quarta-feira, 27 de julho de 2011

A HERMENÊUTICA DE WESTMINSTER

A HERMENÊUTICA DE WESTMINSTER


O que a Confissão de Fé de Westminster diz sobre a interpretação das Escrituras

Por Augustus Nicodemus Lopes

O neoliberalismo

Não poucos estudiosos e teólogos modernos concordam que o antigo liberalismo, como movimento histórico do século passado, está agonizando. Entretanto, muitos dos seus pressupostos quanto à interpretação das Escrituras têm sobrevivido e encontrado expressão em várias correntes teológicas e hermenêuticas que, historicamente, pertencem ao período pós-moderno.

O rótulo “neoliberalismo” tem sido aplicado ao movimento teológico-hermenêutico que preserva alguns pressupostos racionalistas do antigo liberalismo e se utiliza de conceitos da filosofia, da hermenêutica, da lingüística e da teologia pós-modernas. Particularmente, é o sistema de interpretação das Escrituras do neoliberalismo que se constitui um desafio urgente à doutrina reformada.

A hermenêutica neoliberal

De acordo com a hermenêutica neoliberal, é impossível alcançar o sentido original do texto bíblico. Por outro lado, é possível explorar uma pretensa “reserva de sentidos” que há no texto da Bíblia, extraindo “sentidos” que dependerão das circunstâncias em que estivermos. Conseqüentemente, a hermenêutica neoliberal coloca a verdade apenas como um ideal a ser perseguido, mas um ideal que jamais será alcançado com segurança nesta vida, o que significa, também, que jamais poderemos ter certeza absoluta de que conhecemos a verdade. O máximo que poderemos fazer é afirmar, com convicção, um dos muitos sentidos que poderíamos encontrar no texto.

Partindo de algumas teorias modernas de lingüística, essa hermenêutica sugere que os autores bíblicos poderiam ter escrito algo que não correspondesse à sua intenção original. Com isso, exagera a distância entre o autor e o texto, a ponto de não podermos encontrar a intenção do autor nos textos.

Ainda postulam que a Bíblia nada mais é que uma interpretação da vida e do mundo feita por seus autores, ou seja, basearam-se em sua maneira de interpretar a realidade. O texto bíblico é reduzido ao resultado da busca de sentido na realidade e na história dos seus próprios autores. Esse ensino fere frontalmente o conceito reformado de que a Bíblia, mesmo tendo sido escrita por homens situados no tempo e no espaço, é a revelação autoritária de Deus, por isso o homem faz de tudo para tentar compreender a realidade.

Tais teorias afirmam, ainda, que não se pode ter conhecimento do sentido pleno e verdadeiro das Escrituras, já que o texto não tem um único sentido (pleno e verdadeiro), mas, sim, sentidos múltiplos. O pluralismo religioso do pós-modernismo, em verdade, rejeita o conceito de verdade proposicional (ou seja, de que uma idéia possa ser verdadeira), por isso prega a impossibilidade de se alcançar a interpretação correta de uma passagem bíblica.


Desafios à teologia reformada

Essa abordagem interpretativa tem servido de ferramenta para o surgimento das teologias ideológicas, teologias feministas, teologias de libertação, entre outras, já que transfere o sentido do autor e do texto para o leitor.

Tradicionalmente, a hermenêutica reformada reconhece a necessidade de aplicarmos o texto bíblico às diversas situações em que nos encontramos, mas vê essas aplicações não como “sentidos” novos e múltiplos de um mesmo texto, mas como a significação do sentido único de um texto para as diversas situações da vida.

As implicações da hermenêutica neoliberal acabam transformando a mensagem das Escrituras inacessível à Igreja. De acordo com essa abordagem, acabamos sem Escritura, sem revelação, sem verdade e sem pregação, podendo, no máximo, pregarmos apenas uma interpretação nossa do texto, mas nunca a verdade divina.

Se não podemos alcançar o sentido das Escrituras, não nos resta qualquer base para a doutrina e a prática da igreja, para decisões teológicas, para o ensino doutrinário, para a ordem eclesiástica. Assim, instala-se o caos, por meio do qual cada um pode interpretar, como quiser, as Escrituras, as decisões da Igreja e seus símbolos de fé.

Os princípios de interpretação de Westminster

Devemos ter em mente as coisas que os puritanos escreveram sobre esse assunto na Confissão de Fé de Westminster. Os tópicos da capítulo I da Confissão tratam das Escrituras, por meio dos quais os puritanos expressaram suas convicções quanto à correta interpretação das Escrituras. Vejamos, ainda que em resumo, esses pontos:

1. Para evitar que sua vontade e a verdade se perdessem pela corrupção dos homens e a malícia de Satanás, Deus fê-la escrever nas Escrituras Sagradas. A inspiração das Escrituras resulta no fato de que elas expressam fielmente a vontade de Deus, a verdade divina.

Confissão de Westminster: “Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e a malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo” (CFW, I.1).

Referências bíblicas: Sl 19.1-4; Rm 1.32; 2.1; 1.19,20; 2.14,15; 1Co 1.21, 2.13,14; Hb 1.1,2; Lc 1.3,4; Rm 15.4; Mt 4.4,7, 10; Is 8.20; 1Tm 3.15; 2Pe 1.19.

2. Temos a possibilidade de conhecer o sentido das Escrituras, conforme pretendido por Deus, mediante o autor humano.

Confissão de Westminster: “Todo o conselho de Deus, concernente a todas as coisas necessárias para a sua própria glória e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela” (CFW, I.6)

Referências bíblicas: 2Tm 3.15-17; Gl 1.8; 2Ts 2.2; Jo 6.45; 1Co 2.9, 10, l2; 1Co 11.13,14.

3. O Espírito Santo garante a compreensão salvadora das coisas reveladas na Palavra de Deus, as Escrituras.

Confissão de Westminster: “À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens. Reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas” (CFW, I.6. Cf. Catecismo maior, pergunta 4).

Referências bíblicas: 2Tm 3.15-17; Gl 1.8; 2Ts 2.2; Jo 6.45; 1Co 2.9,10,l2; 1Co 11.13,14.

4. O sentido das Escrituras é tão claramente exposto e explicado que a suficiente compreensão das mesmas pode ser alcançada pelos meios ordinários (pregação, leitura e oração).

Confissão de Westminster: “Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura, são tão claramente expostas e explicadas que não só os doutos, mas também os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas” (CFW, I.7).

Referências bíblicas: 2Pe 3.16; Sl 119.105, 130; At 17.11.

5. Há somente um sentido verdadeiro e pleno em cada texto da Escritura e não múltiplos sentidos, e esse sentido pode ser alcançado e compreendido pela Igreja.

Confissão de Westminster: “A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente” (CFW, I.9).

Referências bíblicas: At 15.15; Jo 5.46; 2Pe 1.20,21.

6. É exatamente porque as Escrituras não têm sentidos múltiplos que são o supremo tribunal em controvérsias religiosas, às quais a Igreja sempre deve apelar.

Confissão de Westminster: “O Antigo Testamento em hebraico (língua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência, conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e, assim, em todas as controvérsias religiosas, a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal” (CFW, I.8. Cf., como exemplo, XXIX.6).

Referências bíblicas: Mt 5.18; Is 8.20; 2Tm 3.14,15; 1Co 14.6,9,11,12,24, 27,28; Cl 3.16; Rm 15.4.

7. A vontade de Deus está claramente expressa nas Escrituras e ao alcance da Igreja, de forma que a mesma pode distinguir entre o culto aceitável a Deus e aquele que não é.

Confissão de Westminster: “A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás, e muito menos sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras” (CFW, XXI,1).

Referências bíblicas: Rm 1.20; Sl 119.68; 31.33; At 14.17; Dt 12.32; Mt 15.9; 4.9,10; Jo 4.3, 24; Êx 20.4-6.

8. Apesar de os salvos serem humanos e pecadores, recebem de Deus o que é necessário para que possam compreender as coisas de Deus para a salvação.

Confissão de Westminster: “Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é servido, no tempo por Ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua Palavra e pelo seu Espírito, tirando-os, por meio de Jesus Cristo, daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isso Ele o faz, iluminando o seu entendimento espiritualmente, a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, arrancando deles seus corações de pedra e dando-lhes corações de carne, renovando as suas vontades e as determinando pela sua onipotência para aquilo que é bom, além de atraí-los eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça” (CFW X,1. V. tb. o Catecismo maior, pergunta 157).

Referências bíblicas: Jo 15.16; At 13.48; Rm 8.28-30; 11.7; Ef 1.5,10; 1Tes 5.9; 2Ts 2.13,14; 2Co 3.3,6; Tg 1.18; 1Co 2.12; Rm 5.2; 2Tm 1.9,10; At 26.18; 1Co 2.10,12; Ef 1.17,18; 2Co 4.6; Ez 36.26; 11.19; Dt 30.6; Jo 3.5; Gl 6.15; Tt 3.5; 1Pe 1.23; Jo 6.44,45; Sl 90.3; Jo 9.3; Jo 6.37; Mt 11.28; Ap 22.17.

Considerações finais

Esse pequeno resumo dos princípios de interpretação bíblica, que se encontram na Confissão de Fé de Westminster, serve para mostrar que os puritanos, seguindo a linha de interpretação dos reformadores, entenderam que a única maneira de interpretar as Escrituras, sem violar sua integridade, propósito e escopo, era procurar compreender o sentido que os autores humanos pretenderam transmitir. Os autores reconheciam que essa nem sempre era uma tarefa fácil, mas confiavam que, com a ajuda da ação iluminadora do Espírito, do conhecimento das línguas originais e do contexto histórico, poderiam alcançar esse sentido. A teologia que temos na Confissão de Fé de Westminster é o resultado do emprego sistemático dessa hermenêutica.

Pastor Edivaldo Pereira de Souza

O TEXTO DE COLOSSENSES 2.8 É UMA CENSURA À FILOSOFIA?

O TEXTO DE COLOSSENSES 2.8 É UMA CENSURA À FILOSOFIA?


Por Moyer Hubbard
Tradução Jairo de Oliveira

No meio evangélico, nem todos demonstram uma postura favorável em relação à filosofia. Exemplificando, recentemente recebemos em nosso escritório um aluno que pertence a uma denominação evangélica que desaprova, de modo geral, qualquer formação de nível superior e, em particular, a filosofia. O estudante compartilhou seu sincero desejo de alcançar seus amigos intelectuais com o evangelho. Para tal, reconheceu que precisava compreender os fundamentos filosóficos da cosmovisão dos amigos, mas sua igreja, praticamente, o tem desconsiderado por causa de suas escolhas acadêmicas. Por último, admoestaram-no citando a advertência de Paulo em Colossenses 2.8, que diz: “Cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias...”.

Enquanto eu cursava doutorado na Universidade de Oxford, mantive intenso diálogo com um pastor local que chegou à conclusão deliberada de que o castigo eterno não é ensinado nas Escrituras. Para ele, tal doutrina era resultado do fato de os primeiros cristãos terem adotado o conceito da eternidade da alma, originário da filosofia grega. “A alma humana”, argumentava o pastor, “não foi idealizada para ser eterna, mas, talvez, outorgada eterna pela bondade de Deus quando os perdidos respondem, positivamente, à oferta divina de vida eterna em Jesus Cristo”. Em sua visão, a filosofia grega tem influenciado e corrompido o pensamento cristão de tal maneira que nos deixou “o problema desnecessário do inferno”.

De maneira semelhante, os mórmons (que acreditam que Deus possui um corpo físico) rejeitam a posição ortodoxa de que Deus é um ser imaterial, sem forma física, de acordo com a antiga e desastrosa filosofia de Platão, que defende que a alma é mais “real” que o corpo. Barry Bickmore, um apologista mórmon, crê que esta idéia foi introduzida na igreja, pelos gregos convertidos ao cristianismo, como uma alternativa de tornar o cristianismo mais agradável ao mundo grego: “Sempre haverá a tentação de tornar a fé de alguém mais popular, ‘modernizando-a’, mas o apóstolo Paulo já nos advertiu exatamente contra esse tipo de pensamento: ‘Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas’” (Cl 2.8).

Os cristãos e a filosofia

Historicamente, os cristãos têm-se demonstrado duvidosos sobre a maneira como se comportarem diante da filosofia. Alguns têm seguido Tertuliano, um dos pais da Igreja, ao exigir: “O que tem Atenas a ver com Jerusalém? Que concordância há entre a academia e a Igreja?”. Muitos pensadores cristãos, entretanto, têm seguido Tomás de Aquino e encarado a filosofia como proveitosa, “servente para a teologia”. Um correto entendimento da advertência paulina aos colossenses, com respeito às “filosofias e vãs sutilezas”, é, com certeza, crucial para esta discussão e extremamente relevante para alguns de nós, que defendemos a fé diante dos céticos; estejam eles assentados nos salões acadêmicos ou nos bancos da assembléia dos santos dos últimos dias.

A fim de responder à questão se a advertência de Paulo foi contra a filosofia em si ou uma oposição a algum desvio, é preciso, sem dúvida alguma, examinar o contexto específico do versículo em referência. Mas também é preciso considerar o amplo contexto da vida e das cartas de Paulo. Entender o contexto histórico particular das epístolas paulinas no Novo Testamento freqüentemente é um aspecto-chave para se entender algumas declarações específicas de seus textos.

