segunda-feira, 27 de junho de 2011

HERMENÊUTICA

HERMENÊUTICA E EXGESE BIBLICA

Atos 8.30 “Compreendes o que vens lendo?”
Fazer hermenêutica é saber que só existe elefante de quatro pernas. Embora, muitos hermeneutas têm visto elefantes de cinco ou mais pernas. Às vezes o que você pensa que vê não condiz com a realidade. Todo cuidado é pouco.

DEFINIÇÕES:

HERMENÊUTICA: A palavra hermenêutica significa explicar, interpretar ou expor. Do grego ερμηνευειν − hermeneuein = INTERPRETAR. Nas Escrituras é usado em quatro versículos: João 1.42; 9.7; Hebreus 7.2 e Lucas 24.27. O termo Hermenêutica, portanto, descreve simplesmente a prática da interpretação.

EXEGESE: do Grego εξηγησιs − exégesis ek+egéomai, penso, interpreto, arranco para fora do texto. Não se trata de pôr algo no texto (eis-egesis) e sim de tirar o que já existe no texto (exegeses).

Uma das Funções do pastor ou pregador leigo é explicar (interpretar) a Bíblia – Ne 8.8 “A missão do intérprete é servir de ponte entre o autor do texto e o leitor“. (J.Martínez, Hermenêutica Bíblica, p. 34)

ALGUNS TERMOS IMPORTANTES E SEUS SIGNIFICADOS

Antilegomena = Escritos bíblicos que em certo momento foram questionados;
Apócrifos = Livros supostamente do Antigo Testamento, mas que não possuem embasamento para comprovar a autenticidade quanto a seu caráter profético;
Cânon = Do grego “kánon”, e do hebraico “kaneh”, regra; lista autêntica dos Livros considerados como inspirados;
Epístolas = Cartas;
Evangelho = Boas Novas;
Homologomena = Livros bíblicos aceitos por todos e que em momento algum foram questionados;
Paráfrase = Tradução livre ou solta, onde o objetivo é traduzir a idéia e não as palavras;
Pseudo-epígrafos = Falsos escritos. Livros não bíblicos, cujos escritos se desenvolvem sobre uma base verdadeira, seguindo caminhos fantasiosos;
Septuaginta = LXX de Alexandria. Bíblia traduzida para o grego por judeus e gregos de Alexandria, incluindo os Livros apócrifos;
Sinópticos = Síntese. Os três primeiros evangelhos são chamados de evangelhos sinópticos, pois sintetizam a vida de Jesus de forma harmoniosa;
Testamento = Aliança, Pacto, Acordo;
Tradução = Transliteração de uma língua para outra;
Variantes = Diferenças encontradas nas diferentes cópias de um mesmo texto, mediante comparação. Elas atestam o grau de pureza de um escrito;
Versão = Tradução da língua original para outra língua.


PRESSUPOSTOS BÁSICOS QUE DEVEMOS TER PARA FAZER UMA BOA EXEGESE.
(ninguém faz exegese sem pressupostos)

A existência de Deus Deus existe e atua na história. Milagres e profecia são possíveis. Portanto, podemos interpretar os relatos da atividade sobrenatural de Deus como história e não mito.
Revelação Progressiva Deus se revelou progressivamente. A revelação não foi dada de uma única vez. Portanto, devo ler o texto bíblico comparando as suas diferentes partes considerando a unidade.
Inspiração e Autoridade Os escritores bíblicos foram movidos pelo Espírito, de tal forma que seus escritos são inspirados por Deus. Portanto, são autoritativos e infalíveis.
História da Redenção A Bíblia deve ser lida como o registro dos atos redentores de Deus na história. Portanto, a Bíblia deve ser lida não como um manual de ciências, astronomia, geografia ou física, mas como um livro teológico.
Cristo Devemos ler a Bíblia sabendo antecipadamente que Cristo é a substância de todos os tipos e símbolos do AT, do pacto da graça e de todas as promessas. Cristo, portanto, é a própria substância, centro, escopo e alma das Escrituras.
Cânon O cânon protestante das Escrituras é a coleção feita pela Igreja de livros que ela reconheceu que foram dados pela inspiração de Deus. Cada livro deve ser lido e entendido dentro deste contexto canônico, que é o contexto apropriado para a interpretação.

