quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

CURIOSIDADE


O maior monumento sobre a terra

O maior monumento sobre a terraPenínsula do Sinai. Aproximadamente 1500 a.C., um ancião solitário dentro de sua humilde cabana de peles de animais escreve em uma linguagem antiquíssima. O sol escaldante não pode esmorecer seu corpo octogenário, já acostumado com as intempéries do deserto. Ao redor da humilde habitação, uma multidão inquieta teme pelo seu destino e pelo futuro de seus filhos. À sua frente, ergue-se altaneiro e imponente o Horebe, olhado agora com ainda mais reverência e espanto.
Se outrora lhes pesava o jugo da opressão, agora é a solicitude pela vida que lhes aperta o coração. Se antes lhes doía a carne, agora lhes aflige a alma. Se antes eram meros estrangeiros em terra alheia, então são simples peregrinos tendo a esperança por destino. Nem casas fixas de tijolos cozidos, nem plantações borbulhantes de melões, alho e cebolas, nem poços nem rios, nem carne. Tudo é pedra, terra e sol. Tudo é expectativa. Tudo é indagação. O pão comido com lágrimas já ficara para trás, e o mel bebido com alegria ainda não viera. O inimigo conhecido já se fora e o oculto ainda não chegara. O passado já não era e o futuro ainda seria. Fora arrancada a velha árvore, mas a nova ainda não estava plantada.
Neste ambiente inóspito e incerto, começava a ser erigido o maior monumento sobre a terra, monumento que a mente humana jamais haveria de igualar. Sem mover uma única pedra ou polir qualquer rocha, seria sólido e paulatinamente erguido em um período de 16 séculos. Neste tempo, outros monumentos se elevariam para a glória humana, para depois sucumbirem com e como a mesma, deixando nada mais que mera lembrança, sem nada imprimir, moldar ou mudar no espírito humano.
As mãos e a mente do ancião, entretanto, eram movidas por um Espírito superior, mal sabendo ele que aquele Livro, que entrava para a história, haveria de prever, guiar, alterar e definir o destino e os caminhos de  milhões de indivíduos, de nações e do mundo.
Aquele livro seria o grande paradoxo da humanidade, edificando nações e as derrubando, plantando e arrancando, exaltando e humilhando-as. Seria tão amado que por ele muitos morreriam, e tão odiado que por ele muitos outros matariam. Seria criticado e defendido, desprezado e analisado, terminantemente proibido por uns e largamente divulgado por outros. Entraria na mais humilde cabana e no mais belo palácio. Viajaria de Norte a Sul e do Oriente até o Ocidente. Seria escarnecido e louvado. Olhado com a mais dura incredulidade e com a mais pura fé.
Aquele velho, que oitenta anos antes havia sido salvo nas águas do Nilo, que havia bebido das glórias de um poderoso império e se fartado com a poeira, o sol e o céu do deserto, começava agora a escrever. Embora soubesse que do alto vinham as suas palavras, ainda era cedo demais para que ele tivesse ideia da força existente naqueles escritos (leia nosso artigo O Pentateuco). Sobre a pedra angular por ele lançada, um edifício mais sólido que os alicerces da própria terra e do Universo seria construído. Um Livro, cujo conteúdo fora concebido antes da fundação do mundo e cujas verdades continuariam após o seu fim (leia nosso artigo O fim do mundo).
Outros viriam e,  movidos pelo mesmo Espírito, seriam instrumentos na edificação deste monumento. Homens distintos e distantes uns dos outros. Na Ásia, na África, na Europa. Em palácios, em cabanas ou num templo. Possuindo a sabedoria dos reis ou a simplicidade dos pescadores, tendo a transcendência dos visionários e profetas ou a objetividade do médico, a ação dos governantes ou meditação dos sacerdotes; estes homens escreveriam. E como construtores de grandes catedrais, colocariam pedra sobre pedra. Até um boiadeiro e um general haveria entre eles. Homens de mentes variadas, muitas vezes desconhecendo o porquê de suas arrebatadoras palavras, iriam, letra a letra, palavra por palavra, levantar o inigualável edifício.
Hoje, mais de três milênios se passaram desde que o velho hebreu foi movido a escrever. A história do Livro em si é impressionante. Fantástica, porém, são suas marcas na história. Marcas feitas muitas vezes contra a vontade dos marcados, pois, mais do que palavras, este Livro trouxe determinações; determinações estas que suplantaram a vontade, os planos e os feitos de reis e de reinos, mostrando sobre a terra um poder mais forte que a espada e a força bruta, sendo mais rápido que a flecha e o arco, mais sólido que catapultas: assim é o poder da profecia divina encontrada nas Escrituras Sagradas.
Jorrando através dos lábios de pessoas simples – membros de um povo desprovido de grandeza militar ou política, vivendo mais como dominados do que como dominantes – a palavra profética era o martelo de Deus, lançando abaixo os muros de Babilônia e Nínive, arrasando Tiro e Sidon, extinguindo Moabe e Edom.
“Assim diz Yahveh” – era o grito do profeta e, com certeza, suas palavras invadiriam o ar, penetrariam o tempo e se transformariam em história. Inumeráveis vezes, a profecia se transformou em fato histórico, contra todas as probabilidades. Não uma ou outra vez, como tênue pressuposição originária da opinião humana, mas sempre, como firme determinação, nascida na mente e no coração de Deus.
Ao estudante é impossível não pasmar. Se de um lado tivéssemos as Escrituras e do outro livros de história, certamente ficaríamos impressionados. A profundidade do pensamento grego modelou o pensamento universal e a sociedade romana enraizou-se em nossa cultura. Mas a profecia hebraica fez mais do que ambos, pois é como se tivesse nos tirado dos limites geográficos e históricos, fazendo-nos ver do alto de uma montanha os caminhos da existência  humana. A profecia hebraica transforma o passado e o futuro em tempo presente, reunindo tudo em uma única perspectiva – a perspectiva divina.
Quando nos tornamos cônscios do estreitíssimo vínculo entre a profecia bíblica e a história humana, somos capazes de ver os caminhos e a mão de Deus por entre os caminhos dos homens, além de reconhecer que a nossa história é em grande parte o seu eterno desígnio.
Essa é a força, o poder e a sabedoria das Sagradas Escrituras, a eterna Palavra de Deus.