Paulo e a filosofia

Os familiarizados com a filosofia grega do século 1o observam, muitas vezes, que Paulo também parecia extremamente envolvido com esse assunto. Suas listas de sofrimento (2Co 4.10) e sua forma de diálogo argumentativa (especialmente em sua carta aos romanos) revelam que o apóstolo conhecia os termos dessa discussão. Seu uso de conceitos, tais como: “homem interior” (Rm 7.22; 2Co 4.16) e “auto-suficiência” (2Co 9.8; Fp 4.11), e, ainda, seu apego à utilização de figuras baseadas no corpo humano (Rm 12; 1Co 12), demonstram que ele conhecia a terminologia de argumentar bem e se sentia confortável em utilizá-la. Dirigindo-se aos intelectuais em Atenas, por exemplo, Paulo cita o filósofo estóico Aratus, o que, certamente, era de valor persuasivo para sua audiência: “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração” (At 17.28).

A similaridade entre as cartas de Paulo e os escritos do grande filósofo estóico Sêneca convenceu a muitos, na Igreja primitiva, que Sêneca, de fato, teria se convertido ao cristianismo e se tornado discípulo de Paulo. Essa crença deu origem à simulação de uma série de cartas entre Paulo e Sêneca, e muitos dos primeiros cristãos julgavam que essas cartas eram verdadeiras. Por isso, não causa admiração as palavras de um erudito Paulino, que disse: “A prática deliberada de Paulo de usar termos estóicos, ao redefinir caminhos, representa uma tentativa cristã de comunicação transcultural”.

É importante observar que, num amplo contexto histórico das cartas e pregações de Paulo, não parece haver necessariamente contradições ou conflitos entre o evangelho e a filosofia. Pelo contrário, Paulo demonstra ter conhecimento da linguagem e dos conceitos filosóficos, e usa esse conhecimento para promover o evangelho.

A heresia colossense

“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo [...] Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados [...] Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão [...] Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2.8,16, 8, 20-23).
Observando, agora, os colossenses e o contexto específico do capítulo 2, encontramos Paulo se dirigindo a uma assembléia local que estava sendo infiltrada de falso ensino que ameaçava corromper o evangelho pregado pelo apóstolo. Mas Paulo não nos dá informações suficientes para identificarmos, precisamente, a seita ou “filosofia” descrita por ele. Há alguns indícios, porém, que sugerem que, talvez, o apóstolo estivesse se referindo a um sincretismo híbrido de práticas místicas judaicas e práticas populares pagãs. Então, menciona a observância de dias especiais, incluindo o sábado (v.16); experiências visionárias e culto aos anjos (v.18); submissão aos “espíritos elementares do mundo” (v.20); e abstinência (v. 21,23).

De fato, Paulo está claramente atacando uma forma peculiar de religião especulativa, mas é impossível identificá-la, relacionando-a com qualquer uma das grandes escolas de filosofia conhecidas por nós do mundo greco-romano. Na verdade, é importante ter em mente que a palavra grega filosofia (e seu cognato em latim) tinha uma variedade de significados nesse período e, dependendo do contexto, poderia ser traduzida para “religião”, “especulação” ou “investigação”.

Mais luz é posta sobre esse falso ensino quando consideramos a descrição de Paulo no versículo 8: “Segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”. Provavelmente, a expressão mais importante nesta lista é a que conclui o versículo: “Não segundo Cristo”. Qualquer filosofia ou sistema religioso que não é fundamentado, governado por Cristo e dirigido a Ele, é, necessariamente, uma falsa filosofia ou religião. O alvo primário que Paulo tentava atacar era a especulação “filosófica”, cujo fundamento é meramente a sabedoria humana.

A natureza judaica dessa especulação também é enfatizada na frase “tradições humanas”, expressão que se repete somente em Marcos 7.8, onde Jesus condena os fariseus por rejeitarem “o mandamento de Deus e retêm a tradição dos homens” (Gl 1.14). Os “rudimentos do mundo”. É como Paulo, semelhantemente, descreve a aceitação da Torá pelos gálatas, de acordo com Gálatas 4.3,9. Ao se referir à sincrética especulação judaica como sendo uma “filosofia”, Paulo estava mantendo a mesma analogia que os judeus helenísticos daquela época, algumas vezes, utilizavam quando se referirem à própria fé. O historiador Flávio Josefo denomina o judaísmo e suas várias seitas (essênios, saduceus e fariseus) como “filosofia”, e o escritor judeu de 4Macabeus se refere ao judaísmo em termos semelhantes: “Nossa filosofia [...] ensina temperança, domínio próprio, coragem” (5.22,23). O filósofo judeu Fílon de Alexandria não teve dificuldades também em representar o judaísmo como uma “filosofia” e pode bem ser que em Colossenses 2.8 Paulo esteja utilizando a terminologia dos falsos mestres aos quais se opunha. Dessa forma, poderíamos parafrasear o verso exatamente como segue: “Cuide para que ninguém o torne cativo por meio desse tipo de ‘filosofia’, que é ilusão vazia, meramente fundamentada nas tradições dos homens, segundo os poderes elementares do mundo, e não em Cristo”.

Uma importante advertência

Não há como dizer que Paulo está rejeitando o estudo da filosofia em Colossenses 2.8, mas, mesmo assim, essa passagem contém uma importante advertência que os cristãos precisam observar com atenção. Muitas vezes, o que separa a verdadeira sabedoria da falsa sabedoria é uma linha tênue que pode ser facilmente obscurecida por pessoas com motivos impuros. A advertência de Paulo contra a “sabedoria deste mundo” (1Co 1.20) deveria servir para nos manter atentos aos perigos ocupacionais de rigorosas e extensivas buscas intelectuais. Definitivamente, os cristãos precisam compreender os argumentos dos seus detratores e estarem preparados para que possam se engajar no mundo das idéias (a exemplo de Paulo, em Atenas), mas também precisam ser cuidadosos, a fim de não tirarem seus olhos daquele que é o Autor e Consumador da nossa fé (Hb 12.2).

Extraido do site do ICP

QUADRO RESUMIDO DOS CONCÍLIOS TRINITÁRIOS E CRISTOLÓGICOS

QUADRO RESUMIDO DOS CONCÍLIOS TRINITÁRIOS E CRISTOLÓGICOS

Local Data Assunto Decretos e Definições
Nicéia 325 d.C. Arianismo O Verbo é verdadeiro Filho de Deus, da mesma substância do Pai (homoousios) e, portanto, verdadeiramente Deus. Definição de fé Nicena contra Ário. Consubstancialidade do Filho e do Pai.
Constantinopla 381 d.C. Macedonianos O Espírito Santo é verdadeiro Deus como o Filho e o Pai.
Éfeso 431 d.C. Nestorianismo/ Pelagianismo Cristo, Deus Homem, é um só sujeito (pessoa): a união hipostática (de pessoas) é substancial e não acidental, física ou moral. Condenou-se o pelagianismo.
Caldedônia 451 d.C. Eutiquianismo/ Monofisismo As duas naturezas de Cristo estão unidas (pessoalmente), mas não confusas, mudadas ou de qualquer forma alteradas. As duas naturezas de Cristo se confinam em uma só pessoa.
Constantinopla 553 d.C. Diversos assuntos Confirma-se a condenação dos erros precedentes (trinitários e cristológicos) afirmando os sentidos genéricos das definições conciliares. Desarraigam-se erros derivados de Orígenes.

ÊNFASE CRISTOLÓGICA NOS CREDOS PRIMITIVOS

ÊNFASE CRISTOLÓGICA NOS CREDOS PRIMITIVOS

Credo dos apóstolos

Creio em Deus Pai onipotente e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria, que foi crucificado sob o poder de Pôncio Pilatos e sepultado, e ao terceiro dia ressurgiu da morte, que subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo, na santa Igreja, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna.

Credo de Cesaréia

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor, Jesus Cristo, Verbo de Deus, Deus de toda a criação, por quem foram feitas todas as coisas; o qual foi feito carne para nossa salvação, tendo vivido entre os homens. Sofreu, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao Pai e novamente virá em glória para julgar os vivos e os mortos. Cremos também em um só Espírito Santo.

Credo de Nicéia

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor, Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, sendo da mesma substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não feito, de uma só substância com o Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, encarnou-se e se fez homem. Sofreu, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente virá para julgar os vivos e os mortos.

Cremos no Espírito Santo. E a todos que dizem: “Ele era quando não era, e antes de nascer, Ele não era, ou que foi feito do não existente”, bem como aqueles que alegam ser o Filho de Deus de outra substância ou essência, ou feito, ou mutável, ou alterável a todos esses a Igreja católica e apostólica anatematiza.

Credo Niceno

Cremos em um Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor, Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não feito, de uma só substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne por meio do Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se homem. Foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos, padeceu, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras, subiu aos céus, assentou-se à direita do Pai. Novamente há de vir com glória para julgar os vivos e os mortos e seu reino não terá fim.

Cremos no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou pelos profetas.
Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica.
Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida no século vindouro.

QUEM JESUS FOI REALMENTE?

QUEM JESUS FOI REALMENTE?


Por Augustus Nicodemus Lopes

Nem todos os que hoje se consideram cristãos aceitam que Jesus foi e fez o que os evangelhos nos dizem. Em 1994, uma pesquisa revelou que 87% dos americanos acreditavam que Jesus ressuscitou literalmente dos mortos. Três anos depois, a pesquisa descobriu que 30% dos americanos que se consideram verdadeiros cristãos não aceitavam que a ressurreição de Jesus tenha sido algo físico e literal, mas, sim, uma série de experiências psíquicas dos seus discípulos que, de alguma forma, os transformou completamente.

O Jesus sobrenatural

Durante séculos, o relato dos evangelhos sobre Jesus vem sendo aceito pela Igreja cristã, em geral, como fidedigno, isto é, correspondendo com exatidão aos fatos que realmente ocorreram no início do século 1o , e que formam a base histórica do cristianismo. Baseando-se nesse relato, o cristianismo vem ensinando, desde o seu surgimento, que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que nasceu de uma virgem, que realizou milagres e ressuscitou fisicamente dentre os mortos.

A teologia cristã nunca teve dificuldade séria em admitir a atuação miraculosa de Deus na história, e sempre encarou a mensagem da Igreja apostólica registrada no Novo Testamento (como as cartas de Paulo e os evangelhos) como sendo o registro acurado dos eventos sobrenaturais que se sucederam na vida de Jesus de Nazaré.

Os Concílios cristãos que elaboraram dogmas a respeito da pessoa de Jesus (Nicéia, 325; Constantinopla, 381; Calcedônia, 451) não o fizeram como meras idéias divorciadas da história e de fatos concretos. Para eles, a Segunda Pessoa da Trindade encarnou, viveu, atuou, morreu e ressuscitou dentro da história real.

O Jesus racional

A situação mudou com o surgimento do Iluminismo, no início do século 18. A razão humana foi endeusada como capaz de explicar todas as dimensões do Universo e da existência do homem. Tudo que não pudesse ser aceito pela razão deveria ser rejeitado. Houve uma “desmistificação” de todos os aspectos da vida e do pensamento. A própria Igreja se viu invadida pelo racionalismo. Muitos estudiosos cristãos se tornaram racionalistas em alguma medida. Como resultado, em muitas universidades e seminários se chegou à conclusão de que milagres realmente não acontecem. Os relatos dos evangelhos sobre a divindade de Jesus e de sua atividade sobrenatural passaram a ser desacreditados. Era preciso pesquisar para encontrar o verdadeiro Jesus, já que aquele pintado nos evangelhos nunca poderia ter realmente existido. E assim teve início a “busca pelo Jesus histórico”, levada a efeito por professores e eruditos de universidades e seminários cristãos, que achavam irracional o Jesus sobrenatural dos evangelhos.

Eles afirmaram que, para reconstruir o verdadeiro Jesus, era necessário abandonar os antigos dogmas da Igreja acerca da inspiração e infalibilidade das Escrituras, bem como sobre a divindade de Jesus Cristo. Era preciso usar o critério da razão para separar, nos relatos bíblicos, a verdade da fantasia. Para isso, desenvolveram vários métodos que analisavam os evangelhos como qualquer outro livro antigo de religião, procurando, com isso, descobrir como as idéias fantasiosas acerca de Jesus se originaram nas igrejas cristãs primitivas. Pensavam (ingenuamente) que seria possível examinar a história isentando-se de preconceitos ou pressuposições. Acreditavam que o historiador era tão inocente quanto um eunuco. Entretanto, quando os resultados apareceram, verificou-se que o Jesus reconstruído por eles tinha a “cara” de seus criadores.

No século 17, alguns desses estudiosos publicaram obras asseverando que os escritores bíblicos eram impostores fraudulentos. Então, ofereceram suas próprias reconstruções do verdadeiro Jesus de uma perspectiva totalmente humanística. Segundo alguns deles, Jesus fora um judeu que se considerava o Messias de Israel, e que tentara estabelecer um reino terreno e libertar os judeus da opressão política. Ele pensava que Deus o ajudaria nisso, mas ficou desapontado ao ser preso e crucificado.