ATITUDES ERRADAS FRENTE À BÍBLIA

O RACIONALISMO – coloca a mente humana acima da revelação divina. Tira tudo o que é tido como sobrenatural, como os milagres.
O MISTICISMO – coloca os sentimentos ou a experiência humana acima da revelação de Deus. O neo-pentecostalismo extremado, por exemplo, que aceita as “novas revelações” em detrimento às Escrituras.
O ROMANISMO – põe a igreja acima da Bíblia. A tradição e as declarações papais “ex cátedra”, tem a mesma autoridade da Bíblia.
AS SEITAS – elevam os escritos de seu fundador acima das Escrituras. Ex: Mormonismo, Tabernáculo da fé, Adventismo, Testemunhas de Jeová etc.
A ALTA CRÍTICA – coloca as pressuposições do crítico liberal acima da Bíblia. Colocam às Escrituras em pé de igualdade com qualquer outro livro. Ou a Bíblia está acima de qualquer livro ou não é o livro de Deus.
A NEO-ORTODOXIA – diz que a Bíblia não é a Palavra de Deus, senão que se transforma em Palavra de Deus quando fala ao coração do leitor. De maneira sutil, se transmite assim a autoridade das Escrituras ao leitor, onde à luz de “seu coração” se quando Deus fala e quando não. (contra Jr 17.9).
OUTRAS “ESCRITURAS” – Com freqüência se diz que a Bíblia é só mais um livro sagrado. Se afirmar que as outras religiões também têm suas escrituras autoritativas. É evidente que nenhuma destas «escrituras», com exceção do Alcorão, pretende ser uma revelação de Deus.

VERDADE DE DEUS
REVELAÇÃO
INSPIRAÇÃO
PRESERVAÇÃO
TRADUÇÃO
INTERPRETAÇÃO
POVO DE DEUS HOJE
Estágios da Verdade Divina
Como a verdade chegou até nós

A VERDADE ABSOLUTA existe na mente de Deus
Pela REVELAÇÃO a verdade vem à mente do escritor numa forma antropomórfica
Pela INSPIRAÇÃO essa revelação se torna Escritura que é infalível e inerrante
Pela PRESERVAÇÃO temos os presentes textos que devem ser comparados para serem exatos em sua essência
Pela TRADUÇÃO obtemos nossas versões no vernáculo que nós tentamos tornar essencialmente fiéis
Pela INTERPRETAÇÃO a revelação vem à mente dos leitores apresentando a verdade original que veio da mente de Deus

OS DISTANCIAMENTOS:

Distanciamento temporal – A Bíblia está séculos distante de nós.
Distanciamento contextual – Os livros da Bíblia foram escritos em várias situações diferentes.
Distanciamento cultural – O mundo em que os escritores da Bíblia viveram já não existe.
Distanciamento lingüístico – As línguas em que a Bíblia foi escrita também já não existem.
Distanciamento autorial – Os autores já estão mortos.
A natureza divina da Bíblia, por sua vez, provoca outros tipos de distanciamentos:

Distanciamento natural – a distância entre Deus e nós é imensa.
Distanciamento espiritual — somos pecadores.
Distanciamento moral – é a distância que existe entre seres pecadores e egoístas e a pura e santa Palavra que pretendem esclarecer.

HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA – PRINCÍPIO

Esdras – Ne 8.8 “Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia”.
No tempo de Cristo, a exegese judaica podia classificar-se em 4 tipos:
1. Método Literal – referido como peshat (despir, depenar). Não se procurava um sentido além da passagem bíblica.
2. Interpretação Midráshica – rabi Hillel. Era mais espiritualista perdendo a visão do texto.
3. Interpretação Pesher – comunidades de Qumran. Era midráshica mais com enfoque escatológico. Mais aplicação do que interpretação.
4. Exegese Alegórica – o verdadeiro sentido jaz sob o significado literal das Escrituras. O alegorismo foi desenvolvido pelos gregos.
Os rabinos usavam às vezes peshat, outras vezes, midrash.
Filo (c. 20 a.C. – c. 50 d.C.) Acreditava que o significado literal era para os imaturos e o alegórico para os maduros. Filo considerava a história de Adão e Eva uma fábula. E outras passagens como mito.

HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA

Do 2º ao 4º século

Escola de Alexandria
Clemente
Origines
Escola de Antioquia
Luciano
Em termos práticos, Alexandria nos ensina a ter cautela com a interpretação dos “espirituais”. Antioquia nos ensina: Evitar a subjetividade descontrolada
PAIS LATINOS – AGOSTINHO E JERÔNIMO

Principais Características Hermenêuticas

Preferência pelo Literal

Contexto histórico
Intenção autoral
Alegorias ocasionais
Escritura com Escritura
Regra de Fé da Igreja
REGRAS DE INTERPRETAÇÃO DE AGOSTINHO

1. O intérprete deve possuir fé cristã autêntica;
2. Deve-se ter em alta conta o significado literal e histórico da Escritura;
3. A Escritura tem mais que um significado e, portanto, o método alegórico é adequado;
4. Há significado nos números bíblicos;
5. O A. T. é um documento cristão, porque Cristo está retratado nele;
6. Compete ao expositor entender o que o autor pretendia dizer;
7. O intérprete deve consultar o verdadeiro credo ortodoxo;
8. Um versículo deve ser estudado em seu contexto, e não isolado dos demais que o cercam;
9. Se o significado de um texto é obscuro, nada na passagem pode constituir matéria de fé ortodoxa;
10. O Espírito Santo não toma o lugar do aprendizado necessário para se entender a Escritura. O intérprete deve conhecer hebraico, grego, geografia e outros assuntos;
11. A passagem obscura deve dar preferência à passagem clara;
12. O expositor deve levar em consideração que a revelação é progressiva.

(na prática, Agostinho renunciou à maioria de seus princípios e inclinou-se para uma alegorização excessiva).
AS ESCOLAS DE INTERPRETAÇÃO

As escolas de teologia – nas catedrais. Surgem como contraponto aos mosteiros

O judeu Rashi (Rabi Salomão bem Isaque – 1040-1105)
Comentarista da Bíblia Hebraica e Talmude Babilônico

Publicação da obra de Maimônides (1135-1204) – “Guia para os perplexos“. A lei pode ser aplicada e interpretada literalmente

Surgimento das ordens mendicantes
Francisco de Assis – Interpretação literal dos Evangelhos.

Tradução das Escrituras para o vernáculo
João Wycliffe – (1328-1384) Tradução da Vulgata latina para o inglês.
O ressurgimento na Idade Média do interesse do método gramático-histórico contribuiu para a Reforma.

IDADE MÉDIA
(Séc. 5º ao 16º)
Prevaleceu o Sistema de Interpretação Difundido por Alexandria. Antecipou os princípios histórico-gramaticais dos Reformadores
João Cassiano (435 AD) – Quadriga:
Histórico ou literal – o sentido óbvio do texto
Alegórico ou cristológico – sentido mais profundo. Aponta para Cristo
Tropológico ou moral – conduta do cristão
Anagógico ou escatológico – o que o cristão devia esperar
As Escrituras possuem diversos sentidos
Bernardo de Claraval
Nicolau de Lira
Boa ventura
O MÉTODO DE CALVINO

