quarta-feira, 27 de julho de 2011

QUEM É O DEUS DAS RELIGIÕES?

Quem é o deus das religiões?

Por H. Wayne House
Tradução, Elvis Brassaroto Aleixo

Ao longo de dois milênios, a igreja cristã sempre manteve uma unidade essencial concernente à natureza de Deus como proclamado nos credos, sermões e livros. Assim como é revelado na Bíblia Sagrada, Deus é ilimitado em seus atributos, contudo pessoal em sua relação com a criação. Além disso, essa Deidade infinito-pessoal é indivisível em sua natureza e essência, não obstante existir eterna e simultaneamente como Pai, Filho e Espírito Santo.

Várias falsas religiões na história da igreja, inclusive alguns grupos contemporâneos, repudiaram o verdadeiro conhecimento de Deus apresentado pela Bíblia. Esses erros geralmente consistem em mudanças extremistas. Geralmente, os cultos e religiões vêem Deus como infinito, mas não pessoal, ou pessoal, mas não infinito. Outros cultos e religiões negam a doutrina da Trindade, compreendendo o divino como consistindo em vários deuses e, quando não, interpretam a divindade como meras manifestações de uma só pessoa, ou ainda negando a legítima divindade de Jesus e do Espírito Santo.

Recentemente, até mesmo alguns evangélicos têm abraçado algumas dessas perspectivas incorretas sobre Deus.1 A razão para os erros que surgiram é a tentativa de se entender Deus sem a ajuda da revelação divina, ou seja, a razão humana combatendo contra a revelação clara de Deus encontrada nas Sagradas Escrituras. Assim, estas compreensões desequilibradas e heréticas acerca de Deus somente poderão ser evitadas se as pessoas permitirem que a Bíblia dê seu veredicto, não forçando a interpretação para que haja uma conformação com a razão humana, mas aceitando sua sentença como revelação divina. Este foi o testemunho da igreja ortodoxa pelos séculos e deve ser nossa posição hoje.

Um Deus pessoal e infinito

O apóstolo Paulo, em sua primeira epístola aos cristãos de Corinto, disse: “Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1Co 8.5,6).

O que Paulo deixou claro nessas palavras é que somente o fato de usar o termo Deus ou Senhor, ou ter objetos de adoração, não significa, necessariamente, estar falando do mesmo ser divino. A importância de conhecer e adorar o verdadeiro Deus, o único revelado pela Bíblia, é essencial nestes dias de pluralismo religioso que estamos vivendo. Esta relação entre a fé bíblica e as religiões não-cristãs pode ser perigosa para a promoção da verdade e causar confusão para o entendimento do verdadeiro evangelho.

A concepção histórica de Deus mantém um equilíbrio de idéias que revelam sua majestade de maneira contrária ao que é apresentado nas religiões não-cristãs do mundo.2

Esta matéria demonstrará que a concepção que Deus retratou na Bíblia está entre os extremos teológicos dentro das falsas religiões e especialmente nos cultos. O Deus da Bíblia é pessoal e infinito, a Trindade é a união de três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, em uma única divindade, sendo iguais, eternas, da mesma substância, entretanto distintas, sendo Deus cada uma dessas pessoas (Mt 28.19; Ef 4.4-6). Examinaremos as perspectivas das várias religiões, contrastando suas visões com os ensinos bíblicos e sugestionando razões para tais erros doutrinários.

Conceitos errôneos sobre Deus

Apontaremos alguns grupos religiosos representando-os por meio dos conceitos pelos quais distorceram a natureza e a personalidade de Deus.

Crença em uma deidade pessoal-finita

Se desejamos ter comunhão com Deus e acreditamos em sua ação em nossos momentos de necessidade, o reconhecimento de que Ele é pessoal torna-se fundamental. Até mesmo a própria designação de Deus como “Pai” revela que Ele ama e cuida de seus filhos, atitude esta que o título “Criador” não consegue denotar. Além disso, Jesus, o filho de Deus, nos diz que devemos orar ao “Pai”, pois Ele nos imputa imenso valor (Mt 10.29) e que este mesmo “Pai” galardoará aqueles que lhe pedirem (Mt 7.11). Esse aspecto de Deus é concordado pela maioria dos grupos “cristãos”.3 Já os grupos influenciados pelo gnosticismo4 ou pelas religiões orientais parecem rejeitar a natureza pessoal de Deus, enquanto aqueles que a aceitam acabam erroneamente enxergando esta deidade com várias limitações.