Os discípulos, disseram esses estudiosos, a princípio, ficaram atônitos com o fracasso de Jesus; mas depois roubaram seu corpo e substituíram a idéia de um reino messiânico terreno pela idéia de uma “segunda vinda”. Também inventaram os relatos dos milagres tendo como base os milagres do Antigo Testamento, quando Jesus, na verdade não havia feito milagre algum. O propósito dos discípulos, com esse embuste, afirma os racionalistas, era ter um meio de vida, pois não queriam voltar a trabalhar.

Obras desse tipo, hoje, estão desacreditadas. Os próprios estudiosos e críticos as consideram amadorísticas e superficiais. Entretanto, elas deram o impulso inicial à busca do Jesus da história, que, para seus empreendedores, não era o mesmo Cristo da fé da Igreja.

No século 18, apareceram muitas “vidas de Jesus”, que eram tentativas de reconstrução novelística do que teria sido a verdadeira vida de Jesus de Nazaré. Nelas, Jesus foi geralmente considerado um reformador social, um visionário, que pretendia construir uma sociedade melhor por meio de uma religião associada à razão. Os milagres dos evangelhos foram explicados por meio de apelações para causas naturais. As explicações para o surgimento da crença dos discípulos na ressurreição são, por vezes, curiosas. A mais freqüente é a de que Jesus não havia morrido realmente, mas entrado em coma. Algumas são criativas. Uma delas sugere que, após a morte de Jesus, um terremoto sacudiu o local onde estava o túmulo de José de Arimatéia, dando a impressão de que o corpo morto de Jesus se movia com vida. Isso explicaria o surgimento da crença na ressurreição de Jesus. Outras, relacionadas às curas, dizem que Jesus nunca curou sem usar remédios. O vinho de Caná havia sido trazido pelo próprio Jesus. Para outros, algumas vezes
Jesus atuava no sistema nervoso das pessoas usando seu poder espiritual. Milagres sobre a natureza foram, na verdade, ilusões que os discípulos tiveram acerca de Jesus, como, por exemplo, o andar sobre as águas. Os discípulos, afirmam os estudiosos liberais, imaginaram coisas, como a transfiguração, entre outras. As ressurreições foram, na verdade, casos em que pessoas não estavam mortas de fato, mas apenas em estado de coma.

O Jesus liberal

Com a queda do racionalismo e o surgimento do existencialismo, alguns estudiosos procuraram entender Jesus à luz da experiência religiosa. Jesus passou a ser visto como um homem cujo sentido de dependência de Deus havia alcançado a plenitude. Esse conceito serviu de base para o desenvolvimento do seu retrato pintado pelos liberais, em que Cristo era simplesmente um homem divinamente inspirado.

No século passado, os estudiosos, em busca do Jesus histórico, começaram a aceitar a idéia do “mito”, ou seja, a idéia de que os evangelhos são relatos mitológicos sobre Cristo, lendas piedosas criadas em torno da figura histórica de Jesus pelos seus discípulos. Assim, firmou-se a idéia de que Jesus não ressuscitou fisicamente. A ressurreição, na verdade, era a crença dos discípulos na presença espiritual de Jesus.

A essa altura, os próprios estudiosos perceberam que a “busca” não os estava levando a lugar algum. Era fácil destruir o Cristo dos evangelhos, mas eles não conseguiam reconstruir um Jesus histórico que os satisfizesse. As vidas de Jesus reconstruídas pelos pesquisadores diziam mais acerca dos autores do que da pessoa que eles tentavam descrever. Os autores olharam no poço profundo da história em busca de Jesus, e o que viram foi seu próprio reflexo no fundo do poço. Também perceberam que haviam esquecido ou minimizado um importante aspecto da vida e do ensino de Jesus, que foi o escatológico-apocalíptico, proclamando o aspecto ainda futuro do reino de Deus. Essa conscientização desfechou um golpe fatal na concepção liberal de um reino de Deus que se confundia com uma sociedade ética no mundo presente, ou numa experiência espiritual interior, que dominava na época.

Além disso, o estudo crítico dos evangelhos começou a afirmar que eles (os evangelhos) não eram biografias no sentido moderno, mas apresentações de Jesus altamente elaboradas e adaptadas por diferentes alas da comunidade cristã nascente. Portanto, era impossível achar o verdadeiro Jesus, pois ficara soterrado debaixo da maquiagem imposta pela Igreja primitiva. Como conseqüência, alguns insistiam em dizer que o centro da fé para a Igreja não era o Jesus da história, mas o Cristo da fé, criado pela igreja nascente. Portanto, a busca estava baseada num erro (que o Jesus histórico era importante) teologicamente sem valor. O único Jesus em que os estudiosos deveriam se interessar era o Cristo da fé da igreja, pois foi o único que influenciou a história. Alguns, assim, tornaram-se absolutamente céticos quanto à possibilidade de se recuperar o Jesus histórico.

Tentando “salvar” a busca, esses estudiosos acabaram por piorar a situação. Quando separamos a fé dos fatos históricos, o cristianismo, despido do seu caráter histórico, e dos fatos que lhe servem de fundamento, torna-se uma filosofia de vida. Uma fé que se apóia num Cristo que não tem nenhum ancoramento histórico se torna gnosticismo ou docetismo.

Assim, os evangelhos e o retrato de Jesus que eles nos trazem passaram a ser vistos como uma elaboração mitológica produzida pela fé da Igreja. Segundo seus defensores, foi a imaginação da comunidade que criou as histórias dos milagres e muitos dos ditos de Jesus.

Apesar das diversas tentativas de reconstrução, ao fim sempre se chegava a um Jesus cuja existência não era apenas implausível, mas também impossível de ser provada. O Jesus liberal, desprovido do sobrenatural e da divindade, foi uma criação da obstinação liberal, que se recusava a receber como autêntico o relato dos evangelhos sobre Jesus. A falta de comprovação histórica e documentária quanto ao Jesus liberal acabou por dar fim à “busca”.

O Jesus do liberalismo pouco se parecia com o Jesus da concepção histórica da Igreja de Jesus Cristo, como sendo tanto humano quanto divino, as duas naturezas unidas organicamente numa mesma pessoa. O racionalismo eliminou a natureza divina de Cristo e a considerou um produto da Igreja, dissociada do Jesus da história. Jesus era apenas o grande exemplo, e a religião que Ele ensinou era simplesmente um moralismo ético e social.
O Jesus liberal fracassou em todos os sentidos! Ele acabou fundando uma nova religião, mesmo sem querer. Acabou sendo “endeusado” pelos seus discípulos, contra a sua vontade. O seu ensino social e ético de um reino de Deus meramente humano acabou sendo sobrepujado pelo ensino de um reino de Deus sobrenatural, presente e ainda por vir. E sua verdadeira identidade se perdeu logo nos primeiros séculos, para ser “redescoberta” apenas depois de 2000 anos de ilusões. Que ironia!

O Jesus libertador

Mas a tentativa dos estudiosos que não criam nos relatos miraculosos dos evangelhos não parou com o fracasso. Em meados da década de 50, outros estudiosos, igualmente céticos, acharam que poderiam acertar onde os antigos liberais falharam, desde que não fossem tão radicais em seu ceticismo quanto aos relatos dos evangelhos. Alguns discípulos dos teólogos liberais afirmaram que, apesar dos muitos erros nos evangelhos, havia neles elementos históricos suficientes para se tentar chegar ao Jesus que realmente existiu. Um deles chegou mesmo a questionar: “Se a Igreja primitiva era tão desinteressada na história de Jesus, por que os quatro evangelhos foram escritos?”. Os que escreveram os evangelhos acreditavam seguramente que o Cristo que pregavam não era diferente do Jesus terreno, histórico.

Mas, ao fim, esses pesquisadores da “nova busca” pensavam de forma muito semelhante à dos seus antecessores: o Jesus que temos nos evangelhos não corresponde ao Jesus que viveu em Nazaré há 2000 anos, o qual pode ser recuperado pelo uso da crítica histórica. Uma coisa todos esses pesquisadores, antigos e novos, tinham em comum: não criam na divindade plena de Jesus, na sua ressurreição nem nos milagres narrados nos evangelhos. Para eles, tudo isso havia sido criado pela Igreja. Além disso, eram todos comprometidos com a filosofia existencialista em sua interpretação dos evangelhos. Os resultados da pesquisa feita individualmente por eles, porém, eram tão divergentes que a “nova busca” acabou desacreditada em meados da década de 70.

Mas o ceticismo desses estudiosos não deixou a coisa parar por aí. Faz poucos anos, um grupo de 75 estudiosos de diversas orientações religiosas se reuniu nos Estados Unidos para fundar o “Simpósio de Jesus” (The Jesus Seminar), que os reúne regularmente duas vezes ao ano para levar adiante a “busca pelo verdadeiro Jesus”. Suas idéias básicas são fundamentalmente as mesmas dos que empreenderam a “busca” antes deles, ou seja, que o retrato de Jesus que temos nos evangelhos é uma caricatura altamente produzida, resultado da imaginação criativa da Igreja primitiva. A novidade é que, agora, incluíram material extrabíblico em suas pesquisas, como o evangelho apócrifo de Tomé, o suposto documento “Q”, contendo ditos antigos de Jesus, e os Manuscritos do Mar Morto.

A conclusão do simpósio é que somente 18% dos ditos dos evangelhos atribuídos a Jesus foram realmente pronunciados por Ele. O simpósio trouxe a público o resultado de suas pesquisas bastante céticas quanto à confiabilidade dos evangelhos, causando grande sensação e furor nos Estados Unidos e na Europa, e reacendendo, em certa medida, o interesse pelo Jesus histórico. E, mais uma vez, a polêmica acerca de Jesus foi levantada, desta feita ganhando até a capa de revistas internacionais, como, por exemplo, Time, Newsweek e U.S. News & World Report, e do Brasil, como Veja e IstoÉ. No final, o Jesus do simpósio é a mistura de um homem sábio, tímido e modesto demais para falar de si mesmo ou de sua missão neste mundo. A pergunta é: “Como uma pessoa assim conseguiu ganhar o ódio dos judeus e acabar sendo crucificada, um fato que até os antigos liberais radicais reconhecem como histórico?”.

Várias outras tentativas têm sido feitas em tempos recentes para se descobrir o Jesus que realmente existiu por detrás daquele que é representado nos textos dos evangelhos. Ele tem sido retratado diferentemente como profeta e libertador social, simpatizante dos zelotes e de suas idéias libertárias, reformador social por meio pacíficos e espirituais, pregador itinerante, carismático e radical, instigador de um movimento, de reforma, libertador dos pobres, “homem, do Espírito”, que tinha visões e revelações e uma profunda intimidade com Deus, de quem recebia poder para curar, fazer milagres e expelir demônios. Um homem santo da Galiléia, um judeu piedoso, uma figura carismática, um operador de milagres, movendo-se fora do ambiente oficial e tradicional do judaísmo, um exorcista poderoso e bem-sucedido — o catálogo é interminável. Mas todas essas tentativas têm uma coisa em comum: para seus autores, o Jesus pintado pelos evangelhos é produto da imaginação criativa e piedosa, da fé dos discípulos de Jesus. Os defensores dessas idéias partem do conceito de que a Bíblia nos oferece um quadro distorcido do verdadeiro Jesus.

De volta ao Jesus sobrenatural

Entretanto, é preciso mais do que teorias, como estas que acabamos de expor, para tornar convincente a tese de que a comunidade cristã inventou tanto material sobre Cristo e que ela mesma acabou crendo em sua mentira. É quase inconcebível que uma comunidade tenha criado material histórico para dar sustentação histórica à sua fé. Uma comunidade que dá tal importância aos fatos históricos não os criaria! Além do mais, essas teorias não levam em conta o fato de que os eventos e os ditos de Jesus foram testemunhados por pessoas que estiveram com Ele, e que essas testemunhas oculares certamente teriam exercido uma influência conservadora na imaginação criativa da Igreja.

Também ignoram o fato de que os líderes iniciais da comunidade, os apóstolos, estiveram com Jesus e muito perto dos fatos históricos para dar asas à livre imaginação. Também deixa sem explicação o alto grau de unanimidade que existe entre os evangelhos. Se cada evangelho é produto da imaginação criativa da igreja, como explicar diferenças entre eles? E se é produto de comunidades isoladas, como explicar as semelhanças?

Essas teorias são especulações e nada podem nos dar de evidência concreta. Portanto, continuamos a crer nas evidências internas e externas de que os evangelhos dão testemunho confiável do Jesus histórico, que é o mesmo Cristo da fé. Entretanto, o ceticismo crítico desses estudiosos influenciou de tal maneira os seminários que introduziu na Igreja de Cristo uma semente que produziu um fruto amargo: um evangelho e um Cristo frutos de imaginações, e que, portanto, não tinham poder, vitalidade, nem respostas para as questões humanas. Resultado: igrejas esvaziadas por toda a Europa, em uma geração.

Que Deus proteja as igrejas brasileiras dessas pessoas. Que as igrejas brasileiras se firmem cada vez mais no Senhor Jesus Cristo, fielmente retratado nas páginas dos evangelhos.

