qual será fundada a Igreja porque exprimiu a fé verdadeira na divindade de Cristo. E Orígenes comenta: Se nós dissermos também: Tu és o Cristo, Filho de Deus Vivo, então tornamo-nos também em um Pedro [...] porque quem quer que seja que se una a Cristo torna-se pedra. Cristo daria as chaves do reino apenas a Pedro, enquanto as outras pessoas abençoadas não as poderiam receber? Pedro é, então, o primeiro ‘crente’, e se os outros o quiserem seguir podem ‘imitá-lo’ e receber também as mesmas chaves.

“Jesus, com as suas palavras relatadas no evangelho, sublinha o sentido da fé como fundamento da Igreja, mais do que funda a Igreja sobre Pedro, como a Igreja Romana pretende. Tudo se resume, portanto, em saber se a fé depende de Pedro, ou se Pedro depende da fé [...] Por isso mesmo, São Cipriano de Cartago pôde afirmar que a fé de Pedro pertencia ao bispo de cada Igreja local, enquanto São Gregório de Nissa escreveu que Jesus ‘deu aos bispos, por intermédio de Pedro, as chaves das honras do céu’. A sucessão de Pedro existe onde a fé justa e ortodoxa é preservada e não pode, então, ser localizada geograficamente, nem monopolizada por uma só Igreja e tampouco por um só indivíduo. Levando a teoria da primazia de Roma às últimas conseqüências, seríamos obrigados a concluir que somente Roma possui essa fé de Pedro e, neste caso, teríamos o fim da Igreja una, santa, católica e apostólica que proclamamos no Credo: atributos dados por Deus a todas as comunidades sacramentais centradas sobre a Eucaristia.

“Além disso, afirma a Igreja de Roma que é ela a Igreja fundada por Pedro e que essa fundação apostólica especial lhe dá direito a um lugar soberano sobre todo o Universo. Ora, a verdade é que, para além do fato de não sabermos realmente se São Pedro foi o fundador dessa Igreja Local e o seu primeiro papa, temos conhecimento de que outras cidades ou outras localidades menores podiam, igualmente, atribuir a si mesmas essa distinção, por terem sido fundadas por Pedro, Paulo, João, André ou outros apóstolos. Assim, o Cânone do 6º Concílio de Nicéia reconhece um prestígio excepcional às Igrejas de Alexandria, Antioquia e Roma, não pelo fato de terem sido fundadas por apóstolos, mas porque eram na altura as cidades mais importantes do Império Romano e, sendo assim, deram origem a importantes igrejas locais...”

Onde está a primazia de Pedro?

A lógica vaticana, insaciável em sua disposição em favorecer Pedro em detrimento dos demais apóstolos, esquiva-se em seus conceitos teológicos. Os católicos procuram, a qualquer preço, encontrar nas Sagradas Escrituras um elo de ligação entre a primazia de Pedro e a alegada supremacia do papa. Os argumentos apresentados são quase sempre furtados de seus contextos a fim de fortalecer essa cadeia de fantasia teológica. A pessoa que analisar o assunto pela ótica papista tende a ficar impressionada com a avalanche de textos que colocam Pedro no topo da lista de exclusividade. À primeira vista, a abundância de uma aparente primazia tende a sustentar essa corrente. No entanto, confrontaremos os textos citados e veremos que não são tão pujantes quanto parecem.

A Pedro foi conferida com exclusividade a chave dos céus
(Mt 16.19)


Este argumento foi satisfatoriamente respondido anteriormente.

A Pedro foi dado, por duas vezes, cuidar com exclusividade do rebanho de Cristo
(Lc 22.31,32; Jo 21.15,17)


Os católicos frisam nesses textos as palavras “confirmar” e “apascentar” e vêem nelas uma suposta primazia jurisdicional de Pedro. O engano deste argumento está em não mostrar que o apóstolo Paulo também “confirmava” as igrejas (Cf. At 14.22; 15.32,41).

Quanto ao “apascentar”, esta também não era uma exclusividade de Pedro, pois todos os bispos deveriam ter esta incumbência (At. 20.28). Para sermos coerentes, deveríamos dar este status de primazia aos demais, pois não só apascentavam como confirmavam as igrejas.

Pedro foi o primeiro a pregar um sermão no dia de Pentecostes
(At 2.14)


Ora, Pedro, ao pregar na festa de Pentecostes, estava apenas fazendo uso das chaves para abrir a porta da salvação. Demais disso, alguém tinha de tomar a palavra e coube a Pedro, que era o mais velho e intrépido. Mas, ao terminar a mensagem, ninguém o teve por especial, antes se dirigiram a todos com a expressão: “Que faremos varões irmãos?”. Dirigiram-se a toda a igreja e não apenas a Pedro (At 2.37).

Pedro foi o primeiro a evangelizar um gentio
(At 10.25)


Ao contrário do que pensam os católicos, o caso de Cornélio é um contragolpe no argumento romanista, pois Pedro teve de dar explicações perante a Igreja por ter se misturado e comido com um gentio. Raciocinemos, onde está a primazia de Pedro nesse episódio? Se a tivesse, porventura daria explicações perante seus supostos comandados? Certamente que não! Mas Pedro teve de se explicar, porque não possuía nenhum governo sobre os demais.

No catálogo dos apóstolos, o nome de Pedro sempre é colocado em primeiro lugar
(Mt 10.2-4, Mc 3.16-19, Lc 6.13-16, At 1.13)


É bom frisarmos que este primeiro lugar na lista de nomes é apenas de caráter cronológico e não funcional. Percebe-se que os quatro primeiros nomes da lista dos sinópticos são: Simão, André, João e Tiago, os primeiros a serem chamados para seguir o Mestre e, dentre eles, coube a Pedro ter uma prioridade cronológica. Todavia, em outros textos, como, por exemplo, Gálatas 2.9, seu nome não aparece em tal posição: “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas...”.