A Hermenêutica de Lutero
Entre a hermenêutica medieval e a obra de Calvino, devemos situar o trabalho e Martinho Lutero (1438-1546). Com o afã de viver de acordo com o modelo de Agostinho (354-430), Com a Reforma a Bíblia toma o lugar que antes pertencera à hierarquia Católica Romana. Lutero não se viu livre da alegoria. Seu trabalho, contudo, trouxe inestimáveis contribuições à igreja cristã.
Calvino e seu uso do método Histórico-Gramatical
Calvino faz um uso mais desenvolvido do método histórico-gramatical. Ele tenta levá-lo às últimas conseqüências e manter uma coerência metodológica ao analisar textos do Novo e do Antigo Testamento. Por estas razões não é exagero dizer que ele foi o maior pensador de seus dias e o grande exegeta da Reforma.
Princípios da Hermenêutica de Calvino
1. Renúncia à alegorese e enfática denúncia da mesma como sendo uma arma de deturpação do sentido da Escritura
2. Ênfase no sentido literal do texto
Calvino defende que cada texto tem um, e somente um, sentido, que é aquele pretendido pelo autor humano. Ele esclarecia aos seus leitores que há passagens que são nitidamente figurativas e outras simbólicas, estas devem ser interpretadas como demonstra ser a intenção do autor.
3. Dependência da operação do Espírito Santo para a correta interpretação da Bíblia
4. Valorização do estudo das línguas originais para melhor compreensão do ensino sagrado
5. Tipologia equilibrada, evitando impor a textos veterotestamentários simbolismos que eles não suportam
6. A melhor arma para interpretar a Bíblia é a própria Bíblia Este tem sido considerado o princípio áureo da hermenêutica reformada.

OS REFORMADORES: CARACTERÍSTICAS

Ênfase no Literal
Iluminação do Espírito Santo
Estudos das Escrituras – Escritura com Escritura
Intenção Autoral
Uso de Outras Fontes
Linguagem Figurada
Os reformadores desenvolveram um sistema de interpretação que representou um rompimento radical com a hermenêutica alegórica medieval.
Rejeição do método alegórico e ênfase no sentido literal, gramático-histórico do texto.
Uma passagem só tem um sentido, e esse é literal.
A necessidade da iluminação do Espírito Santo
O homem é caído – A Escritura é divino-humana
A necessidade de se estudar as Escrituras
A Bíblia é um livro humano. Divino quanto à origem. A intenção do autor humano
Possui passagens obscuras que precisam ser esclarecidas
Necessidade de uma teologia sistemática
MODERNIDADE

Racionalismo X Empirismo
Descartes Locke
Spinoza Berkeley
Leibniz Hume
Mesmo sendo teoricamente contrárias entre si, as duas filosofias concordavam que Deus tem de ficar de fora do conhecimento humano
Impacto do Iluminismo
Rejeição dos Milagres
Distinção entre Fé e História
Erros nas Escrituras
Exegese Controlada Pela Razão
Surgimento das Metodologias Críticas
Críticas das Fontes
Crítica da Forma
Crítica da Redação
PÓS-MODERNISMO

O Iluminismo e Racionalismo
O surgimento do Método Histórico-Crítico da Bíblia está associado às mudanças que ocorrem no pensamento humano e, conseqüentemente, na cosmovisão da época.

Iluminismo: Início do Séc. XVIII
Revolta contra a religião institucionalizada
Filosofias:
Racionalismo: Descartes, Spinoza e Leibniz
Empirismo: Locke, Berkeley e Hume
Deus: uma hipótese desnecessária
Teologia: Deísmo: Deus não intervém na história (Início da teologia liberal).