QUEM É O DEUS DAS RELIGIÕES?

Quem é o deus das religiões?

Por H. Wayne House
Tradução, Elvis Brassaroto Aleixo

Ao longo de dois milênios, a igreja cristã sempre manteve uma unidade essencial concernente à natureza de Deus como proclamado nos credos, sermões e livros. Assim como é revelado na Bíblia Sagrada, Deus é ilimitado em seus atributos, contudo pessoal em sua relação com a criação. Além disso, essa Deidade infinito-pessoal é indivisível em sua natureza e essência, não obstante existir eterna e simultaneamente como Pai, Filho e Espírito Santo.

Várias falsas religiões na história da igreja, inclusive alguns grupos contemporâneos, repudiaram o verdadeiro conhecimento de Deus apresentado pela Bíblia. Esses erros geralmente consistem em mudanças extremistas. Geralmente, os cultos e religiões vêem Deus como infinito, mas não pessoal, ou pessoal, mas não infinito. Outros cultos e religiões negam a doutrina da Trindade, compreendendo o divino como consistindo em vários deuses e, quando não, interpretam a divindade como meras manifestações de uma só pessoa, ou ainda negando a legítima divindade de Jesus e do Espírito Santo.

Recentemente, até mesmo alguns evangélicos têm abraçado algumas dessas perspectivas incorretas sobre Deus.1 A razão para os erros que surgiram é a tentativa de se entender Deus sem a ajuda da revelação divina, ou seja, a razão humana combatendo contra a revelação clara de Deus encontrada nas Sagradas Escrituras. Assim, estas compreensões desequilibradas e heréticas acerca de Deus somente poderão ser evitadas se as pessoas permitirem que a Bíblia dê seu veredicto, não forçando a interpretação para que haja uma conformação com a razão humana, mas aceitando sua sentença como revelação divina. Este foi o testemunho da igreja ortodoxa pelos séculos e deve ser nossa posição hoje.

Um Deus pessoal e infinito

O apóstolo Paulo, em sua primeira epístola aos cristãos de Corinto, disse: “Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1Co 8.5,6).

O que Paulo deixou claro nessas palavras é que somente o fato de usar o termo Deus ou Senhor, ou ter objetos de adoração, não significa, necessariamente, estar falando do mesmo ser divino. A importância de conhecer e adorar o verdadeiro Deus, o único revelado pela Bíblia, é essencial nestes dias de pluralismo religioso que estamos vivendo. Esta relação entre a fé bíblica e as religiões não-cristãs pode ser perigosa para a promoção da verdade e causar confusão para o entendimento do verdadeiro evangelho.

A concepção histórica de Deus mantém um equilíbrio de idéias que revelam sua majestade de maneira contrária ao que é apresentado nas religiões não-cristãs do mundo.2

Esta matéria demonstrará que a concepção que Deus retratou na Bíblia está entre os extremos teológicos dentro das falsas religiões e especialmente nos cultos. O Deus da Bíblia é pessoal e infinito, a Trindade é a união de três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, em uma única divindade, sendo iguais, eternas, da mesma substância, entretanto distintas, sendo Deus cada uma dessas pessoas (Mt 28.19; Ef 4.4-6). Examinaremos as perspectivas das várias religiões, contrastando suas visões com os ensinos bíblicos e sugestionando razões para tais erros doutrinários.

Conceitos errôneos sobre Deus

Apontaremos alguns grupos religiosos representando-os por meio dos conceitos pelos quais distorceram a natureza e a personalidade de Deus.

Crença em uma deidade pessoal-finita

Se desejamos ter comunhão com Deus e acreditamos em sua ação em nossos momentos de necessidade, o reconhecimento de que Ele é pessoal torna-se fundamental. Até mesmo a própria designação de Deus como “Pai” revela que Ele ama e cuida de seus filhos, atitude esta que o título “Criador” não consegue denotar. Além disso, Jesus, o filho de Deus, nos diz que devemos orar ao “Pai”, pois Ele nos imputa imenso valor (Mt 10.29) e que este mesmo “Pai” galardoará aqueles que lhe pedirem (Mt 7.11). Esse aspecto de Deus é concordado pela maioria dos grupos “cristãos”.3 Já os grupos influenciados pelo gnosticismo4 ou pelas religiões orientais parecem rejeitar a natureza pessoal de Deus, enquanto aqueles que a aceitam acabam erroneamente enxergando esta deidade com várias limitações.

Concepções de um deus finito são cridas pelos mórmons e pelas testemunhas-de-jeová. A teologia mórmon necessita de um deus finito, pois crêem que deus evoluiu e que ele realmente foi um homem assim como nós: “Deus foi uma vez como somos agora, ele é um homem exaltado...”.5 Além disso, possuindo corpos físicos, 6 os deuses mórmons também não são onipresentes: “Deus não é onipresente [...] não pode estar fisicamente presente em mais de um lugar ao mesmo tempo”. 7 E este conceito inclui o Espírito Santo.8 O deus mórmon também é limitado em outros sentidos, pois não é onisciente, 9 não é eterno, 10 e não é imutável.11

A falha das testemunhas-de-jeová em expor os atributos de Deus não é tão explícita quanto vemos no mormonismo; no entanto, elas também rejeitam alguns dos atributos infinitos da Deidade. Embora aceitem a onipotência de Deus, 12 as testemunhas-de-jeová revelam dificuldades com sua onisciência13 e onipresença. 14 De acordo com o pesquisador David Sherril, apologista que estuda o jeovismo, a rejeição à onipresença de Deus se deve à convicção da Sociedade Torre de Vigia (STV) em ensinar que todos os seres têm de possuir algum tipo de corpo, seja físico ou espiritual, fazendo que seus seguidores concebam Deus localizado em um determinado lugar.15 Considerando que Deus seguramente está em um trono no céu, Ele não pode estar em todos os outros lugares; por conseguinte, é o poder dele que está em todos os lugares, não sua pessoa.16

Crença em uma deidade impessoal-infinita

Os tipos de grupos religiosos discutidos anteriormente são considerados heterodoxos, pois distorcem a concepção da Deidade; entretanto, mesmo com tais divergências, podem ser classificados, em certo sentido, como grupos que observam “cultos cristãos”.17 Isso se deve à semelhança de nomenclatura cristã empregada por tais grupos em seus cultos. Por outro lado, religiões que proclamam uma deidade impessoal, mas infinita, geralmente refletem uma concepção gnóstica ou oriental de Deus, utilizando a terminologia cristã para se enredar com maior facilidade na cultura ocidental.

Defensores de um deus impessoal e infinito são facilmente encontrados nos campos da “metafísica” ou “ciência da mente”; também compartilham dessa concepção os diversos segmentos da Nova Era, que têm se proliferado rapidamente nas últimas décadas sob a máscara de uma ampla variedade de nomes. Esses compartilham a perspectiva de que Deus não é pessoal, 18 conceituando-o como a essência de toda a realidade que está na mente ou na consciência.19 Essa visão geralmente se identifica com o panteísmo, ensinamento que prega que Deus é infinito porque tudo é Deus e Deus é tudo. A Ciência Cristã, um dos grupos que crêem na chamada “ciência da mente”, também não acredita em Deus como um ser pessoal e define a Trindade nos termos de vida, verdade e amor.20

A espiritualidade da Nova Era vem em grande parte da religião oriental e, por conseguinte, envolve o monismo21 e o panteísmo. Isso acabou “ocidentalizando” a perspectiva religiosa oriental que acredita que Deus é tudo aquilo que existe e que tudo e todo mundo é Deus. Vemos esse conceito demonstrado de forma interessante em uma declaração famosa do Upanishads, antiga escritura do hinduísmo, repetida pelo “guru” Maharishi Mahesh Yogi: “Eu sou aquilo, você é aquilo, tudo isso é aquilo, aquilo sozinho está, e não há mais nada além daquilo”.22

Crença no modalismo

Conforme esta crença, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são apenas três aspectos da divindade, sendo, portanto, uma só Pessoa, ou seja, ensinam que as três pessoas da Trindade se manifestavam de vários modos, daí o nome modalista, conhecido atualmente como Sabelianismo por ter sido um ensino propagado pelo bispo Sabélio.

A Igreja Local, fundada por Witness Lee, é um claro exemplo da visão modalista de Deus. Outros grupos que possuem a mesma concepção são: Tabernáculo da Fé, fundado por William Marrion Braham; Só Jesus, fundado por John Schepp; e Voz da Verdade, 23 fundado por Carlos Moysés, entre outros.

Crença no politeísmo

Provavelmente, nenhum culto contemporâneo é mais famoso em sua posição politeísta do que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Os mórmons crêem na existência de milhões de deuses: “Existem mais deuses do que partículas de matéria”.24 Entretanto, apenas três — Pai, Filho e Espírito Santo — são objetos da adoração mórmon.25

Crença no arianismo

A última divergência doutrinária que inserimos nesta perspectiva histórica do cristianismo é a heresia do arianismo. Essa concepção foi condenada no famoso Concílio de Nicéia (325 d.C.).26 Na ocasião, o bispo Ário defendeu a doutrina de que o Filho de Deus era um ser criado, mas seu ensinamento foi veementemente combatido por Atanásio que, por sua vez, teve seus argumentos aceitos pelo Concílio. Atanásio ensinou que o Filho possuía a mesma essência do Pai, sendo, portanto, igualmente Deus. Meio século depois (381 d.C.), o Concílio de Constantinopla afirmou a igualdade da Deidade do Espírito Santo; Deus, então, é uma essência indivisível em três pessoas.

Sem dúvida nenhuma, o culto arianista mais difundido está atualmente representado pela Sociedade Torre de Vigia, mais conhecida pela identidade de seus seguidores, as testemunhas-de-jeová. A estratégia utilizada pela organização das Testemunhas de Jeová foi subverter a doutrina da Trindade aproveitando a grande discussão cristã acerca desse ensinamento.27 Igualmente ensinam que Jesus foi o primeiro ser criado por Deus,28 sendo um deus de categoria “inferior”, poderoso, mas não Todo-Poderoso.29

Raciocínio semelhante a este também pode ser encontrado entre o grupo dos cristadelfianos.30

Avaliação dos conceitos errôneos sobre Deus

Podemos observar nesta breve matéria que os vários cultos e falsas religiões aqui apresentados não mantêm o equilíbrio bíblico da concepção de Deus. Avaliando a questão, logicamente concluímos que há um só Deus (Dt 6.4, 1Co 8.6). E que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são chamados de Deus e possuem os atributos da Deidade (Ef 5.20; Rm 9.5; At 5.4).

Quando um culto é apresentado biblicamente com base nessas duas declarações ortodoxas, os seguidores das falsas religiões concluem que uma delas necessariamente está errada, ou seja, que existe mais de um deus (politeísmo, como vimos no mormonismo), que as três pessoas devem ser a mesma pessoa (modalismo, como vimos na Igreja Local) e/ou que o Pai é Deus e o Filho e o Espírito não possuem a mesma essência, sendo diferentes de Deus (arianismo, como vimos nas testemunhas-de-jeová). Todavia, a concepção bíblica e histórica de Deus está bem declarada no Credo de Atanásio (no qual inserimos alguns versículos bíblicos que comprovam suas declarações):

“Assim, o Pai é Deus (Ef 5.20), o Filho é Deus (Rm 9.5) e o Espírito Santo é Deus (At 5.4). E, no entanto, não são três deuses, mas um só Deus (Dt 6.4; 1Co 8.6). Igualmente, o Pai é Senhor (Ap 21.22), o Filho é Senhor (Jd 4; 1Co 8.6), o Espírito Santo é Senhor (2Co 3.17). E, no entanto, não são três senhores, mas um só é Senhor (Ef 4.5). Pois, da mesma forma que somos compelidos pela verdade cristã a reconhecer cada Pessoa, por si mesma, como Deus e Senhor, assim também somos proibidos pela religião católica (universal) de dizer: existem três deuses ou três senhores”.

O mesmo pode ser esclarecido sobre o fato de Deus ser infinito e pessoal ao mesmo tempo. A Bíblia revela que Deus é transcendente sobre todo o universo (Sl 57.11; Zc 14.9) e que Deus está intimamente envolvido com o universo (Gn 1.1; Sl 113.6). Ele é o Criador do tempo e do espaço, por isso Ele transcende o universo. Como pode tal Deus realmente estar interessado em nós ou se envolver com nossas vidas, até mesmo a ponto de enviar seu Filho (Deus) para compartilhar nossa humanidade e sofrimento? Não podemos compreender o amor de Deus, mas a Bíblia, infalível em suas declarações, nos conduz à conclusão de que ambas as dimensões de Deus são verdadeiras. A doutrina bíblica inspirada por Deus tem capacidade plena de conciliar harmoniosamente os “elementos divergentes” (para alguns) da infinidade divina com o relacionamento pessoal, elementos indispensáveis para o genuíno sentido da adoração.