Pedro escolhe Matias para suceder Judas Iscariotes
(At 1.15)


Lendo cuidadosamente Atos 1.15-26, vemos que Pedro apenas expôs o problema, qual seja, a falta de um sucessor para o cargo de Judas. No entanto, Matias foi eleito pela igreja por voto comum e não por decisão de Pedro: “E, lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias. E por voto comum foi contado com os onze apóstolos” (v. 26).

O veredicto de Jesus

O fator agravante quanto à intenção de tornar Pedro soberano entre os demais apóstolos está nas palavras taxativas de Cristo — o ÚNICO Sumo Pastor, Chefe Supremo, Cabeça e Fundamento da Igreja — em não titubear e corrigir algumas precoces ambições de supremacia entre eles.

Certa feita, tal idéia foi sugerida ao Mestre que, no mesmo instante, a rechaçou dizendo: “... Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem autoridades sobre eles. Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo...” (Mt 20.18-27).

O próprio Pedro desfaz essa lenda ao dizer: “ninguém tenha domínio sobre o rebanho...” (1Pe 5.1-3). Não se pode ver aí nenhum vestígio de superioridade, supremacia ou destaque sobre os demais, pois ele mesmo se igualava aos outros dizendo: “... que sou também presbítero com eles...” Pedro jamais mandou. Pelo contrário, foi mandado e obedeceu: “Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João” (At 8.14). E tudo isso faz jus às palavras de Jesus, que disse: “Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou” (Jo 13.16).

Pedro esteve em Roma?

Embora a Bíblia não diga nada a respeito, os católicos insistem em dizer que o fato de o apóstolo Pedro ter sido o fundador da igreja de Roma é incontestável. Atribuem, ainda, ao apóstolo Pedro, um pontificado de 25 anos na capital do Império. E, conseqüente (deduzem), ele tenha morrido ali.

É claro que estas ligações, em princípio, são de valor inestimável, pois, entrelaçadas, robustecem a tese vaticana da primazia do papado. Contudo, há de se frisar que somente a chamada tradição vem em socorro das causas romanistas nestas horas e, mesmo assim, de maneira dúbia.

Pedro não pode ter sido papa durante 25 anos, pois foi martirizado no reinado do imperador Nero, por volta do ano 67 ou 68 d.C. Subtraindo 25 anos, retrocederemos ao ano 42 ou 43. Nessa época, ainda não havia sido realizado o Concílio de Jerusalém (At 15), que ocorreu por volta do ano 48 ou 49 d.C., quando Pedro participou (mas não deveria, porque, segundo a tradição, nessa época o apóstolo estava em Roma). No entanto, ainda que Pedro, segundo a opinião católica, tivesse participado do Concílio de Jerusalém, a assembléia fora presidida por Tiago (At 15.13-21).

No ano 58 d.C., Paulo escreveu a epístola aos Romanos e, no capítulo 16, mandou uma saudação para muitos irmãos daquela cidade, mas Pedro sequer é mencionado. Em 62 d.C., o apóstolo Paulo chegou em Roma e foi visitado por muitos irmãos (At 28.30,31), todavia, nesse período, não há nenhuma menção de Pedro.

O apóstolo Paulo escreveu quatro cartas de Roma: Efésios, Colossenses, Filemom (62 d.C.) e Filipenses (entre 67/68 d.C.), mas Pedro não é mencionado em nenhuma delas. Se Pedro estava em Roma no ano 60 d.C., como se deve entender a revelação referida no livro de Atos, em que Jesus disse a Paulo: “Importa que dês testemunho de mim também em Roma?” (At 23.11). Se Pedro estava em Roma, não caberia a ele estar cumprindo esta função? Onde se encontrava o suposto papa de Roma nessa ocasião?

É por estas e outras razões que não acreditamos que Pedro tenha fundado ou presidido a Igreja de Roma, como afirmam os católicos.

O insustentável suporte da tradição

A tradição é um dos pilares nos quais se assenta a teologia romanista. O principal órgão da tradição é a Patrística, os escritos dos pais da Igreja. Essa tradição é de relevante valor à causa católica, pois dela advém toda a “lógica” da “sucessão apostólica”. É dela que é extraída a má interpretação de Mateus 16.18, da primazia de Roma, da corrente sucessória de São Pedro, etc. Na verdade, as coisas são bem diferentes quando analisadas de maneira criteriosa.

Dos inúmeros pais da Igreja, somente 77 opinaram a respeito do assunto de Mateus 16.18, sendo que 44 reconheceram ser a fé de Pedro a rocha. Os outros 16 julgaram ser o próprio Cristo e somente 17 concordaram com a tese vaticana. Nenhum deles afirmou a infalibilidade de Pedro e tampouco o tinham como papa. Exemplo disso é Santo Agostinho que, em uma de suas obras,13 expressamente afirma que sempre, salvo uma vez, ele havia explicado as palavras sobre esta pedra — não como se referissem à pessoa de Pedro, mas sim a Cristo, cuja divindade Pedro havia reconhecido e proclamado.

Diz certa fonte católica14 que: “Se a corrente da sucessão apostólica por alguma razão encontra-se interrompida, então as ordenações seguintes não são consideradas válidas, e as missas e os mistérios, realizados por pessoas ilegalmente ordenadas, estão desprovidos da graça divina. Essa condição é tão séria que a ausência de sucessão dos bispos em uma ou outra denominação cristã despoja-a da qualidade de Igreja verdadeira, mesmo que o ensino dogmático presente nela não esteja deturpado. Esse foi o entendimento da Igreja desde o seu início”.