Características:
Rejeição do sobrenatural e da revelação
O sobrenatural não invade a história
História: resultado de causa e efeito
Os relatos históricos da Bíblia são construções do povo de Israel e da Igreja Primitiva
A exegese é controlada pela razão
- Razão: a medida suprema da verdade
- Fé + Racionalismo = Método Histórico-Crítico

RESUMO DA HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO

Na Idade Antiga Alegoria
Na Idade Médio Dogma
Na Reforma Escritura
Pós-Reforma Confissões
Período Moderno Razão

O AUTOR COMO DETERMINANTE DO SIGNIFICADO

O significado é aquele que o escritor, conscientemente, quis dizer ao produzir o texto. É importante verificar o que o autor disse em outro escrito. O que Lucas registrou em seu Evangelho poderá ser mais esclarecedor se comparado com Atos, outro registro de Lucas. Devemos levar em conta os idiomas da época: aramaico, hebraico e grego. Eles possuem um significado que não pode variar. Por outro lado, o texto está limitado ao que o autor disse exatamente? Por exemplo: lemos em Efésios 5.18: “Não vos embriagueis com vinho”. Alguém poderia dizer: “Paulo proíbe que nos embriaguemos com vinho, mas acho que não seria errado embriagar-se com cerveja, rum, ou outra droga”. Os escritos do apóstolo vão além de sua consciência, embora essas implicações não contradigam o significado original, antes fazem parte do texto e seu objetivo. Compreendemos então o mandamento paulino como um princípio, pois mesmo que o autor não esteja ciente das circunstâncias futuras, ele transmitiu exatamente a sua intenção.

O TEXTO COMO DETERMINANTE DO SIGNIFICADO

Alguns eruditos afirmam que o significado tem autonomia semântica, sendo completamente independente do que o autor quis comunicar quando o escreveu. De acordo com esse ponto de vista, quando um determinado escrito se torna literatura, as regras normais de comunicação não mais se lhe aplicam, transformou-se em texto literário. O que o texto está realmente dizendo sobre o assunto? Analisando o relato em Marcos 4.35-41 Qual é o objetivo do texto? Informar sobre a topografia do mar da Galiléia ou o mal tempo naquela circunstância? Seu objetivo era falar sobre Jesus Cristo, Filho de Deus. O significado que Marcos queria transmitir está claro: “Mas quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (4.41). O autor queria transmitir que Jesus de Nazaré é o Cristo, o Filho de Deus. Ele é o Senhor e até mesmo a natureza está sujeita a ele!

O LEITOR COMO DETERMINANTE DO SIGNIFICADO

Segundo essa perspectiva, o que determina o significado é o que o leitor compreendedo texto. O leitor atualiza a interpretação do texto. Leitores distintos encontram diferentes significados, isso porque o texto lhes concede permitir essa multiplicidade. É relevante o que pensa o leitor? Isto poderia influenciar o sentido do texto? Se compreendermos que há diferença de interpretação entre um leitor crente e outro que é ateu, a resposta é sim! Contudo, é necessário que o leitor esteja em condições de entender o texto. Ao verificar como as palavras são usadas nas frase, como as orações são empregadas nos parágrafos, como os parágrafos se adequam aos capítulos e como os capítulos são estruturados no texto, o leitor procurará compreender a intenção do autor. O texto, em sua íntegra, ajudará o leitor a compreender cada palavra individualmente. Assim sendo, as palavras, ou conjunto de palavras, ajuda a compreender o todo.


O PROCEDIMENTO EXEGÉTICO ERRADO

O procedimento errado.
Ler o que muitos comentários dizem com sendo o significado da passagem e então aceitar a interpretação que mais lhe agrade.
Este procedimento é errado pelas seguintes razões:
A) encoraja o intérprete a procurar interpretação que favorece a sua preconcepção;
(b) forma o hábito de simplesmente tentar lembrar-se das interpretações oferecidas. Isto para o iniciante, freqüentemente resulta em confusão e ressentimento mental a respeito de toda a tarefa da exegese.
Isto não é exegese, é outra forma de decoreba e é muito desinteressante e perigoso. Os comentaristas não são infalíveis.
O péssimo resultado e mais sério do “procedimento errado” na exegese é que próprio interprete não pensa por si mesmo. As convicções que você mesmo buscou e absorveu ficam pra vida toda.
CINCO REGRAS CONCISAS