Temos de nos centrar em Deus, não no homem. Os cristãos ortodoxos estão dispostos a aceitar o ensinamento bíblico sobre Deus até mesmo quando eles não podem explicar todos os aspectos de sua revelação. Às vezes, podemos entender o “qual”, mas não podemos entender o “como”, ou, freqüentemente, o “porquê”. Deus simplesmente quer que confiemos em sua Palavra. A diferença entre a verdadeira religião e a falsa religião é a adesão à ego-revelação de Deus na Bíblia, ou seja, as interpretações que revelam um deus que satisfaça nossas limitações em entendê-lo. É a rejeição da adoração ao Deus Santo apresentado pela Bíblia para fabricar um deus sob as concepções humanas, o que, como analisamos, podemos considerar a causa dos erros que se desenvolveram desde o início da igreja primitiva e continua nos assolando até hoje.

PASTOR: EDIVALDO PEREIRA

O PROBLEMA DO MAL

O PROBLEMA DO MAL


Aspecto lógico e psicológico

Por Dr. Greg Bahnsen
Tradução de Elvis Brassaroto

Se Deus criou todas as coisas, e se o mal existe, não é correto afirmar eu Ele também criou o mal? Se Deus é amor e infinito em misericórdia, como poderia tê-lo criado? Se isso é assim, não seria o próprio Deus a fonte dos nossos males? O culpado da nossa desgraça?

A existência do mal de fato suscita um dos maiores questionamentos contra a fé cristã, seja por parte dos opositores intelectuais, dos adeptos de religiões não-cristãs ou dos escarnecedores. O nosso objetivo, nesta matéria, que visa aprofundar o debate sobre o tema, é apresentar argumentos teológicos e apologéticos suficientemente fortes e razoáveis, baseados na Palavra de Deus. Não temos conhecimento pleno sobre muitas questões, mas Deus também não nos deixou totalmente no escuro quanto às grandes perguntas que permeiam a nossa vida. Sua Palavra, como sempre, é a luz para o nosso caminho e, como afirmou o sábio Salomão, grande pensador, sobre a vida humana: “... A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18).

Um grande desafio

Talvez, o desafio mais profundo e incômodo que os crentes enfrentam sobre a fé venha a forma de uma pergunta: “Se Deus é realmente bom, por que o mal existe?”. O sofrimento e a maldade que vivenciamos em nosso meio parecem gritar contra a existência de Deus, ao menos de um Deus benevolente e Todo-Poderoso. Muitos acreditam que este seja o problema mais difícil que os apologistas enfrentam, não somente por causa da aparente contradição do ponto de vista cristão, mas também por causa da perplexidade pessoal que qualquer ser humano sensível sentirá diante da terrível miséria e perversidade no mundo. A desumanidade do homem para com seu semelhante é notória em todas as épocas passadas e em todas as nações do mundo. Há uma longa história de opressão, indignidade, crueldade, tortura e tirania. Além disso, há tanta dor e sofrimento aparentemente desnecessários, defeitos de nascença, parasitas, ataques violentos de animais, mutações radioativas, doenças debilitáveis e fatais, fome, terrorismo, ferimentos que deixam pessoas inválidas, furacões, terremotos e outros desastres naturais.

Quando o descrente contempla este infeliz “vale de lágrimas”, sente que há uma forte razão para duvidar da bondade de Deus. Por que deveria haver tamanha miséria? Por que a riqueza deve-ria ser distribuída de forma aparente-mente tão injusta? Você permitiria isso se fosse Deus e tivesse em suas mãos o domínio para impedir esses males?


Levando o mal a sério

De fato, é importante que o cristão reconheça a realidade do mundo e também que a questão do mal não é simplesmente um jogo de discussões; ou seja, uma forma de ver a vida de maneira não ou menos justa. O mal é real. O mal é horrível. Somente quando ficamos intelectual e emocionalmente sensíveis a respeito da existência do mal podemos avaliar a profundidade do problema que os descrentes enfrentam em relação à visão cristã de mundo, mas, do mesmo modo, percebemos por que o problema do mal acaba confirmando este ponto de vista cristão, ao invés de enfraquecê-lo.

Quando falamos sobre o mal com os descrentes, é crucial que ambos os lados “falem sério”. O mal deve ser levado a sério como “mal”. Uma passagem muito conhecida da obra clássica Os irmãos Karamazóvi, do novelista russo Fyodor Dostoyevsky, mexe com as nossas emoções de uma forma que parece nos persuadir e nos torna convictos sobre a maldade dos homens, como, por exemplo, os homens cruéis com criancinhas. Em certo momento, sua obra narra uma queixa do personagem Ivan ao seu irmão, Aliósha, sobre a crueldade e a injustiça promovidas pelos homens. Ivan declara que nem mesmo os animais selvagens conseguem atingir a decadência que, às vezes, se observa no comportamento de alguns homens. Exemplifica sua reclamação com o caso de uma menina russa de apenas cinco anos maltratada por seus pais. Eles açoitavam-na constantemente e, por conta disso, seu peque-no e frágil corpo estava sempre coberto de feridas. Dramatizando um pouco mais o exemplo, Ivan conta que, em algumas noites geladas da Rússia, os pais da menina trancavam-na no banheiro e amarravam-na na privada simplesmente porque ela, às vezes, molhava o colchão durante a noite, algo normal em crianças de sua idade. Por conta disso, sua mãe esfregava-lhe os próprios excrementos na cara e a obrigava a comê-los. E fazia isso sem nenhum remorso. Por fim, Ivan convida Aliósha a imaginar as lágrimas e o sofrimento daquela inocente criança e lhe pergunta: “Se o destino da humanidade estivesse em suas mãos, e se para proporcionar felicidade ao mundo você tivesse de permitir a tortura de uma criança, você consentiria isso?1

Incidentes como este poderiam ser multiplicados por muitas e muitas vezes. Eles produzem indignação moral dentro de nós, e dos descrentes também. Estes fatos são inegáveis para qualquer pessoa, independentemente da sua confissão religiosa.

Uma vez, quando estava fazendo um programa de rádio com a participação dos ouvintes por telefone, um deles ficou muito irritado quando eu disse que deveríamos louvar e adorar a Deus. O ouvinte queria saber como alguém conseguia adorar um Deus que permitiu o abuso sexual e a mutilação de um bebê, atrocidades que ele próprio (o ouvinte) havia testemunhado em algumas fotografias apresentadas durante a audiência de julgamento de um pedófilo. A descrição era repugnante e, certamente, suscitou revolta em todos que tiveram o desprazer de ouvi-la. Eu sabia que o ouvinte queria pressionar sua hostilidade contra o cristianismo sobre mim, mas, na realidade, fiquei feliz por ele ficar tão irritado. Em verdade, ele estava “levando o mal a sério”. A sua condenação ao abuso sexual infantil não era simplesmente uma questão de preferência pessoal. Por esta razão, percebi que não seria difícil mostrar por que o problema do mal, na realidade, não é um problema para o crente, mas, ao invés disso, para o descrente. Explicaremos isso mais detalhadamente depois.

O mal como um problema lógico

O “problema” do mal nunca foi propriamente compreendido por muitos apologistas cristãos que, algumas vezes, menosprezam a dificuldade dos céticos ao cristianismo quando compreendem o problema do mal como sendo apenas uma demonstração colérica contrária à suposta bondade de Deus. De qualquer maneira, é assim que os crentes professam a bondade de Deus. Mas os descrentes vêm com os seus exemplos contrários a isso. Quem apresenta os melhores argumentos dos fatos ao nosso redor? O problema é apresentado (imprecisamente) como uma questão de quem possui vidências mais fortes do seu lado acerca daquilo que estão discordando. É como uma brincadeira de “cabo-de-guerra”.

Este tipo de colocação subestima seriamente a natureza do problema do mal. Não é simplesmente uma questão de pesar as provas positivas contra as provas negativas da bondade de Deus no mundo ou em seu plano divino (ou seja, a redenção, etc.). O problema do mal é um desafio muito mais sério para a fé cristã.
O problema do mal se soma às acusações de que há uma “provável incoerência” no ponto de vista cristão, sem levar em consideração a quantidade de maldade que existe no Universo comparada à quantidade de bondade que pode ser encontrada. Se o cristianismo é logicamente incoerente, nenhuma prova positiva e factual pode salvar a sua veracidade. A inconsistência interna, por si só, tornaria a fé cristã intelectualmente inaceitável, mesmo concedendo que possa haver uma grande quantidade de indicadores ou provas em nossa experiência para a existência da bondade ou de Deus.
O filósofo escocês do século 18, David Hume, expressou o problema do mal mediante uma maneira forte e desafiadora. Declara: “Se Deus quer evitar o mal, mas não é capaz disso, então Ele é impotente. Se Ele é capaz, mas não quer evitá-lo, então Ele é malévolo. Se ele é capaz de evitá-lo e quer evitá-lo, como se explica o mal?”.2 O que Hume estava argumentando é que o cristão não pode, de forma lógica, aceitar estas três premissas: Deus é onipotente, Deus é benevolente, e, no entanto, o mal existe no mundo. Se Deus é Todo-Poderoso, então deve ser capaz de evitar ou remover o mal, se desejar. Se Deus é benevolente, então certamente deseja evitar ou remover o mal. Todavia, é inegável que o mal existe.
Em seu livro, Atheism: the case against God [Ateísmo: o caso contra Deus]: George Smith declara o problema do mal da seguinte maneira: “Resumidamente, o problema do mal é este: Se Deus sabe que o mal existe, mas não pode evitá-lo, Ele não possui todo o poder. Se Deus sabe que o mal existe e pode evitá-lo, mas não deseja fazê-lo, Ele não é benevolente”.3 Smith acha que os cristãos não podem, de forma lógica, crer nas premissas: Deus é completamente bom, bem como completa-mente poderoso.

Então, a acusação que os descrentes fazem é que a doutrina cristã é incoerente porque adota declarações inconsistentes umas com as outras, devido à maldade que paira neste mundo. O descrente argumenta que mesmo que tivesse de aceitar as afirmações da teologia cristã, sem levar em consideração a prova individualmente favorável ou contrária à sua opinião, “essas premissas não se admitem entre si”. O desafio do cristianismo é interno e até mesmo o crente deve reconhecer, contanto que ele, de forma realista, admita a presença do mal no mundo. Este mal, acredita-se, é incompatível com a bondade de Deus ou com o seu poder.

Para quem o mal é logicamente um problema?

Deveria ficar óbvio, quando refletimos, que pode não haver um “problema do mal” para pressionar os cristãos, a menos que alguém possa legitimamente afirmar a existência do mal neste mundo. Não há, nem mesmo aparentemente, um problema lógico, contanto que tenhamos somente estas duas declarações para lidarmos:

Deus é completamente bom

Deus é completamente poderoso

Estas duas premissas, por si só, não criam qualquer contradição. O problema aparece somente quando acrescentamos a terceira premissa: O mal existe (acontece)

Conseqüentemente, é decisivo para a argumentação dos descrentes contra o cristianismo afirmar que existe mal no mundo. Para eles, é crucial apontar para alguma coisa, algum acontecimento, e ter o direito de avaliá-lo como um exemplo da ocorrência do mal, pois se fosse o caso de não existir nem acontecer nenhum mal, isso significaria que aquilo que as pessoas inicialmente acreditam ser mal, na realidade, não seria, e, então, não haveria nada inconsistente com a teologia cristã que exija uma resposta.

Neste ínterim, surgem novas questões relevantes:

O que o descrente quer dizer com o “bem” ou, baseado em qual fundamento, ele determina o que considera ser o “bem”, para que o “mal” seja conseqüentemente definido ou identificado?

Quais são as bases pelas quais o descrente faz seu julgamento moral?

Talvez, o não-crente tenha o “bem” como qualquer coisa que seja unânime pela aprovação pública, geral; ou seja, o “bem” é aquilo que a maioria aprova como “bem”. Contudo, o fato de um grande número de pessoas sentir-se de uma forma não convence, ou ao menos, racionalmente, não deveria convencer ninguém de que seu sentimento a respeito da bondade ou malignidade de alguma coisa é correto. Afinal, a estatística não é, em si mesma, uma ferra-menta eficaz para julgar o que de fato é “bem” ou o que de fato é “mal”.
Geralmente, as pessoas pensam na bondade de alguma coisa referindo-se às suas aprovações ¾ ao invés de suas aprovações constituírem a sua bondade! Ou seja, as pessoas pensam que algo é bom porque tem aprovação, quando, na verdade, o correto seria entender que algo tem aprovação porque é bom. Além disso, a intuição em si não pode ser uma base para entendermos que as nossas conclusões estão corretas. Veja como isso é subjetivo: não temos somente de intuir (pressentir) a bondade da caridade, mas também somos levados a intuir (pressentir) que esta intuição é verdadeira! É a intuição na intuição! Mas temos de considerar que nem todas as pessoas, ou culturas, possuem intuições idênticas sobre o bem e o mal. Estas intuições conflitantes não podem ser resolvidas de forma racional dentro da visão não-crente de mundo.

O descrente leva o mal a sério?

Os descrentes afirmam que simples casos da experiência humana são incoerentes com as crenças teológicas do cristianismo sobre a bondade e o poder de Deus. Tal acusação requer que o cético afirme a existência do mal neste mundo. Contudo, o que tem sido pressuposto aqui?