Finalizando

Procuramos não ser prolixos ao historiar sobre esta questão. Todos sabemos que o trono dos papas teve seus momentos de vacância. Muitos papas conquistaram este título por dinheiro; outros, considerados legítimos, foram condenados como hereges; e quantos, pela ganância do cargo, foram envenenados por seus rivais. Houve também os nomeados por imperadores e, quando não, havia três ou mais papas se excomungando mutuamente pela disputa da cadeira de São Pedro. Sem falar, é claro, da época negra da pornocracia (influência das cortesãs no governo).

Não é debalde que a obra literária clássica Divina comédia, de Dante Alighieri, coloca vários papas no inferno. Há, ainda, uma tremenda contradição nas muitas listas dos pontífices romanos expostos por historiadores católicos, nas quais os nomes de tais sucessores aparecem trocados ou ausentes, sem consenso algum. Não cremos que estes homens sejam os verdadeiros sucessores da cátedra de Pedro.

A bem da verdade, essa tal sucessão ininterrupta e contínua dos papas é totalmente arrebentada e falsa. É por demais ultrajante, mesmo para uma mente mediana suportar tamanha incongruência.

Pelo que foi exposto, podemos considerar serenamente que “Pedro nunca foi papa e tampouco o papa é o vigário de Cristo”.

Biografia de Pedro

• Cidade natal: nasceu em Betsaida, Galiléia.
• Filiação: filho de Jonas e irmão do apóstolo André, seu primeiro nome era Simão.
• Moradia: na época de seu encontro com Cristo, morava em Cafarnaum, com a família da sua mulher (Lc 4,31-38).
• Profissão: pescador, trabalhava com o irmão e o pai.
• Qualidades: dinâmico (Mt 17.4), fiel (Mt 26.33), sincero (Jo 21.17), ousado (Mt 14.28), humilde (Lc 5.8), entre tantas outras.
• Defeitos: ansioso (Mt 19.27), inconstante (Mt 14.30), precipitado (Mt 16.22), duvidoso (Mt 26.75)
• Fontes: Os quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), Atos dos Apóstolos e as epístolas de Paulo.
• Ministério: destacou-se entre os doze apóstolos e foi a ele que Cristo apareceu pela primeira vez depois de ressuscitar.
• Cartas escritas: 1 e 2 epístolas que levam o seu nome.

Viagens ministeriais:

- Primeira viagem: de Jerusalém a Samaria (At 8.14-25).
- Segunda viagem: de Jerusalém, através de Lida e Jope, até Cesaréia (At 9.32; 11.2).
- Terceira viagem: de Jerusalém a Antioquia (At 15.1-14; Gl 2.11).

• Pedro e Jesus:

- Perto do mar da Galiléia, é chamado para seguir a Jesus (Mt 4.18,19).
- Perto da Galiléia, encontra a moeda do tributo na boca do peixe (Mt 17.24-27).
- Na Galiléia, anda sobre as águas do mar (Mt 14.28,29).
- Em Jerusalém, na última Ceia, Jesus lava seus pés (Jo 13.6,7).
- No Jardim do Getsêmani, corta a orelha de Malco (Jo 18.10,11).
- Em Jerusalém, no palácio do sumo sacerdote, nega o seu Senhor (Jo 18.25,27).
- Em Jerusalém, sente remorso (Mt 26.75).
- João e ele correm, apressados, para o túmulo vazio (Jo 20.3-8).
- Junto ao mar da Galiléia, após a ressurreição, vê o mestre e é consolado (Jo 21.3-17).


• Momentos ministeriais marcantes:

Em Jerusalém, profere seu maior discurso, quando ocorrem quase três mil conversões (At 2.41).

- Em Jerusalém, cura um paralítico (At 3.6).
- Em Jerusalém, profere dura sentença sobre Ananias e Safira (At 5. 1-11).
- Em Lida, cura Enéias de paralisia (At 9.34,35).
- Em Jope, ressuscita Tabita, também chamada de Dorcas (At 9.36-41).
- Em Jope, tem a visão do lençol descendo do céu (At 10.9-16).
- Em Cesaréia, prega na casa de Cornélio (At 10.23-48).
- Em Jerusalém, é libertado da prisão por um anjo (At 12.3-10).

Pedro em Roma, segundo a tradição católica romana

Todos os anos, milhares de peregrinos cristãos vão para o Vaticano, o centro da cristandade católica, para visitar a basílica que possui o nome do apóstolo Pedro. É dito aos visitantes que o túmulo de Pedro encontra-se nessa igreja.

De acordo com uma antiga tradição, Pedro tornou-se mártir em Roma durante as perseguições aos cristãos por parte do imperador Nero, nos anos 60 A.D. Contudo, não temos a mínima idéia de como ou quando ele chegou lá e as evidências, arqueológicas e textuais, deste período em Roma são poucas – datadas do segundo século A.D., tão-somente.

Clemente é o primeiro a escrever sobre o sofrimento e o martírio de Pedro6, mas não nos dá nenhum indicativo de que Pedro tenha trabalhado ou morrido em Roma. O bispo Inácio de Antioquia, enviado a Roma e martirizado entre os anos 110 e 130 A.D., também não faz menção a Pedro como líder (bispo) da igreja em Roma.