Saber e Fé 

O QUE É PECADO ORIGINAL?


O que é pecado original?


O que é pecado original?Muitas pessoas pensam que o pecado original foi a relação sexual entre Adão e Eva. Essa crendice popular cai por terra quando nos deparamos com os textos de Gênesis 1.27,28 e 2.24: “Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.” “Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne”.
Como se pode ver, ambos os textos nos remetem a um período anterior à queda e são muito claros no tocante à relação sexual como sendo aprovada por Deus dentro do casamento. Mesmo assim, algumas pessoas insistem em ligar a imagem “do fruto proibido” com a maçã, combinando este mito com o sexo do primeiro casal. Visto que tal ideia acabou de ser desmitificada perante a Bíblia, resta a pergunta: o que é pecado original?
O que é pecado original?
Para responder a essa pergunta, reportar-nos-emos às três principais linhas teológicas da ortodoxia cristã: reformada, wesleyana e pentecostal clássica.
Louis Berkhof, teólogo reformado, explica que a doutrina foi denominada “pecado original” por três motivos: (1) porque deriva-se da raiz original da raça humana; (2) porque está presente na vida de todo e qualquer indivíduo, desde a hora do seu nascimento e, portanto, não pode ser considerado como resultado de imitação;  e (3) porque é a raiz interna de todos os pecados concretizados que corrompem a vida do homem.1
Orton Wiley, teólogo wesleyano, aceita a definição da Igreja Anglicana: “O pecado original é o defeito e a corrupção de todo homem por meio da qual o indivíduo está muito distanciado da retidão original e é, por sua própria natureza, inclinado para o mal, de maneira que a carne sempre tem desejos contrários ao Espírito; e, portanto, em cada pessoa nascida neste mundo ele (o pecado original) merece a ira de Deus e a Sua condenação”.2
Bruce Marino, teólogo das Assembleias de Deus nos EUA, declara que o pecado original é o ensino escriturístico de que o pecado adâmico afetou a humanidade em 4 aspectos: solidariedade, corruptibilidade, pecaminosidade e punitividade. No primeiro aspecto, Marino ressalta como a raça humana está vinculada (ligada) a Adão; no segundo, ele enfatiza que o alcance da queda é total e alude à total depravação; no terceiro ponto ele enfatiza a universalidade do pecado, isto é, toda a humanidade foi atingida pela queda de Adão; e no último, integrado aos demais pontos, ele mostra que baseado em tais premissas, toda a raça humana é merecedora de castigo, inclusive as crianças, assunto que abordaremos com mais calma adiante.3
Desta forma, podemos concluir que, o pecado original é a herança pecaminosa que a humanidade adquiriu de Adão. É a propensão para o mal, a inclinação para o pecado. Depois da queda, portanto, o homem passou a viver com tendência intrínseca para o mal, nossa natureza foi corrompida e se tornou propensa para o pecado. Elucidando ainda mais essa concepção, podemos citar Sproul, presidente da Reformation Bible College e pastor auxiliar da Saint Andrew’s Chapel na cidade de Sanford, na Flórida. Ele disse que não somos pecadores porque pecamos, mas que pecamos porque somos pecadores, pois herdamos de Adão uma condição corrupta de pecaminosidade.4
Quais são as origens dessa doutrina?
Embora alguns autores deem a Agostinho o primado por esse ensino,5 podemos verificar com destreza que tal doutrina remonta ao período apostólico. Apesar de tal nomenclatura não ser encontrada na Bíblia, seu conceito é integralmente exposto nela, conforme podemos verificar nos axiomas infracitados:
I) A herança de Adão: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5.12).
II) A universalidade do pecado: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).
III) A solidariedade adâmica: “Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados” (1 Co 15.21,22).
IV) A depravação total: “…já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3.9-12).
V) A punição da humanidade: “Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.1-3).