Ambos, crente e descrente, vão querer insistir que certas coisas são más. Por exemplo, em casos como o de abuso sexual infantil (como aqueles já mencionados). E conversarão como se levassem tais julgamentos morais a sério, não como expressão de gosto, preferência pessoal ou opinião subjetiva, simplesmente. Insistirão que tais coisas são verdadeira-mente concretas e basicamente más. Até mesmo os descrentes podem ser chacoalhados em face de atrocidades morais como guerras, estupros e torturas.

Mas a questão, logicamente falando, é como é possível o descrente ser coerente consigo mesmo ao levar o mal a sério, não simplesmente como algo inconveniente, desagradável e contrário aos seus desejos. Qual filosofia de valor ou moralidade o descrente pode oferecer que fará disso algo significativo para condenar qualquer atrocidade como concreta-mente má? Onde o descrente busca base para isso? “Qual é a fonte em que ele bebe?”.

O fato é que o descrente tente excluir Deus deste debate a todo custo. Mas será que efetivamente consegue? A indignação moral expressa pelos descrentes, quando se deparam com as coisas más que se espalham neste mundo, não são compatíveis com as teorias de ética que eles mesmos sustentam. No fundo, são teorias que provam ser arbitrárias (pessoais) ou subjetivas (individuais) ou meramente tendenciosas em seu caráter. Na visão descrente de mundo não há nenhuma boa razão para dizer que qualquer coisa seja má na natureza, mas o descrente só pode chegar á conclusão de que algo é mau por sua própria escolha ou sentimento pessoal.

É por isso que me sinto encorajado quando vejo descrentes indignados com algumas ações más como uma questão de princípios. Para fazer sentido filosófico, tal indignação, na realidade, aponta para o absoluto, o imutável e bom caráter de Deus. A ex-pressão de indignação moral é uma prova pessoal de que os descrentes conhecem este Deus no mais íntimo de seus corações, mesmo que neguem isso! Eles se recusam a deixar que julgamentos sobre o mal se reduzam a uma simples questão subjetiva; isto é, em uma questão individual, pessoal ou particular. Quando o descrente brada contra tudo isso, ele está, na realidade, reconhecendo a existência de Deus.

Quando o crente desafia o descrente neste ponto, o descrente geralmente desconversa e tenta discutir, dizendo que o mal está, no final das contas, baseado no raciocínio ou nas escolhas humanas, embora seja algo relacionado ao indivíduo ou à cultura. E, neste ponto, o crente deve jogar a incoerência lógica de volta para dentro do quadro de crenças do cético.

Por um lado, o descrente acredita e fala como se algum ato, como o abuso sexual infantil, por exemplo, fosse errado em si, mas, por outro lado, acre-dita e fala como se este ato fosse errado somente se o indivíduo, ou cultura, escolhesse algum valor que fosse incoerente com ele. Quando o descrente declara que as pessoas determinam os valores éticos para si mesmas, está afirmando, em outras palavras, que aqueles que cometem o mal não estão, na realidade, fazendo nada de errado, pois foram estes os valores que escolheram para si.

O que achamos, então, é que o cético deve secretamente contar com a visão cristã de mundo para que o seu argumento da existência do mal faça sentido! Ele condena a visão cristã de mundo, mas usa elementos dela para atacá-la.

O problema do mal é, assim, um problema lógico para o descrente, ao invés de sê-lo para o crente. Por quê? Porque, como cristãos, conseguimos perfeitamente dar sentido às questões morais que nos incomodam. O descrente, não. Isso não significa que consigo explicar os caminhos e propósitos de Deus ao permitir a miséria e a maldade neste mundo. Isso simplesmente significa que o escândalo moral é coerente com a visão cristã de mundo, com suas pressuposições básicas sobre a realidade, com seu conhecimento e ética. O crente não vive em contradição com tudo isso. Assim, o problema do mal é precisamente um problema filosófico para a incredulidade. Os descrentes precisariam apelar para aquilo que eles mais se opõem em discussão para que seus argumentos sejam justificados: um senso de ética divino, transcendente. Em suma, eles dependem de Deus para embasar seus argumentos.

Resolvendo uma suposta contradição

Neste ponto, o descrente pode afirmar que mesmo que ele não consiga explicar de forma significativa, ou decifrar a visão que o mal verdadeiramente existe, todavia, ainda resta uma contradição dentro do quadro de crenças do cristianismo. Nestes termos, o descrente admite sua derrota, mas lança em rosto que os cristãos também não têm a solução. Porém, dados os seus compromissos e filosofias básicas, o cristão certamente pode e declara que o mal é real, e mesmo assim o cristão acredita em coisas a respeito do caráter de Deus, que juntas, parecem incompatíveis com a existência do mal. O descrente pode argumentar que o cristão ainda está, nos termos propriamente cristãos, preso a uma posição por manter as três proposições que seguem:

1. Deus é totalmente bom

2. Deus é Todo-Poderoso

3. O mal existe

De qualquer forma, a crítica aqui não percebe uma forma perfeitamente razoável para concordar com todas essas três proposições.

Se o cristão pressupõe que Deus é perfeito e completamente bom, como as Escrituras requerem que sejamos, então ele (o cristão) está comprometido em avaliar tudo dentro de sua experiência à luz dessa proposição. Conseqüentemente, quando o cristão observa os acontecimentos maus ou as coisas no mundo, ele pode e deve-ria conservar a coerência com suas pressuposições a respeito da bondade de Deus, mas agora inferindo que Deus tem uma razão moral-mente boa para o mal existir. Deus deve ser Todo-Poderoso para ser Deus; não se deve tê-lo como derrotado ou frustrado pelo mal no Universo. A contradição aparentemente criada pelas três proposições anteriores é real-mente resolvida ao acrescentarmos esta quarta premissa às demais:

4. Deus possui uma razão moral e suficientemente boa para a existência do mal

Quando todas as quatro premissas são mantidas, não há nenhuma contradição lógica a ser encontrada. Na realidade, faz parte da caminhada de fé do cristão e de crescimento na santificação a declaração da quarta proposta como uma conclusão contundente das três outras.

Lembre-se de Abraão, quando Deus o ordenou a sacrificar seu único filho. Pense em Jó, quando perdeu tudo o que trazia felicidade e prazer à sua vida. Em cada caso, Deus teve uma razão perfeitamente boa para a miséria humana envolvida. Era uma marca ou uma realização de fé para eles não estremecerem em suas convicções da bondade de Deus, apesar de não serem capazes de ver ou entender por que o Senhor estava fazendo o que fez com eles. De fato, mesmo no caso do maior crime de toda a história, a crucificação do

Senhor da Glória (Jesus), o cristão professa que a bondade de Deus não era incoerente com o que as mãos dos homens sem-lei estavam fazendo. A morte de Cristo foi maligna?

Certamente. Deus teve uma razão moralmente suficiente para fazê-lo? Certamente. Com Abraão, nós declaramos: “Não fará justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25). E esta justiça e bondade de Deus ficam além dos desafios humanos: “Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem” (Rm 3.4).

O problema não é lógico, mas psicológico

Conclui-se que o problema do mal não é uma dificuldade lógica, afinal de contas. Se Deus tem uma razão moral suficiente para o mal existir, como a Bíblia ensina, então, que a sua bondade e o seu poder não podem ser contestados pela realidade de acontecimentos malignos e coisas semelhantes na experiência humana. O único problema lógico que aparece, relacionado às discussões sobre o mal, é a incapacidade filosófica do descrente de prestar contas à objetividade de seus julga-mentos morais.

O problema que os homens têm com Deus, quando ficam face a face com o mal no mundo, não é de ordem lógica ou filosófica, mas psicológica. Podemos achar emocional-mente muito difícil ter fé em Deus e confiar em sua bondade e poder quando não nos é dada uma razão para as coisas ruins que acontecem conosco e com os outros. Natural-mente, pensamos: “Por que algo tão terrível aconteceu?”. Os descrentes também imploram dentro de si por uma resposta para tal pergunta. Mas Deus nem sempre provê uma explicação para os seres humanos acerca do mal que experimentam ou observam.

“As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus” (Dt 29.29). Podemos não ser capazes de entender o jeito e os misteriosos caminhos de Deus, até mesmo se Ele próprio nos dissesse (Cf. Is 55.9). Todavia, o fato continua apontando a miséria, o sofrimento e a injustiça como parte de seu plano para a história e para as nossas vidas, individualmente.

Assim, a Bíblia nos pede que confiemos que Deus possui uma razão moralmente suficiente para o mal que pode ser encontrado neste mundo, mas ela não nos diz que razão suficiente é esta. O crente, muitas vezes, luta com esta situação, andando por fé, não por vista. O descrente, contudo, acha esta situação intolerável para o seu orgulho, seus sentimentos e racionalidade. E se recusa a confiar em Deus. De forma alguma, acreditará que Deus tem uma razão moralmente suficiente para a existência do mal, a menos que lhe seja dada uma razão para a sua própria análise e avaliação. Resumindo, o descrente não confiará em Deus, a menos que Deus se sujeite à sua autoridade intelectual e à sua avaliação moral, a menos que Deus consinta em trocar de lugar com o pecador.

O descrente faz parte do problema do mal

O problema do mal segue com a seguinte questão: se uma pessoa deveria ter fé em Deus e em sua Palavra ou preferir colocar sua fé em seus próprios pensamentos e valores. Finalmente, isto se torna uma questão de autoridade na vida de uma pessoa. E, neste sentido, a maneira que o descrente luta contra o problema do mal é, contudo, um testemunho contínuo da maneira pela qual o mal entrou na humanidade. A Bíblia mostra que o pecado e todas as misérias que o acompanham entraram neste mundo por meio da primeira transgressão de Adão e Eva. E a questão com que Adão e Eva foram confrontados, há muito tempo, era precisa-mente a questão que os descrentes enfrentam hoje; ou seja, deveríamos ter fé na Palavra de Deus simplesmente, naquilo que Ele diz, ou deveríamos avaliar o próprio Deus e a sua Palavra baseados em nossa própria autoridade moral e intelectual?

Deus ordenou a Adão e Eva que não comessem de certa árvore, testando-os para ver se eles tentariam definir o bem e o mal por si só. Satanás veio e contestou a bondade e a honestidade de Deus, sugerindo que Deus tinha motivos básicos para manter Adão e Eva longe dos prazeres da árvore. E, neste ponto, todo o percurso da história humana dependia da possibilidade de Adão e Eva confiarem e pressuporem a bondade de Deus. Uma vez que não o fizeram, a raça humana tem sido visitada por muitos tormentos, dolorosos demais para se relatar. Quando os descrentes se recusam a aceitar a bondade de Deus, assim como Adão e Eva fizeram, notas baseando-se em sua própria revelação, simplesmente perpetuam a fonte de toda a desgraça humana. Em vez de solucionarem o problema do mal, passam a fazer parte do problema.

Portanto, não se deveria pensar que o “problema do mal” é algo que justifique uma base intelectual para uma falta de fé em Deus. Antes, é, de forma bastante simples, a expressão pessoal de tal falta de fé. O que vemos é que os descrentes que desafiam a fé cristã acabam se contradizendo. Por serem desprovidos de fé em Deus, começam a argumentar que o mal é incompatível com a bondade e o poder de Deus. Quando são surpreenddos com uma solução logicamente adequada e sustentada biblicamente para o problema do mal, se recusam a aceitá-la, novamente por causa de sua falta de fé em Deus. Preferem permanecer com as incoerências de suas pressuposições a se submeterem à suprema e imutável autoridade moral de Deus. É um preço muito alto para se pagar, filosófica e pessoalmente.

Notas:

1 DOSTOIÉVSKI,Fiódor M.Os irmãos karamazovi. Coleção Os Imortais da Literatura Universal.Vol. 1.Abril Cultural:Rio de Janeiro,1970,liv.V,cap. IV,p.181-4.
2 HUME,David.Diálogos sobre a religião natural. [Tradução José Oscar de Almeida Marques ].São Paulo:Marins Fontes,1992,p.136.
3 Buffalo,New York:Prometheus Books,1979.

DEUS CRIOU O MAL?

Gênese, ocorrência e finalidade do problema

Por Norman Geisler
Tradução: Elvis Brassaroto

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas” (Is 45.7).

Sempre que se debate o assunto do mal, a tendência é apontar um responsável. Aliás, este é um comportamento intrínseco à natureza humana: colocar a culpa em alguém para se inocentar. No versículo que introduz esta matéria vemos claramente que o Senhor re-clama ser o criador de todas as coisas, inclusive do mal. Destarte, o próprio texto bíblico já se incumbiu de responder à nossa pergunta. Todavia, a questão é mais complexa do que isso e não pode ser reduzida a objetividade desta resposta. Há considerações que não podem ser desconsideradas nesta resposta. O que podemos entender da afirmação de que Deus criou o mal? O que é o mal? Em quais sentidos Deus seria o responsável pelo mal? Por que Deus não aniquila o mal? Por que Deus criou este mundo?

Neste artigo, propomos uma rápida reflexão sobre esta “culpa” que tanto massageia a ego dos céticos, e faremos isto retomando alguns aspectos da matéria “O problema do mal”, escrita por Greg Bahsen e publicada nesta edição de Defesa da Fé como texto de capa.