Interpretar lexicamente. É conhecer a etimologia das palavras, o desenvolvimento histórico de seu significado e o seu uso no documento sob consideração.
Interpretar sintaticamente: o interprete deve conhecer os princípios gramaticais da língua na qual o documento está escrito, para primeiro, ser interpretado como foi escrito.
Interpretar contextualmente. Deve ser mantida em mente a inclinação do pensamento de todo o documento. Então pode notar-se a “cor do pensamento”, que cerca a passagem que está sendo estudada.
Interpretar historicamente: o interprete deve descobrir as circunstâncias para um determinado escrito vir à existência.
Interpretar de acordo com a analogia da Escritura. A Bíblia é sua própria intérprete. Diz o princípio hermenêutico.

APRENDA A EXAMINAR O CONTEXTO

Contexto Imediato
A. Leia a passagem em pelo menos três traduções diferentes.
B. O que precede e se segue imediatamente à passagem?
C. Há algumas definições fornecidas pelo contexto imediato?
D. Qual é o argumento principal do capítulo inteiro?
E. Qual é o ponto principal da própria passagem?
F. Qual é o entendimento consistente da passagem no contexto?
Contexto Amplo
A. A minha interpretação faz essa passagem contradizer com
1. O próprio autor?
2. Outras passagens bíblicas?
3. Com o bom senso?
B. Quais outras passagens na Escritura lançam luz sobre os assuntos levantados nessa passagem?
ALGUMAS PERGUNTAS IMPORTANTES:

1. Quem escreveu/ falou a passagem e para quem era endereçada?
2. O que a passagem diz?
3. Existe alguma palavra ou frase nesta passagem que precise ser examinada?
4. Qual é o contexto imediato?
5. Qual é o contexto mais amplo exposto no capítulo e no livro?
6. Quais são os versículos relacionados ao assunto da passagem e como eles afetam a compreensão desta?
7. Qual é o fundo histórico e cultural?
8. Qual a conclusão que eu posso tirar desta passagem?
9. As minhas conclusões concordam ou discordam de áreas relacionadas nas Escrituras ou com outras pessoas que já estudaram esta passagem?
10. O que eu posso aprender e aplicar à minha vida?

UM PROCEDIMENTO HERMENÊUTICO DE SEIS PASSOS

1º Passo: Análise Histórico-Cultural e Contextual
Consideramos o ambiente histórico-cultural do autor para melhor compreendermos suas alusões e objetivos.
2º Passo: Análise Léxico-Sintática
Visa compreendermos a definição das palavras (lexicologia) e sua relação com as outras (sintaxe) para que entendamos melhor o sentido texto. Neste momento é fundamental um bom conhecimento de português e, se possível, de grego e hebraico.
3º Passo: Análise Teológica
Consideramos o nível de conhecimento teológico do público alvo na época em que o texto foi escrito, levando em conta os textos correlatos para seus primeiros destinatários.
4º Passo: Análise Literária
Identifica a forma ou método literário utilizado numa passagem em particular (metáforas, antropomorfismos etc.) visando uma interpretação mais adequada.
5º Passo: Comparação com Outros Intérpretes
Comparar o produto dos quatro passos acima com trabalhos de outros intérpretes sobre do mesmo texto.
6º Passo: Aplicação
Traduzir o significado original do texto, obtido pelos cinco passos acima, para a nossa própria época e cultura.
10 PROPÓSITOS DAS CITAÇÕES DO A. T.