Além dos textos bíblicos supracitados, há inúmeras passagens que atestam o estado totalmente depravado do homem, sua inabilidade natural e, consequentemente, a natureza corrompida da humanidade, bem como a universalidade do pecado: Gn 8.21; Sl 51.5; Is 64.6,7; Jr 17.9; Jo 1.13,29; 3.5,6; 5.42; 6.44; 7.17-24; 8.34; 15.4,5; 16.8,9; Rm 7.18,23,24; 8.7,8; 1 Co 2.14; 2 Co 3.5; Gl 5.17; Ef 2.1-3; 4.18; 8-10; 2 Tm 3.2-4; Tg 1.15; Hb 3.12; 11.6; 1 Jo 1.7,8.
Ainda que tenhamos evidências escriturísticas a esse respeito, encontramos pessoas que questionam tal ideia, afirmando que o homem peca apenas quando tem entendimento do bem e do mal, isto é, quando alcança a idade da razão.6 Negar o pecado original significa dizer que o homem é bom em sua essência e que nasce neutro, isto é, sem pecado. Tal busca pela pedo-justificação acaba fazendo seus proponentes caírem numa antiga heresia, condenada pelo cristianismo histórico: o pelagianismo.
Agostinho x Pelágio
Pelágio foi um austero monge e popular professor em Roma. Sua austeridade era puramente moralista, ao ponto de não conseguir conceber a ideia de que o homem não podia deixar de pecar. Ele estava mais interessado na conduta cristã e queria melhorar as condições morais de sua comunidade. Sua ênfase particular recaía na pureza pessoal e na abstinência da corrupção e da frivolidade do mundo, resvalando no ascetismo.7
Ele negava a ênfase de Tertuliano ao pecado original, sob a argumentação de que o pecado é meramente voluntário e individual, não podendo ser transmitido ou herdado. Para ele, crer no pecado original era minar a responsabilidade pessoal do homem. Ele não concebia a ideia de que o pecado de Adão tivesse afetado as almas e nem os corpos de seus descendentes. Assim como Adão, todo homem, segundo o pensamento pelagiano, é criador de seu próprio caráter e determinador de seu próprio destino.
No entendimento pelagiano, o homem não possui uma tendência intrínseca para o mal e tampouco herda essa propensão de Adão, podendo, caso queira, observar os mandamentos divinos sem pecar. Ele achava injusto da parte de Deus que a humanidade herdasse a culpa de outrem e desta forma negava a doutrina do pecado original.8 Para Pelágio, portanto, o homem pecava por socialização e não pela natureza corrompida.
Agostinho, por sua vez, rebateu as ideias de Pelágio e defendia a doutrina do pecado original. Para o Bispo de Hipona, uma vez que o homem havia cedido ao pecado, a natureza humana foi afetada obscuramente pelas consequências do mesmo, tornando-se desordenada e propensa para o mal. Sendo assim, sem “a ajuda de Deus é impossível, pelo livre-arbítrio, vencer as tentações desta vida”. Essa ajuda divina para escolher o certo, ou retornar para Deus, era Sua graça, a qual Agostinho define como “um poder interno e secreto, maravilhoso e inefável” operado por Deus nos corações dos homens.9
Após tal discussão, outro grupo quis equilibrar ambas as posições e eles ficaram conhecidos como semi-pelagianos. Esta antiga heresia é oriunda dos ensinos dos massilianos, liderados principalmente por João Cassiano (433 d.C), o qual tentou construir um elo entre o Pelagianismo, que negava o pecado original, e Agostinho, que defendia que todos os homens nascem espiritualmente mortos e culpados do pecado de Adão.10
Cassiano acreditava que as pessoas são capazes de se voltarem para Deus mesmo à parte de qualquer infusão da graça sobrenatural e que “restou poder suficiente na vontade depravada para dar o primeiro passo em direção à salvação, mas não o suficiente para completá-la”.11 As ideias semi-pelagianas foram condenadas pelo Segundo Concílio de Orange no ano de 529.
O que é depravação total?
Berkhof explica que “Em vista do seu caráter impregnante, a corrupção herdada toma o nome de depravação total”.12 Mas o que vem a significar essa expressão? A palavra depravação, segundo qualquer dicionário de português, significa, nada mais nada menos, do que corrupção ou perversão. Como estaria o homem não regenerado submetido a um estado de corrupção integral?