A gênese do mal

Deus é bom, e criou criaturas boas com uma qualidade denominada livre-arbítrio. Infelizmente, as criaturas de Deus usaram este poder, que é bom, para trazer o mal ao Universo. E como fizeram isso? Ao se rebelarem contra o Criador. Então, o mal surgiu do bem, não direta, mas indiretamente, pelo mau uso do poder bom chamado liberdade.

Desta forma, Deus é responsável por tornar o mal possível, mas as criaturas livres são responsáveis por torná-lo real.

Diante disso, conclui-se que, de alguma forma, o mal se relaciona a Deus, porém, se o crente prega que o mal não é algo separado de Deus e, ao mesmo tempo, não pode proceder de seu interior, então o que é o mal? O problema da criação não pode ser simplificado nas seguintes premissas:

1. Deus é o Autor de tudo o que existe

2. O mal é algo que existe

3. Logo, Deus é o Autor do mal

Concordar que Deus não criou todas as coisas é negar sua soberania. Todavia, admitir que Ele causou todas as coisas e que o mal faz parte dessas coisas é reconhecer que Deus causou o mal. Entretanto, os crentes respondem que o mal não é uma coisa ou substância, antes, é a falta ou a privação de algo bom que Deus fez. Assim, o mal é a corrupção das substâncias boas que Deus criou. É como a ferrugem em um carro ou a podridão em uma árvore. O mal não é algo em si só. Existe somente em companhia de outra coisa, mas nunca sozinho.

Dizer que o mal não é algo, mas uma falta nas coisas, não é o mesmo que afirmar que ele não é real. Temos de entender que privação não é o mesmo que simples ausência. A visão está ausente na pedra assim como no cego, mas a ausência de visão na pedra não é privação, pois a privação é a ausência de algo que deveria estar ali. Já que a pedra, por natureza, não deveria ver, ela não está privada de visão. Logo, o mal é a falta real nas coisas boas, como o cego pode testemunhar. O mal não é uma entidade real, mas a corrupção real em uma entidade real.

Esta corrupção que atinge o homem para que possa transformar a possibilidade do mal em realidade se chama ação. Mas é preciso tomar cuidado para não levar a depravação humana tão longe a ponto de destruir a habilidade de pecar. Um ser totalmente corrompido nem existiria. Não pode haver o mal supremo, pois, apesar de o mal reduzir o bem, jamais poderá destruí-lo completamente, porque se o bem fosse totalmente destruído o próprio mal desaparece-ria, já que seu sujeito, ou seja, o bem, não existiria mais.

A ocorrência do mal

Por que Deus, na sua onipotência, não destrói o mal?

Mesmo um ser onipotente como Deus não é capaz de fazer qualquer coisa para mudar esta tendência humana. Explicando. Deus jamais forçaria as pessoas a escolher livremente o bem, porque a liberdade forçada seria uma contradição à sua Palavra. Logo, Deus não pode destruir literalmente todo o mal sem aniquilar o livre-arbítrio. A única maneira de destruir o mal seria destruindo o bem do livre-arbítrio. Logo, se Deus destruís-se todo o mal, teria de destruir também todo o bem do livre-arbítrio Mas, apesar de Deus não aniquilar o mal, Ele pode (e irá!) derrotá-lo e, ao mesmo tempo, preservar o livre-arbítrio. Assim, ainda que o mal não possa ser destruído sem destruir o livre arbítrio, ele pode ser derrotado.

A finalidade do mal

Deus tem uma determinação para tudo e, por conta disso, nos permite conhecer um bom propósito para a maior parte do mal. Por exemplo, a habilidade que temos de sentir dor possui um bom propósito. C.S. Lewis declarou que “a dor é o megafone de Deus para advertir o mundo moralmente surdo”.

Além disso, temos de ponderar que parte do mal é produto do bem e que Deus é capaz de extrair coisas boas do mal. Também, temos de entender que nem todo evento específico no mundo precisa ter um bom propósito. Apenas o propósito geral precisa ser bom. Certamente, Deus tinha um bom propósito para criar a água (sustentar a vida), mas afogamentos são um dos subprodutos malignos. Assim, nem todo afogamento específico precisa ter um bom propósito, apesar de a criação da água ter tido. A bem da verdade, muitas coisas boas seriam perdidas se Deus não tivesse permitido que o mal existisse.

Isso não significa que este mundo seja o melhor mundo possível, mas que Deus o criou como a melhor maneira de atingir seu objetivo supremo do bem maior.

O mal como um problema que pode ser evitado

Se Deus, por sua onisciência, sabia que o mal ocorreria no mundo, então, por que criou este mundo? O Senhor poderia não ter criado nada; ou ter criado um mundo onde o pecado não pudesse ocorrer. Ou, ainda, criar um mundo onde o pecado ocorresse, mas que todos fossem salvos no final. Logo, segundo os descrentes, Deus não fez o melhor.

Entretanto, é necessário ter em mente que Deus não precisa fazer o melhor, mas apenas fazer o que é bom. Mas será que outra alternativa seria realmente melhor que este mundo? Absolutamente.

A ausência de mundo não pode ser melhor que o mundo. “Nada” não pode ser melhor que “algo”.

Um mundo livre, onde ninguém peca, ou mesmo um mundo livre, onde todos pecam e depois são salvos é concebível, mas não é atingível. Enquanto todos forem realmente livres, sempre será possível que alguém se recuse a fazer o bem. Se Deus não permitisse o mal, então as virtudes mais elevadas não poderiam ser atingidas. Não há como experimentar a alegria do perdão sem permitir a queda no pecado.

O cristão sabe da realidade do mal e, dentro de sua limitação, se esmera por evitá-lo. Ninguém pode demonstrar um mundo alternativo melhor que o mundo proposto pelo cristianismo. Não podemos nos esquecer que Deus ainda não terminou a sua obra, e muitos menos que as Escrituras prometem que algo melhor será alcançado. A fé do crente é que este mundo é o melhor caminho para o melhor mundo atingível.

EXTRAIDO DO SITE DO ICP

O HOMEM

O HOMEM


“Que espécie de ser é esse que Deus criou?”

Por Clério Ximenes

O que é pecado? De acordo com a definição do dicionarista Aurélio, a palavra pecado vem do latim peccatu e significa “transgressão de preceito religioso. Falta, erro; culpa, vício”. E complementa: “Pecado original – o pecado de Adão e Eva, transmitido a todos os seus descendentes, que nascem em estado de culpa”.
Segundo o Breve Catecismo de Westminster, “Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão desta lei”. Outro Catecismo importante, o de Heidelberg, traz como 3a. pergunta: “Como você conhece sua miséria?”. E responde: “Pela lei de Deus”. Em 1 João 3.4 temos: “(...) pecado é transgressão da lei”.
No grego, os termos bíblicos usados para pecado são: hamartia, que significa “ato pecaminoso, pecaminosidade” (At 3.19); paraptoma, “transgressão, pecado, passo em falso (Ef 2.1); anomia, “ilegalidade, transgressão, pecado como estado mental, ato ilegal” (Mt 13.41); e adikia, “injustiça, erro, impiedade, iniqüidade” (Rm 6.13).
No hebraico encontramos as seguintes palavras para pecado: chata, que quer dizer “errar o alvo” (Êx 20.20); aven, “agir com perversidade” (Is 53.6); pesha, “revoltado” (Is 1.2); maal, “agir traiçoeiramente” (Js 7.1); marah, “rebelar, amargurar a Deus” (1Sm 12.13); e marad, “ser desobediente” (Ne 9.26).

Conhecendo o homem

Mas o que é propriamente o pecado adâmico? Para responder a essa indagação, faz-se necessário pesquisar a história do próprio homem ou, mais acertadamente, da humanidade.

O registro literário da origem do céu e da terra no primeiro capítulo de Gênesis nos remete à criação do homem. Segundo o texto, há um tipo de conselho especial de Deus que precede a criação do homem segundo à sua imagem e semelhança.
O que fazer para conhecer a história do homem? É certo que esse conhecimento ocorre pela maneira com a criatura responde às atividades de Deus. Observa-se no relato bíblico que a criação do homem é acompanhada de uma narrativa sobre a atitude desse homem no Paraíso. A ação de Deus sempre foi um desafio para a decisão e o cometimento, e a resposta do homem o retrato de sua íntima condição.
Outra pergunta que deve ser levantada é: Que espécie de ser é esse que Deus criou, entrando em diálogo e convivendo diretamente com ele? Vê-se que a resposta surge a partir da memória, do registro, do arquivo e do documento do que o homem tem feito. A dignidade que ele possui nasce do fato de haver Deus tomado a decisão de ter comunhão com ele, de ter dignificado as obras de suas mãos, de o haver chamado para a obediência e de o ter zelado graciosamente para dirigir a sua própria história.

É importante ressaltar que Deus não criou apenas um homem, mas os homens, à sua imagem e semelhança. Na conclusão de Gênesis 1.27, eles são designados como macho e fêmea. Não foi apenas o homem, nem apenas a mulher, mas os dois, em sua interdependência, que foram criados à imagem de Deus, em comunhão com Deus e com eles mesmos. E, de acordo com a bênção outorgada (Gn 1.28), eles são portadores dessa imagem não somente em e para si mesmos, mas também em sua posteridade. A raça humana, em cada uma de suas partes e em seu conjunto, é organicamente criada à imagem e semelhança de Deus. A Bíblia nunca fez pausa para uma reflexão sistemática sobre o significado desta semelhança ou imagem divinas no homem. Apenas o apresenta como uma inferência da atividade criadora de Deus e em seguida, cala-se.

O primeiro homem

Originariamente, o primeiro homem foi chamado simplesmente de “o homem” (ha-adam). É somente em Gênesis 4.25, ou seja, depois da queda, que o nome Adão aparece sem o artigo definido. O nome geral tinha se tornado um nome pessoal. Da mesma forma, o nome Eva só é registrado a partir de Gênesis 3.20, no contexto imediatamente posterior à queda. Isso indica que o primeiro homem (macho e fêmea), é a origem de toda a raça humana. Segundo o texto bíblico, o homem foi formado do pó da terra, mas recebeu de Deus o fôlego de vida. Ele é um ser físico, mas também é um ser espiritual, racional e moral. Da mesma forma a mulher participa dessa natureza, pois foi criada não simplesmente ao lado de Adão, mas a partir do homem, tornando-se um ser vivo independente dele. Ela veio depois de Adão e foi feita a partir dele, mas deve sua existência exclusivamente a Deus. Ela é uma ajudadora, uma auxiliadora, não uma amante ou muito menos uma escrava, mas um ser livre, pensante, independente e individual, que recebeu sua existência não do homem, mas de Deus, possuindo, destarte, os mesmos direitos e as mesmas obrigações que o homem - leia-se, que o macho. Assim, a literatura bíblica registra a origem do homem, tanto do macho quanto da fêmea.

A idéia da origem do homem está relacionada muito de perto com a idéia da essência do homem. Muitos, em nossos dias, dizem que o homem e o mundo, independente de qual tenha sido sua origem e seu desenvolvimento no passado, são o que são e continuarão sendo sempre assim. A realidade permanece a mesma, independente de formarmos uma idéia verdadeira ou falsa sobre ela. E o mesmo pode ser dito sobre a origem de todas as coisas. O mundo surgiu da forma que surgiu, e não da forma que gostaríamos que ele tivesse surgido ou da forma que supomos que ele tenha surgido. E a idéia que temos a respeito da origem de todas as coisas está diretamente relacionada com a idéia que temos a respeito da essência de todas as coisas.

A narrativa de Gênesis mostra Deus criando todas as coisas, inclusive o homem (macho e fêmea), colocando-o em um jardim. O Senhor Deus lhe dá o direito de comer livremente de todos os frutos das árvores do jardim, exceto o de uma, o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas o homem (macho e fêmea) toma do fruto da árvore da exceção e come.

Queda dos anjos, queda do homem

Então, finalmente, chegamos ao que podemos chamar de pecado adâmico? Não é bem assim. Primeiramente, tem-se de descobrir a origem do mal (ou do pecado), pois certo está que o pecado não surgiu pela primeira vez na terra, mas no céu, na presença imediata de Deus, junto ao seu trono. A literatura bíblica não dá um registro detalhado sobre a criação e a queda dos anjos; ela nos diz somente o que precisamos saber para que tenhamos algum entendimento do homem e de sua queda. Ela não faz considerações posteriores e não faz qualquer esforço no sentido de satisfazer nossa curiosidade. Mas sabe-se que os anjos existem, que um grande número deles “caiu” e que essa queda aconteceu no começo do mundo e que precedeu a queda do homem. O pensamento, o desejo, a vontade de resistir a Deus surgiu primeiramente no coração dos anjos. Além do mais, o homem não pecou contra Deus exclusivamente por si mesmo, mas foi também movido por algo de fora de si mesmo – pela “serpente”. Não cabe aqui um estudo mais profundo sobre quem, o que era ou o que representava essa “serpente”. Pode-se, no entanto, traçar um íntimo paralelo entre ela e o que é trazido depois pela literatura neotestamentária como sendo Satanás. Desse Satanás veio a tentação ao homem. Ela veio na forma de um ataque ao mandamento que Deus dera de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. É certo que a tentação não vem de Deus, pois Ele está acima da tentação. Quanto a esse assunto, Tiago se expressa da seguinte maneira: “Deus a ninguém tenta” (Tg 1.13).