Concepções de um deus finito são cridas pelos mórmons e pelas testemunhas-de-jeová. A teologia mórmon necessita de um deus finito, pois crêem que deus evoluiu e que ele realmente foi um homem assim como nós: “Deus foi uma vez como somos agora, ele é um homem exaltado...”.5 Além disso, possuindo corpos físicos, 6 os deuses mórmons também não são onipresentes: “Deus não é onipresente [...] não pode estar fisicamente presente em mais de um lugar ao mesmo tempo”. 7 E este conceito inclui o Espírito Santo.8 O deus mórmon também é limitado em outros sentidos, pois não é onisciente, 9 não é eterno, 10 e não é imutável.11

A falha das testemunhas-de-jeová em expor os atributos de Deus não é tão explícita quanto vemos no mormonismo; no entanto, elas também rejeitam alguns dos atributos infinitos da Deidade. Embora aceitem a onipotência de Deus, 12 as testemunhas-de-jeová revelam dificuldades com sua onisciência13 e onipresença. 14 De acordo com o pesquisador David Sherril, apologista que estuda o jeovismo, a rejeição à onipresença de Deus se deve à convicção da Sociedade Torre de Vigia (STV) em ensinar que todos os seres têm de possuir algum tipo de corpo, seja físico ou espiritual, fazendo que seus seguidores concebam Deus localizado em um determinado lugar.15 Considerando que Deus seguramente está em um trono no céu, Ele não pode estar em todos os outros lugares; por conseguinte, é o poder dele que está em todos os lugares, não sua pessoa.16

Crença em uma deidade impessoal-infinita

Os tipos de grupos religiosos discutidos anteriormente são considerados heterodoxos, pois distorcem a concepção da Deidade; entretanto, mesmo com tais divergências, podem ser classificados, em certo sentido, como grupos que observam “cultos cristãos”.17 Isso se deve à semelhança de nomenclatura cristã empregada por tais grupos em seus cultos. Por outro lado, religiões que proclamam uma deidade impessoal, mas infinita, geralmente refletem uma concepção gnóstica ou oriental de Deus, utilizando a terminologia cristã para se enredar com maior facilidade na cultura ocidental.

Defensores de um deus impessoal e infinito são facilmente encontrados nos campos da “metafísica” ou “ciência da mente”; também compartilham dessa concepção os diversos segmentos da Nova Era, que têm se proliferado rapidamente nas últimas décadas sob a máscara de uma ampla variedade de nomes. Esses compartilham a perspectiva de que Deus não é pessoal, 18 conceituando-o como a essência de toda a realidade que está na mente ou na consciência.19 Essa visão geralmente se identifica com o panteísmo, ensinamento que prega que Deus é infinito porque tudo é Deus e Deus é tudo. A Ciência Cristã, um dos grupos que crêem na chamada “ciência da mente”, também não acredita em Deus como um ser pessoal e define a Trindade nos termos de vida, verdade e amor.20

A espiritualidade da Nova Era vem em grande parte da religião oriental e, por conseguinte, envolve o monismo21 e o panteísmo. Isso acabou “ocidentalizando” a perspectiva religiosa oriental que acredita que Deus é tudo aquilo que existe e que tudo e todo mundo é Deus. Vemos esse conceito demonstrado de forma interessante em uma declaração famosa do Upanishads, antiga escritura do hinduísmo, repetida pelo “guru” Maharishi Mahesh Yogi: “Eu sou aquilo, você é aquilo, tudo isso é aquilo, aquilo sozinho está, e não há mais nada além daquilo”.22

Crença no modalismo

Conforme esta crença, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são apenas três aspectos da divindade, sendo, portanto, uma só Pessoa, ou seja, ensinam que as três pessoas da Trindade se manifestavam de vários modos, daí o nome modalista, conhecido atualmente como Sabelianismo por ter sido um ensino propagado pelo bispo Sabélio.

A Igreja Local, fundada por Witness Lee, é um claro exemplo da visão modalista de Deus. Outros grupos que possuem a mesma concepção são: Tabernáculo da Fé, fundado por William Marrion Braham; Só Jesus, fundado por John Schepp; e Voz da Verdade, 23 fundado por Carlos Moysés, entre outros.

Crença no politeísmo

Provavelmente, nenhum culto contemporâneo é mais famoso em sua posição politeísta do que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Os mórmons crêem na existência de milhões de deuses: “Existem mais deuses do que partículas de matéria”.24 Entretanto, apenas três — Pai, Filho e Espírito Santo — são objetos da adoração mórmon.25

Crença no arianismo

A última divergência doutrinária que inserimos nesta perspectiva histórica do cristianismo é a heresia do arianismo. Essa concepção foi condenada no famoso Concílio de Nicéia (325 d.C.).26 Na ocasião, o bispo Ário defendeu a doutrina de que o Filho de Deus era um ser criado, mas seu ensinamento foi veementemente combatido por Atanásio que, por sua vez, teve seus argumentos aceitos pelo Concílio. Atanásio ensinou que o Filho possuía a mesma essência do Pai, sendo, portanto, igualmente Deus. Meio século depois (381 d.C.), o Concílio de Constantinopla afirmou a igualdade da Deidade do Espírito Santo; Deus, então, é uma essência indivisível em três pessoas.