Os teólogos católicos romanos entendem que o texto de 1Pedro 5.12,13 o situa em Roma — mas de maneira críptica; isto é, descrevem o remetente da carta como “o eleito na Babilônia”, um código do século 1º para Roma, o império opressor daqueles dias. Mas embora esta carta contenha o nome de Pedro, alguns acreditam que não tenha sido escrita por ele. Além disso, a carta é endereçada aos cristãos das províncias da Ásia menor romana, confirmando o relato de Paulo das atividades de Pedro no extremo Leste.

No final do século 2º, contudo, Pedro se junta a Paulo, de forma regular, como um dos fundadores da igreja em Roma. A inspiração para essa tradição parece vir do livro de Atos, que divide, de forma organizada, a descrição sobre como o evangelho foi espalhado de Jerusalém (o cenário de Atos 1) até Roma (o cenário do capítulo final, Atos 28): uma seção de Pedro (Atos 1-12) seguida por uma seção de Paulo (Atos 13-28). Na mesma época, o pai da igreja, Irineu (c. 185 A.D.), descreveu a igreja de Roma como “a igreja maior, mais antiga e igreja universalmente conhecida, fundada e organizada em Roma pelos apóstolos mais gloriosos: Pedro e Paulo”.7 O presbítero (ancião da igreja) Gaio menciona dois monumentos em Roma dedicados a esses “fundadores da igreja”. Segundo Gaio, o monumento de Pedro encontra-se no Vaticano e o de Paulo, no Caminho de Ostiense (região Sul de Roma, onde se encontra a Basílica de São Paulo fora dos muros)8. O termo usado por Gaio para monumento foi tropaion, que significa “troféu” — pode refer
ir-se também a um túmulo ou a um memorial erguido no local do sofrimento9. Assim, Gaio é o escritor mais recente a situar o martírio de Pedro em Roma.

No início do século 3º, o escritor cristão Tertuliano supõe que os leitores saibam que Pedro foi crucificado e Paulo executado (provavelmente decapitado) durante as perseguições do imperador romano Nero10. Tertuliano interpreta a morte de Pedro como o cumprimento de João 21.18,19, no qual Jesus prediz: “Quando for velho [Pedro], estenderá as mãos e outra pessoa o vestirá e o levará para onde você não deseja ir. Jesus disse isso para indicar o tipo de morte com a qual Pedro iria glorificar a Deus”.

A tradição, comum no meio cristão, de que Pedro fora crucificado de cabeça para baixo vem de uma obra de 231 A.D: “E, por fim, vindo a Roma, ele foi crucificado de cabeça para baixo; pois havia pedido que sofresse daquela maneira”.11 Jerônimo, no século 4º, acrescenta os motivos que levaram Pedro a fazer tal pedido: “Ele recebeu em suas mãos a coroa do martírio ao ser pregado na cruz com a cabeça voltada para o chão e seus pés levantados para o alto, afirmando que ele era indigno de ser crucificado da mesma maneira que seu Senhor”.12

Segundo a pregação romana, o túmulo de Pedro encontra-se exatamente embaixo do altar consagrado da basílica e atrás do Nicho dos Pálios, local onde as estolas litúrgicas (pálios) são deixadas durante a noite antes de serem entregues aos novos bispos. Escavadores modernos encontraram um nicho escondido nessa parede contendo os ossos de um homem envolvidos em um pano de púrpura cara que, “acreditam”, possuía cerca de 60 anos quando morreu. Em 1968, a igreja declarou que tais ossos eram os restos de São Pedro.

É importante esclarecer que todas estas informações são contestadas por vários estudiosos, devido à ausência de evidências satisfatórias e suspeita de manipulação de informações por parte da igreja romana. Todo o esforço de Roma em autenticar a presença de Pedro por lá visa aglutinar argumentos que corroborariam para aceitação de seu papado em Roma, pois como poderia sê-lo se jamais estivera lá? Entretanto, ainda que houvesse consenso de que Pedro esteve em Roma e que lá foi martirizado, isso ainda não seria o suficiente para alterar a avalanche de argumentos bíblicos que se opõe ao estabelecimento de seu papado. A dogmática católica depende da presença de Pedro em Roma, porém, esta suposta presença, se fosse confirmada, não tem a capacidade em si mesma de evidenciar que Pedro tenha iniciado a linha de sucessão apostólica, como quer a igreja romana.


Extraído do site do ICP

TRANSUBSTANCIAÇÃO É BIBLICO

O corpo de Cristo - Podemos crer na transubstanciação?



Por Edivaldo Pereira

A eucaristia é um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Segundo o dogma católico, Jesus Cristo se acha presente sob as aparências do pão e do vinho, com seu corpo, sangue, alma e divindade. Isto é o que geralmente se entende por transubstanciação.

A doutrina da transubstanciação não tem respaldo bíblico. Ao longo de sua história, nem todos os representantes da Igreja Católica concordaram com essa doutrina, entre eles podemos citar os papas Gelásio I e Gelásio II, São Clemente e Agostinho, entre outros.

A tradição da Igreja Católica, além de tropeçar nas metáforas e figuras da Bíblia na questão da eucaristia, que por si mesma já é uma aberração teológica, consegue embutir nela mais algumas heresias, como a ministração de apenas um só dos elementos aos fiéis — a hóstia. Segundo essa doutrina, a hóstia preserva o comungante de pecados, tem poder para ajudar os mortos e, pasmem!, pode ser adorada. Tais heresias não têm o mínimo fundamento bíblico, entretanto, são de vital importância dentro da dogmática do catolicismo romano e, por isso, ainda estão de pé.

É preciso salientar ainda que a confecção da hóstia teve sua origem no paganismo, sendo, portanto, plagiada e inserida no bojo doutrinário da igreja romana.