1. Mostrar como certos eventos cumpriram predições do A.T. (Ex: Mt 21.4 e Zc 9.9).
2. Para apoiar uma verdade expressada no N.T. (Rm 1.17 e Hc 2.4).
3. Para aplicar um acontecimento do A.T. a Cristo (Mt 2.15 e Os 11.1).
4. Para mostrar um paralelo com algum acontecimento do A.T. (Rm 8.36 e Sl 44.22).
5. Para utilizar as mesmas palavras que o A.T. (Mt 27.46 e Sl 22.1).
6. Para aplicar um princípio do A.T. a uma situação do N.T. (Ro 9.15 e Ex 33.19).
7. Para apoiar uma verdade expressada no N.T. (Mc 10: e Gn 2.24).
8. Para explicar mais plenamente uma verdade do A.T. (Mt 22.43-44 e Sl 110.1).
9. Para mostrar que um acontecimento do N.T. está de acordo com um princípio do A.T. (At 15.16-17 e Amós 9.11-12).
10. Para esclarecer um princípio ou uma verdade do N.T. (Ro 10.16 e Is 53.1).

ANÁLISE LÉXICO-SINTÁTICA

a) Determinar a forma literária geral
Sentido Literal: Coroa de ouro na cabeça do rei
Sentido Figurativo: Não me chame de coroa pois eu sou muito novo.
Sentido Simbólico: “vi uma coroa de 7 pontas que eram 7 nações”.
b) Observar as divisões naturais do texto
Divisões em versículos e capítulos (úteis na localização de passagens) dividem o texto de modo antinatural.
Algumas versões mantêm a numeração, mas organizam o texto em parágrafos. Atos 8:1 depende completamente de Atos 7:60.
c) Observar os conectivos dentro de parágrafos e sentenças
d) Determinar o sentido das palavras (Ex: carne)
e) Como determinar o sentido das palavras?
Entender os estilos diversos. Determinar se a palavra está sendo utilizada como parte de uma figura de linguagem ou não.
Estudar passagens paralelas.
ANÁLISE HISTÓRICO-CULTURAL E CONTEXTUAL

a) Determinar o contexto histórico-cultural geral
• Situação política, econômica e social;
• Costumes relacionados ao texto em questão;
• Nível de comprometimento espiritual do “público alvo”.
b) Contexto histórico-cultural específico e objetivos de um livro
• Quem foi o autor? Qual era seu ambiente e sua experiência espiritual?
• Para quem estava escrevendo? (crentes fiéis, crentes em pecado, incrédulos, apóstatas, etc.)
• Qual foi à finalidade (intenção) do autor ao escrever este livro?

c) Desenvolver uma compreensão do contexto imediato
• Entender como o livro é organizado (montar um esboço por assunto);
• Saber contextualizar a passagem em análise na argumentação corrente o autor;
• Saber identificar a perspectiva do autor:
Numenológica: Perspectiva Divina, absoluta (geralmente relacionadas a questões morais);
Fenomenológica: Perspectiva humana, relativa (relacionadas a questões naturais, físicas).
d) Distinguir passagens descritivas de prescritivas
• A ação de Deus numa passagem narrativa nem sempre significa que Deus sempre opera deste modo com os crentes.
• Ações humanas descritas na Bíblia, se não forem claramente aprovadas por Deus, devem ser avaliadas. A Bíblia também registra os erros dos homens de Deus.

e) Distinguir o núcleo de ensino de uma passagem de detalhes incidentais
Ex: Uma vez que o filho pródigo voltou para o Pai sem a necessidade de um mediador, então alguém poderia concluir que Jesus não é essencial para a salvação.

f) Definir a quem se destina cada promessa, sentença, ordenança, etc.