Ronald Hanko clareia o uso dessa expressão ao dizer que que a palavra “depravação” associada ao uso de “total”, quer dizer três coisas: 1) que todos os homens, exceto Jesus, são depravados e ímpios; 2) todos os atos, pensamentos, vontades, desejos, escolhas e emoções de todos os homens são completamente ímpios aos olhos de Deus e 3) que todos os homens são ímpios em sua totalidade (atos, pensamentos, vontades, desejos, escolhas e emoções).13
Quando algumas pessoas leem essa definição, não compreendem como um homem que nunca matou, nunca roubou e que nunca fez nenhum mal aparente ao próximo, poderia, mesmo sendo não regenerado, ser enquadrado nesse estado.
Berkhof elucida essa questão explicando que, muitas vezes a expressão “depravação total” é mal compreendida, e, portanto, requer cuidadosa discriminação. Dessa forma, ele mostra que tal ensino, em consonância com o pecado original, não afirma:“que todo homem é tão completamente depravado como poderia chegar a ser” (cf Lc 11.11-13), “que o pecado não tem nenhum conhecimento inato de Deus, nem tampouco tem uma consciência que discerne entre o bem e o mal”, “que o homem pecador raramente admira o caráter e os atos virtuosos dos outros, ou que é incapaz de afetos e atos desinteressados em suas relações com os seus semelhantes” e nem “que todos os homens não regenerados, em virtude da sua pecaminosidade inerente, se entregarão a todas as formas de pecado”.14
Em contrapartida, a “depravação total” indica que “a corrupção inerente abrange todas as partes da natureza do homem, todas as faculdades e poderes da alma e do corpo” e que “absolutamente não há no pecador bem espiritual algum, isto é, bem com relação a Deus, mas somente perversão”.15
Crianças estão debaixo do pecado original?
Mas, e as crianças? Elas também se encontram neste estado de “depravação total”? Será que elas herdam de Adão a concupiscência e estão debaixo do pecado original? Por mais que seja difícil para a mente humana aceitar esse fato diante de uma criatura aparentemente inocente, é o que a Bíblia afirma. As Escrituras não fazem distinções etárias: “… todos pecaram” (Rm 3.23).
Uma criança já nasce com a inclinação para o pecado (Sl 51.5). Podemos testificar essa verdade empiricamente. Qual é o pai que ensina seu filho de dois anos a mentir? Mesmo assim, quando tal criança apronta alguma travessura, ela trata logo de mentir para se livrar da bronca. Quem ensina as crianças a serem desobedientes, egoístas, briguentas, pirracentas e rebeldes? Entretanto, naturalmente, essas mazelas aparecem livre e espontaneamente, cabendo aos pais educar tais crianças. Essas atitudes caracterizam a inclinação natural que o homem tem para o pecado.
Mas, e em relação à salvação das crianças?16 Este seria tema para outro artigo, porém, visto que o assunto puxa automaticamente esse questionamento, vale a pena comentar, ainda que de forma não confessional e panorâmica, visto não ser esse o objetivo do presente artigo, que existem várias posições a esse respeito na teologia, dentre as quais podemos destacar a eleição incondicional dentro do calvinismo;17 o pedobatismo no sistema sacramentalista; a fé preconsciente; a presciência de Deus a respeito de como a criança teria vivido, dentro de alguns círculos arminianos; a graça preveniente na crença armínio-wesleyana; e a graciosidade específica para crianças e incapazes.18
Considerações finais
A doutrina do pecado original é inquestionável. O homem pende para o mal, inclina naturalmente para a carnalidade e suas decisões são malévolas, embora não tão más quanto poderiam ser. Essa pecaminosidade deixou o homem num estado de separação de Deus, totalmente depravado e morto em seus delitos e pecados, o que torna-o por conseguinte, filho da ira. A Bíblia é clara: “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5.12).
Entretanto, há uma boa notícia, pois “não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou para com muitos (…) assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também veio a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor” (vv. 15,21). Por Adão veio a morte, mas por Cristo a ressurreição! Por Adão entrou o pecado, mas por Cristo a vivificação! O primeiro Adão, alma vivente. Mas o último… Espírito vivificante!
Notas

1BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Cultura Cristã, 2012, p. 227.
2WILEY, Orton H. Introdução à teologia cristã. Casa Nazarena de publicações, 2009, pp. 187,188.
3 MARINO, Bruce. Origem, natureza e consequências do pecado. In: HORTON, Stanley (Org.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. CPAD, 1996, pp. 269-271.
4 SPROUL, R. C. Boa Pergunta! Cultura Cristã, 1999, p.98.
5 Conferir a expressão Péché originel na Encyclopædia Universalis.
6 Conferir FISHER, Gary. As Crianças nascem no pecado? Acesso em 12 de Junho de 2014; Igreja Monte Sião. A natureza do pecado infantil e suas explicações. Acesso em 12 de Junho de 2014; RUFINO, Natan. Realidades da nova criação. Apostila.
7 MCGIFFERT, Arhur Cushman. A History of Christian Thought, Volume 2. Charles Scribner’s Sons, 1953, p. 125.
8 KELLY, J. N. D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã. Vida Nova, 1994, p. 270.
9 COUTO, Vinicius. Livre-arbítrio: uma introdução ao conceito histórico do arminianismo. Acesso em 12 de Junho de 2014.
10 KELLY, J. N. D. Op. Cit., pp. 289-291.
11 WILEY, H. Orton. Christian Theology. Beacon Hill Press, 1941. p.103.
12 BERKHOF, Louis. Op. Cit., p. 229.
13 HANKO, Ronald. Doctrine According to Godliness. 2004, Reformed Free Publishing Association, pp. 113,114.
14 BERKHOF, Louis. Idem.
15 Vale a ressalva de que, tanto a teologia calvinista quanto a teologia arminiana (clássica e wesleyana) acreditam na depravação total do homem. As ideias de que o homem está doente espiritualmente e que ele foi parcialmente afetado pelo pecado de Adão correspondem ao semi-pelagianismo, heresia já comentada acima e que ganhou grande popularidade entre os evangelicais através dos ensinos do avivalista Charles Finney. Atualmente muitos cristãos que se intitulam arminianos defendem equivocadamente a ideia semi-pelagiana da depravação parcial, confundindo esse ponto na teologia arminiana. Para uma melhor compreensão da doutrina da depravação total, conferir COUTO, Vinicius. Conhecendo o arminianismo (parte 3) – Depravação Total. Acesso em 12 de Junho de 2014.
16 As principais bases bíblicas para salvação das crianças são 2 Sm 12.22,23; Mt 18.1-6 e 19.13-15.
17 Apesar da crença na eleição incondicional, alguns calvinistas interpretam-na de forma diferenciada em relação à salvação infantil e dos incapazes. A diferença não reside no fato da condicionalidade. Na visão dos que aceitam a salvação de todos os infantes, toda criança que morre era, na verdade, eleita. Nomes como John MacArthur, Charles Hodge, A. A. Hodge, J. Oliver Buswell, Charles Spurgeon, B. B. Warfield, e Loraine Boettner creem/criam que todos os que morrem na infância, bem como os mentalmente incapazes são salvos. Conferir em SANTOS, João Alves dos. Os que morrem na infância: são todos salvos? Uma avaliação teológico-confessional reformada. Fides Reformata, 1999, 4/2; MACARTHUR, John. A salvação dos bebês e outros “incapazes”. Acesso em 12 de Junho de 2014; SPURGEON, Charles. Infant Salvation. Sermão pregado na Metropolitan Baptist Church em 29 de Setembro de 1861; LYONS, Gordon. Pecado original. Acesso em: 12 de Junho de 2014.
18 MARINO, Bruce. Op. Cit., p. 271.

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