A hóstia passou a substituir o pão da ceia somente no ano de 1200. É algo impar, especial, fabricada com trigo e sempre redonda. Por ocasião da festa de Corpus Christi1, o “Santíssimo Sacramento” é levado às ruas em procissão dentro de uma patena2 de ouro representando um sol. Podemos constatar nesse ato uma flagrante analogia com as religiões pagãs da antiguidade. Conta-se que a deusa Ceres3 era adorada como a “descobridora do trigo” e, por conta disso, representada com uma espiga de trigo nas mãos. Tal representação correspondia à deusa Mãe e seu filho. O filho de Ceres, que se encarnara no trigo, era o deus Sol. Compare essa afirmação com a doutrina católica que transformara Jesus num pedaço de pão de trigo no formato arredondado do sol cujo ostensório4 também tem um desenho com raios solares.

Por que só a hóstia?

O estudante de história da igreja sabe perfeitamente que nenhuma doutrina católica advinda da chamada “Tradição Oral”5 pode ser substanciada, quer na história dos primeiros séculos da igreja, quer na Bíblia! Nesta última, muito menos.

Os apóstolos seguiram o costume bíblico de ministrar a ceia sob esses dois emblemas: pão e vinho. A igreja pós-apostólica6 também seguiu o mesmo exemplo, como vemos ao analisar as obras patrísticas7 dos primeiros séculos. Os católicos precisam rodear e florear suas explicações para esclarecer o fato de o sacerdote dar apenas um dos emblemas (pão) ao fiel, o que é uma clara desobediência ao mandamento do Mestre. Jesus foi taxativo ao dizer “bebei dele TODOS”. Essa ordem de fato não se pode cumprir na Igreja Católica. Por mais argumentos que inventem, a verdade continua inalterável: Jesus e os apóstolos nunca mudaram o mandamento. Portanto, Jesus instituiu as duas espécies (Mt 26.26,28), e os apóstolos seguiram esta ordenança (1Co 11.23-28). Isto só veio a ser mudado nos concílios de Constança8 e, posteriormente, reafirmado no de Trento9. No entanto, voltamos a reafirmar que a ordem de Cristo foi mais que explícita: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6. 53-56; grifo do autor).

Esse trecho das Escrituras levou dois clérigos da Igreja Católica, Jacobel de Mysa e João de Leida (séc. XIV), a voltarem ao princípio das duas espécies e logo se empenharam em espalhar isto na cidade de Praga, e não demorou muito, logo toda a Boêmia se declarou a favor. Mais tarde, João Huss foi para a fogueira papal por defender essa doutrina bíblica.

Ora, Jesus não foi explícito ao dizer que quem não bebe o seu sangue não tem parte com ele e não tem a vida eterna? Isto não serviria como uma grande advertência aos católicos? Não estariam correndo o risco de não terem parte na vida eterna? Porque na prática não bebem do sangue como disse Jesus! Se as duas espécies fossem coisa de somenos importância, de certo Jesus teria instituído uma espécie apenas: somente o pão. É certo que as Escrituras nunca fazem qualquer menção de que Cristo esteja com seu sangue embutido no pão. A linguagem usada é por demais contundente: comer e beber, pão e vinho, carne e sangue. A igreja romana tem alterado o mandamento original recusando-se a seguir o exemplo de Jesus e dos apóstolos e tem abandonado a prática de toda a igreja primitiva; prova disso é a Igreja Ortodoxa, que é tão antiga quanto a romana, e mesmo assim ainda preserva o costume bíblico de ministrar o pão e o vinho aos fiéis. Por outro lado, as igrejas evangélicas têm seguido a mesma prática instituída por Cristo sem alterações e, por isso, podem usufruir das bênçãos advindas dessas duas espécies, algo que não se dá na Igreja Católica.

O que significa discernir o corpo do Senhor?

Dentro da teologia existe uma disciplina chamada hermenêutica. O que é hermenêutica? Em toscas palavras, hermenêutica nada mais é do que a ciência de interpretar textos antigos, sendo uma das matérias de estudo no campo do Direito. Dentro do contexto teológico é a arte de interpretar a Bíblia. Dentre as inúmeras regras, a mais salutar e primordial de todas é a do exame do contexto. Vamos aplicá-la aqui.O texto em lide reza: “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor” (1Co 11.29).

Entre os cristãos daquela época existia uma festa chamada “Festa Ágape” ou festas de amor (Jd 12). Era comum entre os cristãos celebrarem a ceia com esta refeição, destinada a ajudar os pobres (esta prática perdurou até na época de Justino, o mártir: 100-170 ).

Corinto era uma igreja problemática em termos de doutrinas (véu, dons espirituais, batismo, brigas, divisões e Santa Ceia), e eles não estavam discernindo o real objetivo de suas reuniões (v. 17,18-20). Para eles, aquilo era apenas uma festa como as demais festas mundanas da sociedade grega (Corinto era grega) da qual tinham vindo. Então, quando se reuniam, todos se embriagavam (v. 21), como faziam antes de se converterem, e não discerniam que aquilo era muito mais que uma festa, devia ser observada “em memória” de Cristo (v. 25). Por isso as pessoas deveriam examinar a si mesmas antes de tocar no pão e no cálice (v. 28), pois correriam o risco de tomarem a ceia de modo indigno, fora do propósito para a qual fora estabelecida, ou seja, para a comunhão e não divisão dos fieis (v. 18). Isto é o que o apóstolo Paulo queria dizer com “discernir o corpo do Senhor”. Não há nada que insinue no texto a herética doutrina da transubstanciação. O contexto, quando analisado honestamente, não comporta tal idéia. Logo, qualquer conclusão que passar disso não é verdadeira.