Sem dúvida nenhuma, o culto arianista mais difundido está atualmente representado pela Sociedade Torre de Vigia, mais conhecida pela identidade de seus seguidores, as testemunhas-de-jeová. A estratégia utilizada pela organização das Testemunhas de Jeová foi subverter a doutrina da Trindade aproveitando a grande discussão cristã acerca desse ensinamento.27 Igualmente ensinam que Jesus foi o primeiro ser criado por Deus,28 sendo um deus de categoria “inferior”, poderoso, mas não Todo-Poderoso.29

Raciocínio semelhante a este também pode ser encontrado entre o grupo dos cristadelfianos.30

Avaliação dos conceitos errôneos sobre Deus

Podemos observar nesta breve matéria que os vários cultos e falsas religiões aqui apresentados não mantêm o equilíbrio bíblico da concepção de Deus. Avaliando a questão, logicamente concluímos que há um só Deus (Dt 6.4, 1Co 8.6). E que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são chamados de Deus e possuem os atributos da Deidade (Ef 5.20; Rm 9.5; At 5.4).

Quando um culto é apresentado biblicamente com base nessas duas declarações ortodoxas, os seguidores das falsas religiões concluem que uma delas necessariamente está errada, ou seja, que existe mais de um deus (politeísmo, como vimos no mormonismo), que as três pessoas devem ser a mesma pessoa (modalismo, como vimos na Igreja Local) e/ou que o Pai é Deus e o Filho e o Espírito não possuem a mesma essência, sendo diferentes de Deus (arianismo, como vimos nas testemunhas-de-jeová). Todavia, a concepção bíblica e histórica de Deus está bem declarada no Credo de Atanásio (no qual inserimos alguns versículos bíblicos que comprovam suas declarações):

“Assim, o Pai é Deus (Ef 5.20), o Filho é Deus (Rm 9.5) e o Espírito Santo é Deus (At 5.4). E, no entanto, não são três deuses, mas um só Deus (Dt 6.4; 1Co 8.6). Igualmente, o Pai é Senhor (Ap 21.22), o Filho é Senhor (Jd 4; 1Co 8.6), o Espírito Santo é Senhor (2Co 3.17). E, no entanto, não são três senhores, mas um só é Senhor (Ef 4.5). Pois, da mesma forma que somos compelidos pela verdade cristã a reconhecer cada Pessoa, por si mesma, como Deus e Senhor, assim também somos proibidos pela religião católica (universal) de dizer: existem três deuses ou três senhores”.

O mesmo pode ser esclarecido sobre o fato de Deus ser infinito e pessoal ao mesmo tempo. A Bíblia revela que Deus é transcendente sobre todo o universo (Sl 57.11; Zc 14.9) e que Deus está intimamente envolvido com o universo (Gn 1.1; Sl 113.6). Ele é o Criador do tempo e do espaço, por isso Ele transcende o universo. Como pode tal Deus realmente estar interessado em nós ou se envolver com nossas vidas, até mesmo a ponto de enviar seu Filho (Deus) para compartilhar nossa humanidade e sofrimento? Não podemos compreender o amor de Deus, mas a Bíblia, infalível em suas declarações, nos conduz à conclusão de que ambas as dimensões de Deus são verdadeiras. A doutrina bíblica inspirada por Deus tem capacidade plena de conciliar harmoniosamente os “elementos divergentes” (para alguns) da infinidade divina com o relacionamento pessoal, elementos indispensáveis para o genuíno sentido da adoração.

Temos de nos centrar em Deus, não no homem. Os cristãos ortodoxos estão dispostos a aceitar o ensinamento bíblico sobre Deus até mesmo quando eles não podem explicar todos os aspectos de sua revelação. Às vezes, podemos entender o “qual”, mas não podemos entender o “como”, ou, freqüentemente, o “porquê”. Deus simplesmente quer que confiemos em sua Palavra. A diferença entre a verdadeira religião e a falsa religião é a adesão à ego-revelação de Deus na Bíblia, ou seja, as interpretações que revelam um deus que satisfaça nossas limitações em entendê-lo. É a rejeição da adoração ao Deus Santo apresentado pela Bíblia para fabricar um deus sob as concepções humanas, o que, como analisamos, podemos considerar a causa dos erros que se desenvolveram desde o início da igreja primitiva e continua nos assolando até hoje.

PASTOR: EDIVALDO PEREIRA

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