REGRAS GERAIS DE INTERPRETAÇÃO

As regras de interpretação se dividem em quatro categorias: gerais, gramaticais, históricas e teológicas. É necessário que o estudante da bíblia se familiarize com essas regras básicas de interpretação.
1. PRINCIPIOS GERAIS DE INTERPRETAÇÃO

Regra 1: Trabalhe partindo da pressuposição de que a Bíblia tem autoridade.
Regra 2: A Bíblia é seu intérprete; a Escritura explica melhor a Escritura.
Regra 3: A fé salvadora e o Espírito Santo são-nos necessários para compreendermos e interpretarmos bem as Escrituras.
Regra 4: Interprete a experiência pessoal à luz da escritura, e não a Escritura à luz da experiência pessoal.
Regra 5: Os exemplos bíblicos só têm autoridade quando amparados por uma ordem.
Regra 6: O propósito primário da Bíblia é mudar as nossas vidas, não aumentar o nosso conhecimento.
Regra 7: Cada cristão tem o direito e a responsabilidade de investigar e interpretar pessoalmente a Palavra de Deus.
Regra 8: A história da Igreja é importante, mas não decisiva na interpretação da Escritura.
Regra 9: As promessas de Deus na Bíblia toda estão disponíveis ao Espírito Santo a favor dos crentes de todas as gerações.

PRINCIPIOS GRAITAMCAL DE INTERPREATAÇÃO

Regra 10: A Escritura tem somente um sentido, e deve ser tomada literalmente.
Regra 11: Interprete as palavras no sentido que tinham no tempo do autor.
Regra 12: Interprete a palavra em relação à sua sentença e ao seu contexto.
Regra 13: Interprete a passagem em harmonia com o seu contexto.
Regra 14: Quando um objeto inanimado é usado para descrever um ser vivo, a proposição pode ser considerada figurada.
Regra 15: Quando uma expressão não caracteriza a coisa descrita, a proposição pode ser considerada figurada.
Regra 16: As principais partes e figuras de uma parábola representam certas realidades. Considere somente essas principais partes e figuras quando estiver tirando conclusões.
Regra 17: Interprete as palavras dos profetas no seu sentido comum, literal e histórico, a não ser que o contexto ou a maneira como se cumpriram indiquem claramente que têm sentido simbólico. O cumprimento delas pode ser por etapas, cada cumprimento sendo uma garantia daquilo que há de seguir-se.





PRICIPIO HISTORICO DE INTERPRETAÇÃO

Regra 18: desde que a Escritura originou-se num contexto histórico, só pode ser compreendida à luz da história bíblica.
Regra 19: Embora a revelação de Deus nas Escrituras seja progressiva, tanto o V.T. como o N.T. são partes essenciais desta revelação e formam uma unidade.
Regra 20: Os fatos ou acontecimentos históricos se tornam símbolos de verdades espirituais, somente se as Escrituras assim os designarem.
4. Princípios teológicos de interpretação
Regra 21: Você precisa compreender gramaticalmente a Bíblia, antes de compreendê-la teologicamente.
Regra 22: Uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a não ser que resuma e inclua tudo o que Escritura diz sobre ela.
Regra 23: Quando parecer que duas doutrinas ensinadas na Bíblia são contraditórias, aceite ambas como escriturísticas, crendo confiantemente que elas se explicarão dentro de uma unidade mais elevada.
Regra 24: Um ensinamento simplesmente implícito na Escritura pode ser considerado bíblico quando uma comparação de passagens correlatas o apóia.
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
BERKHOF, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004.
FEE, Gordon D. e STUART, Douglas. Entendes o Que Lês? São Paulo: Editora Vida Nova, 1982.
GEISLER, Norman. e HOWE, Thomas. Manual Popular de Dúvidas Enigmas e “Contradições” da Bíblia. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2001.
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004.
VANHOOZER, Kevin. Há um Significado Neste Texto? São Paulo: Editora Vida, 2005.
VIRKLER, Henry. Hermenêutica Avançada: Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. São Paulo: Editora Vida, 2001.

CURSO DE EXEGESE E HERMENÊUTICA

Elaborado por: Pr. Edivaldo Pereira de Souza

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