Os disparates dessa doutrina

Ensina a teologia católica a transubstanciação (alteração de substância) durante a eucaristia. Após serem consagrados os elementos, pão e vinho, pelo padre e repetidas as palavras de Cristo, “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”, misteriosamente o pão se transforma na carne de Cristo e o vinho, no sangue. Levando as palavras de Cristo a um “literalismo” bruto, interpretam ser o pão o próprio corpo de Cristo presente na hóstia. Essa doutrina é baseada principalmente no trecho do evangelho de João 6.53: “se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos”. Contudo, daremos algumas razões de nossa rejeição a essa doutrina errônea e perigosa.

1. Se na frase “isto é o meu corpo” o verbo “ser (é)” implica a conversão literal do pão no corpo de Cristo, segue-se igualmente que nas palavras “eu sou o pão da vida” (Jo 6.35) o verbo “ser (sou)” deve implicar igual mudança, ensinando-nos que Cristo se converte no pão, de modo que, se o primeiro é uma “prova” da transubstanciação, o segundo demonstra necessariamente o contrário; se o primeiro demonstra que o pão pode converter-se em Cristo, o segundo demonstra que Cristo pode converter-se em pão, o que é um verdadeiro absurdo, mas é isto o que a lógica dessa filosofia nos leva a entender.

2. Se acreditarmos que nesse episódio Jesus estava se referindo à eucaristia, então forçosamente ninguém pode se salvar sem o sacramento, e todo aquele que o recebe não pode se perder. Seria sempre necessário ao fiel comungar-se para não perder a bênção da vida eterna. E aqueles que não podem tomá-la? Estariam destinados ao inferno? Crêem os católicos que todo aquele que comunga tem a vida eterna? Pois Jesus disse que, sem exceção, “todo aquele” que comesse a sua carne teria de fato a vida eterna. E o que dizer então daqueles que bebem indignamente (1Co 11.28)? Tal é a contradição e confusão que nos mostra tão descabida teoria se levada ao pé da letra.

3. Esse ponto já foi tratado acima, mas vamos reforçá-lo aqui. Ora, se tomadas literalmente essas palavras, o beber o sangue é tão importante quanto o comer a carne. Em outras palavras, é tão necessário comer o pão (hóstia) como beber o cálice (vinho). E por que então o padre nega aos fiéis esse direito, desobedecendo a Bíblia?

Analisando João 6

Diz o padre Alberto Luiz Gambarini10: “Jesus não deixou dúvidas quanto a esta questão: a eucaristia ou ceia não é uma mera lembrança, e sim a presença por inteiro de Jesus Cristo”.11

Pois bem, analisemos essa questão dentro de seu contexto imediato, pois tais palavras tomadas isoladamente e sem explicação podem ter um sentido, mas dentro do seu respectivo contexto, levando em consideração a aplicação que o Senhor lhes deu, têm outro sentido bem distinto.

“Respondeu-lhes Jesus: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo 6.26,27; grifo do autor). Essas palavras deram princípio ao discurso e são a chave para compreendermos o sentido exato e a razão pela qual Jesus usou a linguagem figurada “comer” e “beber”.

A única dificuldade que há para a compreensão desse discurso de Jesus está relacionada à falta de consideração à figura que lhe deu origem; ou seja, os judeus seguiam Jesus por causa do milagre dos pães, por causa do alimento material. Ao contrário, Jesus elucida que a comida que ele tem é algo maior: “a comida que permanece para a vida eterna” (v. 27). Então, os judeus apelam para o episódio do maná que desceu do céu. Jesus explica que o verdadeiro pão não era o maná, mas que o pão verdadeiro é outro, o próprio Cristo. Daí, disseram os judeus: “Senhor, dá-nos sempre desse pão” (Jo 6.34).

Até aqui, percebemos que os judeus não estavam entendendo a mensagem de Jesus e, por isso, interpretava-o de modo literal, assim como os católicos fazem. Jesus então explica que o sentido de sua mensagem era simbólico, espiritual, não literal: “E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede” (Jo 6.35). Esse versículo é muito importante, pois nos explica que comer a carne e beber o sangue de Jesus é somente crer e ter fé nele, recebendo-o; nada mais que isso. É justamente isso que significa o alimento do seu corpo: “Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna” (Jo 6.40). Jesus rechaça qualquer tipo de confusão quanto a isso quando arremata: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (Jo 6.63). Jesus estava falando espiritualmente, não fisicamente. Estava explicando que a vida vem por meio da fé nele, e não comendo o seu corpo.

Então, como explicar esse versículo: “...e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (Jo 6.51)? Será que com isso Jesus não estava ensinando sobre a eucaristia, quando os seus seguidores iriam alimentar-se dele por meio da hóstia num tempo futuro? Não necessariamente. A Bíblia ensina, sem sombra de dúvidas, que a vida eterna viria por meio de sua morte na cruz, dando seu corpo, isto é, sua carne para ser sacrificada. E isso está em perfeita concordância com o restante das Escrituras. Veja como o apóstolo Paulo entendeu essa questão: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade” (Ef 2.14).

A Bíblia nos diz que Cristo realmente deu seu sangue e sua carne ao mundo para alcançarmos a vida eterna. Vejamos: “E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1.20-22) e “Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hb 10.20).

A conclusão a que chegamos, lendo o contexto, é que o “alimentar-se” de Jesus (seu corpo), por meio da sua carne e do seu sangue, é a mesma figura de linguagem utilizada por ele em João 4.14: “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”. Assim como essa “água” era espiritual, a bebida e a comida também, tanto é que quando os discípulos entenderam de modo literal essa mensagem Jesus prontamente os corrigiu explicando que: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (Jo 6.63). O “alimentar-se” de Cristo seria “crer nele”, quando então o Pai entregaria seu Filho na cruz para ser sacrificado por nossos pecados. Muitos pais da igreja primitiva concordavam com este ponto de vista, entre eles Agostinho, considerado um dos maiores doutores da Igreja Católica.