Mas assim como Deus faz o bem, Satanás faz o mal. Satanás exagerou o mandamento probatório e transformou-o em uma tentação, um ataque secreto à obediência do primeiro homem. Por meio dessa tentação sua intenção era claramente fazer que o homem pecasse. Primeiro, o mandamento que Deus tinha dado é representado como um fardo arbitrariamente colocado sobre o homem, como uma limitação infundada da liberdade humana. Assim, Satanás lança no homem a dúvida sobre a justiça desse mandamento e sua origem divina. Depois, a dúvida se desenvolve em incredulidade, por meio do pensamento de que Deus deu esse mandamento para impedir que o homem se tornasse como Ele, conhecedor do bem e do mal. Essa incredulidade é colocada a serviço da imaginação e faz que a transgressão pareça ser, não um caminho para a morte, mas um caminho para a vida, para a igualdade com Deus. A imaginação, dessa forma, faz sua obra na inclinação e no esforço do homem. Então o fruto da árvore proibida passa a ter outra aparência. O desejo, sendo concebido dessa forma, expulsa a vontade e carrega consigo o ato pecaminoso.

Homem versus Lei

As Escrituras não nos oferecem nenhum tratamento filosófico a respeito da depravação humana. É o homem totalmente ou parcialmente depravado? Deve a sua condição miserável à corrupção moral inata e à tendência para o mal ou ao mau uso da escolha livre, seguindo o exemplo de Adão? (Agostinho versus Pelágio). O homem está predestinado à salvação ou à destruição? É o homem recipiente ou não-recipiente da graça irresistível ou tem ele a capacidade dentro de si para aceitar ou rejeitar a eleição e a graça? (calvinismo versus arminianismo). A Bíblia não nos dá resposta clara, distinta e incontrovertível a esse respeito, porque essas questões não passam de cogitação intelectual sobre o homem como “substantivo” e desviam o foco de atenção da narrativa flexível, tocante, que é o espelho da vida humana, para uma dogmática elaborada em proposições e formando um sistema. Assim, o movimento dinâmico que caracteriza a narrativa bíblica é transformado em um paradoxo racional que a mente, sem dúvida, tenta resolver tomando uma ou outra dimensão.

Além disso, a teologia cristã tem-se inclinado a pensar que o homem adquire o conhecimento do pecado por meio do confronto com a lei que o leva a perceber-se sob a perspectiva daquilo que ele deveria ser. Conforme mencionado no início deste artigo, o Breve Catecismo de Westminster afirma que “pecado é toda carência de conformidade à lei de Deus e a violação dela”. O próprio Melanchton definiu o pecado como “a afeição depravada, a moção corrompida do coração contra a lei de Deus”. Todavia, o perigo de tal ênfase exclusiva é sempre uma visão forense (leia-se legal) do pecado que obscurece o que a narrativa bíblica torna claro e evidente, isto é, que todo pecado é contra Deus e não contra um postulado formal e legal. Da mesma forma que toda a adoração no sentido bíblico é definida ou como idólatra ou como dedicada totalmente a Deus, e nunca a nenhum outro ser, assim também o pecado é fundamentalmente uma violação da relação pessoal com Deus. É certo que os reformadores perceberam esse ponto e o realçaram com especial clareza em contraste com os ensinos da Igreja medieval. Mesmo assim, o perigo de simplificar em demasia a Bíblia por meio de proposições abstratas ainda permaneceu e está especialmente evidente no período pós-Reforma, chegando com um grau acentuado até os nossos dias. As raízes e as ocasiões do pecado na acepção bíblica são tão variadas quanto a vida e a história. Muito mais está envolvido do que simplesmente a lei.
Assim, é duvidoso afirmar que é possível aclarar o conhecimento humano do pecado somente pela lei, em vista da narrativa bíblica. Pois a história retrata os atos de Deus e as ações humanas como resposta, e outra vez a obra de Deus em réplica ao que o homem faz, e assim por diante. É um movimento no contexto dos eventos, e o homem, via de regra, não está consciente do seu pecado enquanto não se confrontar com a ação subseqüente de Deus como julgamento. Por isso, não é somente a lei que traz ao homem a noção do pecado, embora, por certo, a lei tenha sido interpretada como a expressão da vontade de Deus no plano da História. São especialmente os atos de graça e juízo de Deus que descobrem a verdadeira natureza do comportamento humano, bem como seus motivos ocultos. Definir o pecado como fundamentalmente uma violação da lei redunda em intelectualizar e formalizar sua natureza de tal maneira que o movimento pessoal e ativo da história bíblica se desloca para o fundo obscuro, fora de foco, mesmo se não for ignorado.

Compreendendo a História

Então, como tratar o material bíblico referente ao homem? Voltamos à velha pergunta. Pode-se fazer considerações, observando apenas o que o homem faz na imensa variedade de situações que ele enfrenta na História e os efeitos sobre suas atividades, deixando de lado qualquer indagação abstrata do que o homem é em sua essência.

No entanto, o prefácio bíblico (Gn 1-11) mostra que precisamos começar com certos pressupostos concernentes ao homem no mundo que, por vez, são inferências derivadas da reflexão sobre a história da atividade divino-humana como um todo. A natureza reta e justa de Deus como se revela, no que a Teologia Bíblica convencionou chamar de kerygma, indica que não é permissível sustentar uma concepção pessimista de que o mundo é mau. A criação de Deus é boa porque Deus é bom. No entanto, a vida humana, na medida em que a percebemos na História, não é absolutamente boa. A Bíblia se caracteriza por não procurar explicar essa condição humana. O que ela faz, no máximo, é tentar descrevê-la em forma narrativa.

Que existe o pecado e a miséria é algo que todos nós sabemos, não apenas por causa do registro das Escrituras; isso é algo que nos é ensinado diariamente e em todos os momentos por uma natureza que “geme com gemidos inexprimíveis”. Todo o mundo está marcado pela queda (animal - racional ou irracional, vegetal e mineral). E se o mundo ao nosso redor não nos proclamasse essa verdade, mesmo assim seríamos lembrados a todo o momento disso pela voz da consciência, que continuamente nos acusa, e pela miséria do coração, que dá testemunho de uma tristeza inominável.

Tudo na vida do homem constitui uma antítese à intenção de Deus para com o homem, de acordo com o que se revelou no Jardim do Éden. Ora, a existência humana é uma contínua batalha com a tentação - a serpente (Gn 3.15) por um lado e, por outro, a luta com a terra para a sua sobrevivência. A dor e a luta pelas quais passamos devem-se à maldição que Deus lançou, não sobre nós como criaturas viventes, mas sobre a natureza com que pelejamos e na qual fomos colocados (Gn 3.19ss). Até mesmo a árvore da vida está afastada do homem, embora não fosse declarada com precisão se era ou não intenção de Deus que o homem comesse do fruto no Jardim. Assim, não é muito evidente se o autor pretendia inferir no fato de que o homem fora criado para viver sem a morte. Seu pensamento está mais focalizado na situação atual da vida do homem do que nas possibilidades originais do homem. A Teologia posterior supôs, e naturalmente não há nenhum erro nisso, a relação direta do pecado com a morte física; por exemplo: 1Co 15.21s.

Assim, a razão pela qual Deus sentenciou a vida humana está descrita com simplicidade no capitulo 3 de Gênesis. É a auto-asserção de que o homem fez o que Deus lhe havia proibido fazer. Nesse ato deliberado de desobediência, o homem chegou a atingir o conhecimento do bem e do mal. Na desobediência ativa, o homem torna-se cônscio do mau uso a que o bem pode ser submetido. Em seu ato desobediente, o homem fez uso de sua mente para racionalizar o que estava fazendo, para que o ato não lhe aparentasse um mal. Sua natureza verdadeira tornou-se evidente somente quando ele foi confrontado com o juízo de Deus. Nesse confronto, não conseguiu êxito e teve de culpar o tentador, fugindo, assim, à aceitação da responsabilidade.

Por que o homem foi criado para agir desse modo característico? A história não nos dá uma resposta. O que ela nos diz é que este é simplesmente o modo como o homem é. Não é a intenção de Deus que ele seja desse modo. Porém, o homem usa sua vontade e mente para agir contra Deus e, por causa do orgulho, ele não pode expor sua culpa diante de Deus e reabilitar-se em confissão e arrependimento sinceros. Conforme essa história, o pecado fundamental da humanidade, ora chamado de Pecado Adâmico, é a desobediência voluntária e propositada contra Deus, a qual, quando confrontada com a penalidade, é composta de medo e orgulho. Em conseqüência, existe uma alienação entre o homem e Deus.

Ação de Deus

Imediatamente depois da queda, Deus veio ao homem. O homem tinha pecado e estava coberto de vergonha e temor. Ele foge de seu Criador e se esconde por entre a densa folhagem do jardim. Mas Deus não se esquece dele. Ele não o abandona, mas tem misericórdia dele, vai ao seu encontro, fala com ele e chama-o de volta para ter comunhão com ele (Gn 3.7-15).

A Teologia cristã tem-se mostrado propensa a limitar-se, em grande parte, à frase do autor sacerdotal “à imagem de Deus” (Gn 1.26s) e ao quadro da queda do homem (Gn 3), na perspectiva do autor, por um lado, e por outro, à redenção realizada por Deus em Jesus Cristo, o último Adão e doador da vida. Assim, o esboço antropológico é inspirado principalmente em Gn 1-3 e nas cartas paulinas, e consta do seguinte:

1 - a natureza do homem como Deus o criou;

2 - a natureza do homem na perspectiva da queda, isto é, como criatura “decaída”, herdando de Adão a capacidade para pecar;

3 - a doutrina da expiação em Cristo.

É impossível, naturalmente, tratar tanto a primeira como a segunda à parte de Cristo. Todas as doutrinas cristãs têm o centro e fundamento em Jesus Cristo. Por isso, qualquer consideração do homem feito à imagem de Deus terá de ter como centro e base a apresentação neotestamentária do Cristo como verdadeiro homem de Deus (2 Co 4.4; Cl 1.15). A vinculação entre o Filho do Homem e o Pai retrata o homem sob a perspectiva do que ele deve ser e da intenção de Deus. E, ao mesmo tempo, o modo como Cristo foi recebido, tratado e crucificado revela, mais vividamente do que qualquer expressão imaginável, a natureza “decaída” e rebelde do homem, ao passo que a expiação é a obra de Deus para perdoar, redimir e recriar a raça humana. O pecado e a morte de Adão criaram uma barreira entre o homem e Deus. Cristo a removeu, na qualidade de único mediador. Nesse ponto, o Dogma da Imaculada Conceição de Maria e, conseqüentemente, o atributo de intercessora junto a Deus pelos homens é carecedor de verdade, e deveria ser revisto à luz das Escrituras. É o ato da graça de Deus, em Cristo, que restaura toda a criação original (animal - racional e irracional; vegetal e mineral), como, por exemplo, expresso em Romanos 8.29, Colossenses 3.10 e 1 Coríntios 15.49. Portanto, a cruz é o único símbolo apropriado da fé bíblica, porque nela a retidão de Deus é apresentada com toda a verdade nas suas dimensões do juízo e da salvação por um lado e, por outro, do pecado e da redenção do homem.

Membros de um mesmo corpo

Se por um lado o pecado traz a individualização (indivíduo Adão, indivíduo Eva), o eu individual, por outro, a obra da redenção e recriação proporcionada por Cristo nos torna membros de um mesmo corpo, vivenciando uma comunhão com Deus e com o próximo, como no início das eras, não havendo distinção entre judeu e grego, escravo e liberto, homem e mulher. Em Cristo todos somos um! (Gl 3.28). A comunhão ganha outra perspectiva e é novamente vivenciada como antes da queda.
O que aconteceu imediatamente depois da queda continua acontecendo na história de geração em geração. Vemos a mesma coisa acontecendo sempre. Em toda a obra de redenção é Deus e somente Deus que se manifesta como aquele que procura e chama, como aquele que fala e age. É Ele quem coloca Sete no lugar de Abel (Gn 4.25), que concede sua graça a Noé (Gn 6.8) e que o preserva do julgamento do dilúvio (Gn 6.12ss), que chama Abraão e estabelece uma Aliança com ele (Gn 12.1; 17.1), que, por sua graça, escolhe o povo de Israel como seu herdeiro (Dt. 4.20; 7.6 ss), que na plenitude dos tempos envia seu Filho unigênito ao mundo (Gl 4.4) e que, agora, nesta dispensação de toda a raça humana reúne uma Igreja que Ele elegeu para a vida eterna e que preserva para a herança celestial (Ef 1.10; 1 Pe 1.5). Assim como na obra da criação e na obra da providência, na obra da redenção e recriação Deus também é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim (Is 44.6; Ap 22.13). E não pode mesmo ser outra coisa, pois Ele é Deus. Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. “Glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm 11.36).

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*Clério Ximenes é advogado, músico, membro da Igreja Presbiteriana de Vila Mariana (SP) e acadêmico de teologia da Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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