Lembrança ou presença real?

“Isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim” (1Co 11.24)

Esse é o argumento mais repetido entre os católicos para sustentar a transubstanciação. Não há algo mais claro nessa passagem do que a verdade de que aquilo era realmente o corpo de Cristo, dizem os católicos.

Não precisamos nos esforçar muito para desfazer essa interpretação, basta-nos apenas recorrer ao contexto. Ora, é importante entender que Jesus instituiu a Santa Ceia na ocasião em que estava comendo a ceia pascal. Sem dúvida, ele recordava de que aquela Páscoa foi instituída para comemorar, pela aspersão do sangue do cordeiro, a saída dos israelitas do cativeiro do Egito.

O pão que Jesus tomou e abençoou e deu aos discípulos era o pão pascal. Muitos católicos dizem que Jesus não comeu aquele pão, mas tal assertiva se mostra falsa quando lemos que Jesus iria comer realmente aquela comida, veja: “E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a Páscoa, para que a comamos [...] E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos?” (Lc 22.8,11; grifo do autor).

Todas as suas ações e palavras tinham alguma relação com a antiga Páscoa. Tendo isso em vista, devemos procurar na antiga festa uma explicação para a Santa Ceia que ele iria substituir, pois ele (Jesus) é a nossa Páscoa (1Co 5.7).

Quando Moisés instituiu a Páscoa, mandou os israelitas comerem a carne e aspergirem o sangue do cordeiro em suas casas (Êx 12.7,8). Só que o cordeiro que comiam não era a “Páscoa”, pois tal palavra é derivada do verbo pasah, que significa “passar por cima”, dando a idéia de “poupar e proteger” (Êx 12.13).

A Páscoa do Senhor era o “passar do anjo por toda a terra do Egito”. Vê-se, pois, que o ato de passar por cima das casas dos israelitas era uma coisa e o cordeiro que os israelitas comiam era outra essencialmente distinta: uma era um fato e a outra, a recordação desse fato.

Embora Moisés tivesse dito a respeito do cordeiro: “É a Páscoa” (a passagem do Senhor), isso não significa, porém, que quisesse dizer que o cordeiro que os israelitas tinham assado e estavam comendo poderia ter-se mudado ou transformado no ato de passar o Senhor por cima das casas. O sentido simplesmente era: “É uma recordação da Páscoa ou da passagem do Senhor”. Temos, pois, aqui, um exemplo clássico dessa figura de retórica pela qual se dá o nome da coisa que ela recorda, ou se põe o sinal pela coisa significada. Quando, pois, as famílias se reuniam em torno da mesa para comer a Páscoa, o chefe da família dizia: “Esta é a Páscoa do Senhor”, quando, na verdade, estava querendo dizer o seguinte: “Esta é a recordação da Páscoa do Senhor”.

Pois bem, fincado na essência dessa celebração, Jesus certamente se valeu da mesma expressão conhecidíssima dos israelitas. Depois de a Páscoa ter sido abolida e substituída pela Santa Ceia, Jesus serviu-se da mesma expressão de que tinha feito uso na celebração antiga. Era natural que, do mesmo modo que tinha dito da Páscoa “Esta é a Páscoa do Senhor”, recordando-se do que fora feito na época de Moisés, Jesus usasse também mui naturalmente as palavras “Isto é o meu corpo” ou “Isto é o meu sangue”, para significar que aquele rito devia ser usado como recordação do seu corpo e do seu sangue oferecidos na cruz, sendo ele o verdadeiro cordeiro de Deus (Jo 1.29) que nos libertou do cativeiro do pecado.

Os discípulos, por serem judeus versados nas Escrituras, estavam, por certo, familiarizados com tais figuras de linguagem (Sl 27.1,2; Is 9.18,20; 49.26), não lhes sendo difícil entender o que Jesus queria lhes dizer. Pois, antes disso, haviam ouvido o seguinte de Jesus: “Eu sou a porta” (Jo 10.7), “Eu sou o caminho” (Jo 14.6) e “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12), e entenderam perfeitamente a linguagem.

Então, quando Jesus, ao distribuir os elementos da ceia (pão e vinho), disse: “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”, ele estava falando de maneira figurativa. Tanto é que ordenou: “fazei isto em memória de mim”. Assim, temos razão para crer que a ceia era uma comemoração ou lembrança de sua morte na cruz, e devemos prosseguir fazendo isso (ou seja, celebrando a Santa Ceia) até que ele venha.

Veja que mesmo depois de ter sido consagrado por Jesus, o vinho continuou sendo vinho, o que serve para corroborar o nosso ponto de vista: “Porque vos digo que já não beberei do fruto da vide [não disse meu sangue], até que venha o reino de Deus” (Lc 22.18).

Paulo simplesmente considerava os elementos da Santa Ceia como pão e vinho, e não o corpo do Senhor transubstanciado: “Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Portanto, qualquer que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se o homem a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice” (1Co 11.25-28).

O pão representava o corpo do Senhor e o vinho, o sangue. Todas as vezes que nos reunimos para celebrar a Santa Ceia fazemos isto sempre em memória do Senhor, pois ele mesmo disse: “fazei isto em memória de mim”.

Não podemos sacrificar Cristo novamente (Hb 7.24,27)!

Os contra-sensos da transubstanciação

Por darem ouvido ao dogma da transubstanciação, os católicos, além de incorrerem num terrível engodo, acabam por abraçar uma teoria fictícia. Vejamos:

*Se naquela ocasião em que Jesus disse “Isto é o meu corpo” realmente tivesse ocorrido a tão propalada “transubstanciação”, então somos levados a acreditar que existiam naquele momento dois corpos do Senhor. Levando esse dogma às últimas conseqüências, teremos isto: Jesus pegou aquele pedaço de pão, já transformado em seu corpo (com divindade e alma, segundo crêem os católicos) e deu-se a si mesmo para seus discípulos comerem. Depois de terem comido o corpo do Mestre, os discípulos sentaram-se ao seu lado. E mais: Jesus também teria comido e engolido a si próprio, pois certo é que ele também participou da ceia!

*Se tal pão consagrado tivesse sido comido acidentalmente por um roedor, dar-se-ia o caso de o animal também ter engolido o Cristo com seu corpo, alma e divindade.

*Se a hóstia se estragar e apodrecer, seria o caso de o corpo de Cristo, que está nesse elemento, apodrecer também. Então, como fica Atos 2.31, que diz que a carne de Cristo não se corrompe?

*Se o que dá vida é o espírito, por que Deus se faria carne por meio da hóstia para nos vivificar?

*Se Cristo nos ordenou que celebrássemos a cerimônia até que ele voltasse, conforme 1Coríntios 11.26, como pode estar presente na hóstia? Se ele virá, quer dizer que não está! Devemos ressaltar que tal vinda é escatológica, quando Cristo virá em corpo, pois, espiritualmente, ele está conosco todos os dias (Mt 18.20, 28.20) e esta promessa não tem nada que ver com a Santa Ceia.

*O papa Pio IX se vangloriava com o dogma da transubstanciação, dizendo: “Não somos simples mortais, somos superiores a Maria. Ela deu à luz um Cristo só, mas nós podemos fazer quantos cristos quisermos; nós, os padres, criamos o próprio Deus”.

Uma coisa tão extraordinária como essa. Um milagre tão estupendo: mudar um pedacinho de pão no próprio Deus. Um milagre tão diferente de todos os que se têm notícia. Tudo isso deveria ter uma prova muito mais clara e contundente do que meras formas de expressão. É, sem dúvida, algo que foge à nossa compreensão, não por ser algo misterioso, mas por ser irracional e incoerente. Quando se prova o pão, ele ainda é pão, tem cheiro de pão, o gosto ainda é de pão. E o mesmo se dá com o vinho!

Onde temos o corpo de Cristo nisso tudo? Esquivar-se, fazendo uma separação arbitrária de milagres, visíveis para os incrédulos e invisíveis para os crentes (diga-se católicos), é ultrapassar o que está escrito.

Onde está tal divisão nas Escrituras? Em lugar nenhum!

Mas é preciso argumentar para forjar explicações que sirvam de alicerce para a doutrina católica.

Interpretação dos reformadores

Para a Reforma Protestante, são dois os sacramentos instituídos pelo próprio Cristo: o batismo, que marca o início da vida cristã, e a Santa Ceia, que significa a manutenção dessa vida, a santificação.

Unidos sobre o sentido do batismo, apesar de ênfases diversas, os reformadores se dividiram sobre o sentido da eucaristia. Lutero12 se opôs à missa como obra meritória e repetição eficaz do sacrifício do Cristo. O oferecimento da graça se efetua sob duplo signo instituído por Cristo: não se pode recusar a nenhum fiel o pão e o vinho oferecidos por Jesus, em oposição ao Concílio de Constança, de 1414, que proibiu o uso do cálice aos leigos. Contudo, Lutero opõe-se a uma presença meramente simbólica de Cristo na ceia. Mantém a tese da “consubstanciação”, segundo a qual o pão e o vinho permanecem presentes na ceia simultaneamente com o corpo e o sangue de Cristo.

Zwinglio13 vê na ceia cristã o simples memorial que comemora o sacrifício único e infinitamente suficiente de Cristo. Calvino14 queria mais do que uma presença somente simbólica à maneira de Zwinglio, mas repudiou não só a posição católica como a luterana. Para Calvino, a “substância” não se refere a um substrato invisível na matéria do objeto, mas significa a realidade profunda de um ser. O pão e o vinho não só representam a comunhão com o corpo e o sangue de Cristo, mas também “apontam” para a realidade desse significado. O que Calvino rejeitou foi a idéia da “presença local”; ele acreditava no Espírito Santo e não num fenômeno especial, para relacionar diretamente o comungante com o Cristo vivo.

O anglicanismo15 adotou o essencial das posições da Reforma. A confissão anglicana conserva dois sacramentos (batismo e ceia), proíbe as procissões solenes do Santíssimo Sacramento e a adoração das espécies consagradas. O corpo do Senhor é recebido mediante a fé (conceito calvinista). A maioria esmagadora dos protestantes aceita as noções de Calvino e Zwinglio.

Antes de finalizarmos este estudo é necessário fazer um adendo sobre a posição de Lutero. Apesar de ter sido levantado por Deus, Lutero, no princípio, não pretendia separar-se da Igreja Católica, mas reformá-la por dentro. Tendo esse pano de fundo histórico, podemos entender por que ele não abdicou de certas noções católicas. Ele representava a primeira geração dos reformadores e, por isso, muitas coisas ainda estavam enraizadas profundamente nele. Somente com o decorrer do tempo é que a doutrina da Reforma foi se purificando mais e mais. É bem parecido com o que aconteceu com o cristianismo em relação ao judaísmo no começo de sua história. Esse problema já não aparece nas gerações posteriores dos reformadores, que foram lapidando os lapsos teológicos do catolicismo dentro do protestantismo.